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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Na outra encarnação do Ma-schamba contei uma história sobre o Presidente Moi do Quénia, o comércio do marfim e as filmagens do Out of Africa:
"Queima em 1989"
O shooting do filme coincidiu no Quénia com a aprovação, pelo na altura Presidente Moi, da directriz das Nações Unidas que bania o comércio em marfim. O governo queniano tinha feito enormes apreensões de marfim e queria fazer uma qualquer demonstração pública e impressionante da sua destruição. Foi decidido fazer então uma enorme fogueira queimando as toneladas de marfim entretanto apreendidas. O Presidente Moi deveria aproximar uma tocha da enorme pilha, que deveria de imediato irromper em chamas altas e vigorosas, simbólicas do ímpeto anti-marfim.Fizeram-se testes e ensaios, mas o marfim demora imenso tempo a começar a arder e tem uma combustão lenta e difícil. Assim, quando aproximavam a tocha da pilha-teste nada se passava durante uns minutos e depois lá surgia uma mísera coluna de fumo esbranquiçado e raquítico…Foi então que alguém se lembrou que havia uma equipa de Hollywood a filmar algures no país e que seguramente dispunham de peritos em efeitos especiais. E assim foi! O filme era o Out of Africa, o ano de 1989. Neste ano de 2009 o que se elevou em fumo foram as restrições ao comércio de marfim, sem quaisquer efeitos especiais…
De facto, em 2009 a ONU abriu uma excepção à proibição total do comércio de marfim e permitiu a venda em leilão de marfim apreendido nalguns países africanos. E é aqui que se entra nos cinzentos e as coisas se complicam. Porque a redução do habitat natural dos elefantes devido à pressão demográfica traduz-se na necessidade de se controlar a população de elefantes em determinadas áreas, o que frequentemente é feito por abate selectivo. O marfim proveniente destes abates juntamente com o marfim apreendido, se vendido legalmente, significa boas receitas para países que delas precisam. Mas a abertura de vias legais para o comércio de marfim facilita o negócio paralelo e acaba por incentivar o abate furtivo de elefantes num crescendo difícil de controlar.Foi isso exactamente que aconteceu no Quénia onde o número de abates ilegais detectados subiu de 57 em 2008 para 90 em 2009. E daí para cá não parou de aumentar. Relembremos que na década de 1970 existiam 1,3 milhões de elefantes em África e actualmente existem apenas 500.000. E relembremos também que o único propósito do marfim é a vaidade.Numa semana em que se debate o levantamento ou não da proibição do comércio de marfim, o presidente Mwai Kibaki do Quénia procedeu à queima pública de cerca de 5 toneladas apreendidas em Singapura em 2002, com um valor de 10 milhões de libras. Pena é que na pira do marfim não arda também a vaidade; para isso não há ainda efeitos especiais.
"Queima de 20 de Julho de 2011 - Foto de Tony Karumba/AFP/Getty Images"
AL