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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Conflito laboral na empresa G4S, em Maputo. Os trabalhadores manifestam-se (com violência?, assim me parece pois as instalações da empresa estão devastadas) e negoceiam com a administração. Esta protela hipotéticas resoluções. Nada de novo, o registo habitual por esse mundo. Depois a polícia bate nos trabalhadores. Está a ecoar a sua cultura, da punição física. Muitos que criticam os incidentes mostrados neste filme defendem no privado o castigo corporal nas esquadras [Um dia, há anos, eu vi uma mão cheia de intelectuais e artistas moçambicanos louvando o abate de quatro assaltantes a uma casa de câmbios na Julius Nyerere. Estávamos sobre os cadáveres dos bandidos, e eles eufóricos. O gajo da "direita suave" é, claro, o jpt ...].
Estes acontecimentos da G4S remetem-me para bem mais do que a denúncia da violência policial. Insisto, esta faz parte da cultura profissional e é acarinhada pela população - que quantas vezes a exige ou solicita. Porventura tratar-se-á de apelar a uma mudança cultural na corporação, autonomizando-o radicalmente das concepções populares (e burguesas) do exercício da justiça e punição.
Mas há algo muito mais importante do que isso: os batidos são empregados de uma empresa de segurança. Esse ramo de actividade que prolifera em todo o mundo, e com vigor em Moçambique. Trata-se da privatização da segurança pública (e, até certo ponto, do abdicar do Estado, tendencial que seja, do seu monopólio de violência legítima). Nesse contexto, sociologicamente tão relevante, colocar a polícia contra os seus "concorrentes" - quantas vezes antigos militares e antigos políticas - é, para além de uma afirmação de um Estado-patrão (nunca a polícia bate nas administrações ou nos patrões), um perigoso exercício. A reflectir no assunto, parece--me.
jpt