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Lisboa 2011. Subúrbio

por jpt, em 23.05.11

 

Lisboa, 2011 como nos anos anteriores. Por todo o lado este lixo visual. A própria Câmara o utiliza para legitimar as suas práticas - o "ajardinar" dos prédios em ruínas na zona da Fontes Pereira de Melo (utilizando artistas internacionais, ali pelo menos desde Julho de 2010) sendo uma estratégia, "artística", para legitimar a especulação imobiliária numa zona nobre da cidade [a qual significa, num contexto intra-artístico, uma institucionalização do que foi uma recusa disso, donde uma cena falsária] tem também como efeito a legitimação/indução das "intervenções" "populares" do mesmo tipo que cruzam a cidade.

 

Repito, por todo o lado este lixo visual, tanto que me parece que os habitantes já nem notam, e até se espantam com o desagrado do visitante, ainda que "dono da terra". Os inintelectuais chamam-lhe arte, e falam de "apropriação". Sim, concordo, é uma "apropriação". A ser combatida. Não com coimas mas sim com trabalho comunitário (modo actual dos antigos trabalhos forçados). E com privação dos serviços estatais.

 

Ao meu primeiro dia de Lisboa guio da Av. da Liberdade à Praça da Alegria e daí ao Príncipe Real. Entre ruínas e estas merdas de grafitos a Carolina, 8 anos, há quase um ano sem vir a uma Lisboa que pouco conhece e algo imagina, lá do banco traseiro, enojada e tristemente supreendida diz-me "pai, afinal Lisboa é pior do que Maputo?!!!".

 

Os pais dela, amantes da sua cidade e também dela saudosos, resmungam isto do subúrbio ter conquistado a cidade. Melhor dizendo, a cidade está um subúrbio. Ou mais ainda, desta gente toda ser uma tropa de suburbanos.

 

jpt

publicado às 11:24


7 comentários

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De VA a 24.05.2011 às 11:23

;)
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De jpt a 23.05.2011 às 17:25

AL a arte de rua é porreira ... Lisboa está toda cagada, cheia de "artistas". A mais difícil das práticas é o bom senso. Eu prefiro uma cidade relativamente limpa.

Quando estive em Lisboa o ano passado vi uma bela exposiçaõ no CCB "gémeos" acho eu, arte de rua desenvolvida. Na mesma altura eles proprios (irmãos brasileiros) e outros estavam a inaugurar as pinturas na Fontes pereira de Melo (coisas belas, já agora). Tirei fotos para bater na estratégia pato-bravista que eles estavam a servir e na indução camarária da continuação do emporcalhamento da cidade. Passou o tempo e deixei passar ... como tanta coisa.

Mas é isso mesmo que voltei a sentir quando fui aí. É o desnorte intelectual
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De jpt a 24.05.2011 às 11:08

afinal (re)conheces o fotografado? [Rua cidade de cabinda, à Av. de Berlim, checkpoint Charlie entre Olivais Sul e Norte - é a minha primeira casa, onde vou sempre em homenagem aos antepassados aquando em Lisboa]

Tu percebes bem o que eu quero dizer ...
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De AL a 23.05.2011 às 15:51

Hmmm eu nao consigo ser tao radical nesta questao. Por um lado gosto desta chamada "street art" e acho que ha alguns exemplos muito bons; por outro esta estrategia de "empatar" projectos urbanos com este tipo de iniciativas faz-me concordar contigo e principalmente com a princesa - Lisboa esta feia, a tinta esvai-se, esfarela-se e chama ainda mais a atencao para a decadencia da cidade. Andei a procura de um artigo de uma jornalista inglesa em que ela argumentava isto mesmo, o excesso de uso de "street art" para tentar esconder a decadencia da cidade e a especulacao imobiliaria. Desconsegui encontrar, mas dei com este diario de um jovem turista:

Yesterday when I posted that Lisbon, “Is falling apart beautifully”, understand that it’s mostly cosmetic. The paint is peeling, the plaster beneath that is crumbling and the bricks beneath that are peeking out and cracked. Where Paris has a strict code about facade style, Lisbon seems to have hired a team of renegade graffiti artists, gotten them drunk, and set them loose on the town. In fact in those first moments, when I was disappointed with Lisbon, I have to admit the constant graffiti had something to do with it....

Aqui: http://almostfearless.com/2008/08/07/the-graffiti-of-lisbon/

Ele acaba por se render e achar "charming", mas e' talvez a mesma rendicao que eu sinto com fotografias de sitios habitados em tempos e agora em plena decadencia. E isso nao e' certamente o que se deseja para Lisboa.
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De VA a 24.05.2011 às 11:05

"Desta gente ser toda uma tropa de suburbanos" ??? - Mas não somos todos do subúrbio, JPT? ou vais dizer-me que os olivais (onde muita dessa street art se iniciou, diga-se) são emblema da cidade saudosa?
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De Lowlander a 23.05.2011 às 12:35

Ora ora... cuidado com isso das diatribes anti-suburbio. ;)
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De jpt a 23.05.2011 às 12:39

(V. captou o substrato político, a insídia eleitoral[ista] ...?)

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