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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
«Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo.» Desde que cheguei a Portugal, há ano e meio, que vivo uma dualidade em relação ao «espectáculo do mundo». Como um doente bipolar. Sem saber se rir ou chorar, enraivecer ou serenar. Na maioria das vezes, perplexo com o que leio e oiço.
E é com este pasmo que assisto diariamente ao que é reportado da detenção de Dominique Strauss-Kahn. A caricatura jornalística da enviada da RTP (ninguém lhe diz que em inglês a palavra island deve ser pronunciada iland, ou da existência de uma palavra mais curta em português que é ILHA?). A indignação dos «fazedores de opinião» pela forma como a justiça e polícia americana têm tratado Kahn, apelidando-a de «justiça faroeste». A de políticos transformados em comentadores, com um sorriso entre o cínico e o descansado (como quem diz «felizmente vivo aqui, e não lá»), a considerarem a acção da polícia estado-unidense digna de um regime «fascista». Os mesmos que recentemente rejubilavam com o espectáculo da prisão de Bernard Madoff. Avaliando a mesma justiça de «a mais democrática do mundo», entre outras preciosidades.
Indiferente, contesto, e apenas referindo um jornal diário de hoje, que o verdadeiro «Faroeste» é aqui:
- O primeiro-ministro demissionário, José Sócrates, rejeita a participação num plano de privatização da companhia Águas de Portugal (AdP), em 2000. Mas afirma «que pensou, isso sim, foi em fazer uma parceria estratégica com a EDP, porque quer a EDP, quer a AdP tinham alguma coisa a ganhar na altura» (e nós, o que é que tínhamos a perder?).
- O Presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, condenado por crimes de «fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva, …», volta a recorrer da sentença, que de recurso em recurso vai diminuindo drasticamente (de sete para dois anos no anterior).
- Miguel Relvas, secretário-geral do PSD, reconhece no julgamento do caso Portucale (ontem), que abandonou o Governo em 2004 (governo de gestão PSD-CDS) para «acelerar e criar condições para que alguns processos (?) fossem resolvidos».
- Na Madeira o PSD rejeita no Parlamento local a «constituição de uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades pelos efeitos da tragédia de 20 de Fevereiro de 2010».
- Nos Açores, o Governo Regional, PS, cria mais uma parceria público-privada para «construir e explorar equipamentos para dar resposta a necessidades sociais da região». Recorrendo, mais uma vez, a empréstimos externos. Amanhã, o espectáculo prosseguirá. Ou, como certamente diria a jornalista da RTP, «the show must go on».
PSB