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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
O dia está feio, e frio. E assim já se sabe que o apelo das escalfetas se impõe, sempre. Ainda assim será de convocar os vizinhos: hoje às 18 horas, no Kulugwana (estação dos CFM), há o lançamento da reedição do "Sangue Negro" de Noémia de Sousa, uma iniciativa da Marimbique (e, como tal, do Nelson Saúte, avatar editor), por ocasião do que seria o 80º aniversário da poetisa (fundacional).
Será de lembrar, sem rodeios, que tirando alguns escassos indefectíveis a sua poesia está algo esquecida. Mais uma razão para a gente se esquecer do frio de hoje (ou arranjar agasalho) e ir até à baixa, no fim da tarde. Ouvir, ler, até comprar. Até logo.
Para os visitantes aqui deixo o identitário "Bayete".
BAYETE
para Rui Knopfli
Ergueste uma capela e ensinaste-me a temer a Deus e a ti.
Vendeste-me o algodão da minha machamba
pelo dobro do preço por que mo compraste,
estabeleceste-me tuas leis e minha linha de conduta foi por ti traçada.
Construíste calabouços para lá me encerrares quando não te pagar os impostos,
deixaste morrer de fome meus filhos e meus irmãos,
e fizeste-me trabalhar dia após dia, nas tuas concessões.
Nunca me construíste uma escola, um hospital,
nunca me deste milho ou mandioca para os anos de fome.
E prostituíste minhas irmãs, e as deportaste para S. Tomé...
- Depois de tudo isto, não achas demasiado exigir-me que baixe a lança e o escudo
e, de rojo, grite à capulana vermelha e verde que me colocaste à frente dos olhos: BAYETE?
Quem tiver curiosidade para ler mais poderá encontrar uma dezena de poemas aqui.
jpt