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Um trio do António Cabrita

por jpt, em 05.11.11

Aparece-me em casa o António Cabrita, a desfaçatez em pessoa ou melhor, o livro em pessoa. Pois entre outros assuntos, e assim como nem quer a coisa, despeja a notícia que vai botar livros. Três. Três! Não dá descanso ao teclado, está visto. Começa logo agora, vai-se para o Brasil lançar, em momento a decorrer no próximo 16 de Novembro, este "A Maldição de Ondina", editado na Letra Selvagem, um romance de 248 páginas que tem um posfácio de Adelto Gonçalves, aqui transcrito e que leva o tétrico título de "António Cabrita e o futuro da lusofonia".

Entretanto lá na outra banda da dita lusofonia, e pela editora Língua Morta, vai sair o ensaio "Respiro", 38 páginas que agora também habitam cá em casa em avatar PDF, ainda por ler. Nelas o Cabrita começa assim:

"Um dizer de Plotino exclui à priori o dualismo em que Platão atolou o mundo das ideias: «Ninguém aí (alude-se ao Uno) marchará como sobre uma terra estrangeira».

Um direito de linhagem que abstrai as exclusões, o que me agrada sobremaneira, pois fui prematuramente atraído pelo clamor das contradições, tapeçaria em cujo avesso leio as complementaridades.

Nunca me furtei ao apuro acrobático de montar vários cavalos de uma vez, saltando de uma garupa para outra, num equilíbrio instável que me expunha às escorregadelas mais inconvenientes. É mais fundo e intrínseco que a aparência de ter andado 20 anos com o coração dividido entre a poesia e o cinema, uma baba comum a tantos. Ora me põe na jogada a imanência de Deleuze, ora a transcendência neoplatónica me garante o naipe de ases, e, em sucessivos “incroyable!”, gabo as pertinências de um e de outros. No ensaio literário não é dissemelhante. A iconoclastia nominal de Henri Meschonnic – invejo-lhe a lucidez, a coragem com que desossa as falácias do “pensamento poético” –, não me faz abdicar do desfrute de “aromas & essências” em Salah Stétié, para quem o poeta, esse abat-jour, cata lâmpadas... na retrosaria de Deus."

para, as tais páginas depois, vir a concluir, ou pelo menos a interromper,

"Dantes os movimentos literários encadeavam-se de forma progressiva, cronológica, como as missangas num fio. Agora, uma espécie de configuração mosaica, propulsionada pela net, impele-nos às zonas intersticiais, à mestiçagem, ao hibridismo. Estamos mais plurais, e é uma tarefa insana e irresponsável querer travar o curso deste fluxo. Qual a vantagem de falhar uma série de encontros estimáveis, ou de anquilosar numa fórmula?

Quem nos impede de ser em arquipélago, depois de Pessoa, dos rizomas de Deleuze? Entre o intervalo e a oscilação, o coração subsiste; renitente às aporias, o coração subsiste, sem que se quebre o frágil elo que une o seu ritmo narrativo à transparência de uma consciência. Contudo, esta transparência, este diafragma não pode cair no erro, na desfaçatez de confundir sujeito psicológico com o sujeito do poema. Ao fazê-lo, esqueceria o essencial: «O mal é (...) a redução do ter-lugar das coisas a um facto igual aos outros, o esquecimento da transcendência inerente ao próprio terlugar das coisas», Giorgio Agamben.

E na sequência desse esquecimento trairíamos o reconhecimento do movimento que Diotima consagra, no 37Banquete: «chama-se poesia à causa que torna possível a passagem de qualquer coisa do não-ser ao ser», e baldar-se--ia aí a lição de Pound: «Without character you will be unable to play on that instrument or to execute the music fit for the Odes»

Carácter que o poeta pagou bem caro. Por que, afinal, tudo se paga não é?"

Finalmente anuncia "O Branco das Sombras Chinesas, 78 páginas de um policial, escrito a meias com João Paulo Cotrim e ilustrada por João Fazenda, uma edição da Abysmo. E que no tal PDF me parece muito bonito.

Toca a ler o Cabrita.

jpt

publicado às 03:05


2 comentários

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De Patch a 08.01.2012 às 14:49

Deep thinking - adds a new dmieniosn to it all.
Sem imagem de perfil
[...] das suas frenéticas publicações (o Cabrita acaba de publicar três livros) em particular o romance “A Maldição de Ondina”, publicado no [...]

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