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Transcrevo um texto do bloguista Luís M. Jorge:

 

Almerindo Marques vai ser presidente da Opway, uma construtora do Grupo Espírito Santo. Ocorreram várias coisas antes de lá chegar. O Rui Costa resume, eu adapto:

 

1. Almerindo Marques, presidente da Estradas de Portugal, renunciou ao cargo em Março de 2011.

2.Dois meses depois, o Tribunal de Contas audita uma renegociação de dívida entre as Estradas de Portugal e as concessionárias das SCUT:

  • A dívida do Estado às concessionárias passou de 178 milhões para mais de 10.000 milhões de euros;
  • A Ascendi (liderada pela Mota-Engil e pelo Grupo Espírito Santo) garantiu mais 5400 milhões de euros em rendas, que não dependem do número de carros em circulação;
  • A Euroscut (liderada pela Ferrovia) garantiu mais 1186 milhões de euros em rendas;
  • Em 2011, o Estado recebe 250 milhões de euros em portagens e paga 650 milhões de euros de euros em rendas, com um prejuízo de 400 milhões de euros (62% do valor das rendas, 160% do valor das portagens)

Pior:

 

O Governo não só nomeou as comissões de negociação (ver aqui) , como criou condições para escapar ao controlo do Tribunal de Contas. Em 2006, a maioria socialista aprovou uma alteração aos poderes do tribunal que permite modificações a contratos antigos:

 

«Não estão sujeitos à fiscalização do Tribunal de Contas os contratos adicionais aos contratos visados», determina a Lei 48/2006, de 29 de Agosto.”

 

3. Almerindo Marques nega que as Estradas de Portugal tenham concluído um negócio ruinoso (0:53 no filme).

 

4. A 23 de Maio o Jornal de Negócios noticia que Almerindo Marques vai ser o próximo presidente da Opway, a construtora do grupo BES.

 

O que diz o PSD? Nada. O que diz o CDS? Nada. O que diz a blogosfera de Sócrates? Nada. O grupo Espírito Santo é a história secreta de Portugal.

 

Os grandes grupos económicos (financeiros) assim colonizam o estado, assimilam os ex-políticos e seus agentes (uma história que na III República começou na administração dos processos de privatizações pós-PREC, um processo de meias-tintas que delapidou patrimónios e corrompeu a nova elite portuguesa) e nos destroem o futuro do país, sem que isso tenha qualquer efeito no discurso político dominante. Fazem-no de modo até aberto, dominados que estão os discursos públicos, o político e o mediático. E dão-nos "bola", muita (os leitores do ma-schamba tantas vezes me aturaram aqui vociferando contra a presença dos vis Espíritos Santos nas administrações do Sporting. Também aí os efeitos têm sido letais. Incompetência? Não, é a sua [deles] natureza, tal como na fábula do escorpião e do sapo)!

 

Neste contexto ("alienado", recupere-se a velha palavra) em que os recursos nacionais são massivamente apropriados o discurso comum subordina-se à incompreensão. Nele vinga o "laborismo" ("isto vai lá com muito trabalho", ideia comum a Angela Merkel e a Octávio Machado). É nesse vazio intelectual, corrompido e corruptor, que vinga o palhacismo do "nacionalismo da auto-estima", típica produção do voluntarismo, a única ideologia estruturante do complexo guterro-socratista. Exemplar máximo disso apanho-o agora (na mesma coluna do "reader" que o texto acima, uma coincidência impressionante) no Albergue Espanhol, por via de um bloguista comovido com a peça, Rodrigo Saraiva. A pobre peça, que abaixo poderão ver (e até comoverem-se e inspirarem-se, se a tão baixo nível conseguirem deslizar) é inspirada num texto de Nicolau Santos  - o estado das coisas está tão miserável que já só jornalistas rastejam a "intelectuais" orgânicos, que a associação a um lixo destes é por demais ofensiva. Enfim, o insulto, infecto, bom-para-imbecil do laborismo ("muito trabalho") acaba a "Domingo vá votar. Na segunda vamos trabalhar". Ou seja, isto vai lá por motivação. Auto-estima e motivação. É o "mourinhismo", se acreditarmos em nós-próprios acabaremos no topo do mundo ("líderes" como se diz no lixo abaixo) abraçados em lágrimas aos Materazzis. Entretanto os "Espíritos Santos" e os acólitos vão tratando de nós. Desde que acreditemos em nós-próprios e muito trabalhemos .... e não os perturbemos.

 

 

Como acaba o filme "Eu sei que o vou conseguir, porque já o fiz antes" .... Emigrar.

 

Não por causa dos Almerindos Marques, que os há em todo o mundo. E dos Espíritos Santos. É mesmo por causa dos laboristas, dos nicolaus santos e dos bloguistas caixas-de-ressonância deste lixo. Um continente de distância não extermina o fedor que exalam. Com pujança. Líderes nesse campo.

 

Adenda: Luís M. Jorge, de quem acima transcrevi o texto propõe um desafio interessante aos leitores do seu Vida Breve: uma reflexão conjunta sobre as relações entre o "Espírito Santo", e outros grupos económicos, e os governos portugueses. À falta de jornalismo de investigação apela ao universo blogal:

 

"Estou interessado em aceder a notícias que nos permitam avaliar a influência política destas organizações: casos, esclarecidos ou por esclarecer, zonas de sobreposição entre os interesses dos grupos e as decisões de titulares de cargos públicos, contratações e nomeações — enfim, tudo o que, legitimamente, e dentro dos limites do interesse público, nos permita iluminar uma zona ainda opaca da nossa vida democrática. O leitor está convidado a participar nesta tarefa, enviando notícias publicadas em jornais de referência, documentos oficiais ou reflexões originais (não rumores)."

 

A acompanhar. Seja pelo interesse das questões seja para se perceber as virtualidades e limites deste tipo de abordagem à cidadania.

 

jpt

publicado às 10:35


7 comentários

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De jpt a 27.05.2011 às 13:34

entre outras coisas, longe de mim punir aqueles que são representados no filme, longe de mim vociferar contra os produtores (excelentes ou médios). o que me irrita é esta pacovice do voluntarismo, sublinhada pela negação intelectual que é esta tralha da auto-ajuda, auto-estima e essa merda toda, sublinhada pelos gajos da neo age e pelos jornalistas, um paulocoelhismo de merda para o qual não há lixeira suficiente

Isto é um Hulene intelectual

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