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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Visitei o Museu de Robben Island em 1997, tinha ele aberto há pouco tempo. Havia ainda muito poucos a fazê-lo e naquele dia meio cinzento e de mar picado convenhamos que a travessia não era a mais convidativa; éramos um grupo de cerca de 10 pessoas. Fomos recebidos no cais por um ex-prisioneiro que nos fez o tour da prisão-museu. Talvez por causa do dia ventoso e meio cinzento, talvez por sermos poucos os visitantes, talvez também porque o local a tal convidava, o ambiente tornou-se introspectivo e o nosso guia guiou-nos pela calçada da sua memória. Deambulámos vagarosamente pelos corredores, pátios, salas e celas enquanto ele, quase num transe, ia entrelaçando as suas vivências no espaço que percorríamos e nas vidas que por lá passaram. Abalados pelo local e sob o peso da sua catarse, nós, os visitantes, seguíamo-lo em silêncio. Acabámos sentados nos bancos corridos de uma das salas adjacentes aos balneários enquanto ele acabava a sua história: Depois de tantos anos aqui dentro não consegui viver lá fora... A chegada do ferry que nos ia levar de volta despertou-nos do feitiço em que nos encontrávamos. Ele limpou as lágrimas, apertou a mão a cada um de nós e desapareceu por uma porta. Nós seguimos para o ferry, num silêncio que só foi quebrado por sussurros quase à chegada a Capetown.Celebramos hoje o aniversário de Mandela. Disseram-me um dia que falar dele é como falar do 25 de Abril ou do 11 de Setembro; todos parecemos ter uma memória pessoal a ele associada. A minha é esta.
AL