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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Há algum tempo aqui deixei um texto sobre Shikhani. Porque é o meu artista moçambicano preferido, coisa subjectiva e que me é indiscutível. Mas também pelo meu espanto diante do total silêncio e inactividade que se seguiu à sua morte, acontecida no último dia de 2010. Injustificáveis. Não falo das homenagens, das proclamações de heroísmos ou genialidades. Apenas do regresso (ou ingresso) à sua obra. Exposições, textos, audiovisual, testemunhos. Nada. Para quem esteja minimamente interessado nas artes visuais em Moçambique todo este apagamento deveria parecer absurdo. A mim parece-me.
Também por isso o meu agrado com esta exposição que amanhã inaugura no Consulado-Geral de Portugal, duas dezenas de obras de Shikhani, realizadas durante a década de 90, e propriedade de um coleccionador, um português actualmente residente no Zimbabué. A iniciativa é da cônsul-geral de Portugal em Maputo, inestimável "servidora pública" (uma mulher que entende o funcionalismo público como "serviço público", pessoa que não sendo única é verdadeiramente rara).
Não será o consulado de Portugal (na Mao-Tse-Tung) o local ideal para o regresso de Shikhani aos olhares dos que o apreciam, e para sua apresentação aos muitos que o desconhecem. Não o será devido à exiguidade das instalações que o vão acolher. A qual no entanto é ultrapassada pela grandeza do serviço cultural que ali vem decorrendo, entendido como motor de inter-conhecimento. Ainda para mais em sítio tradicionalmente associado a barreiras e dificuldades, a estranhezas, coisas da burocracia. Agora, assim, sítio votado a entranhezas.
Regressar a Shikhani é suficiente. Não deve ser aproveitado para derivações outras. Mas é-me impossível, aliás, recuso-me a evitar o comentário, até paralelo. Ver o consulado-geral de Portugal avançar por iniciativa própria, sem meios humanos ou financeiros particulares nem mesmo as condições suficientes, apenas contando com o interesse e a energia próprios, para esta fundamental acção, demonstra o vazio de propósitos, de energias, de interesses, de intelecto, que os serviços culturais do nosso país vêm apresentando em Moçambique. Uma máquina até pesada, mas inerte e inane.
E neste cruzamento de realizações ao olhar o funcionalismo público (que não o "serviço público) pátrio presumo que isso implique custos, nocivos. Não aos que vegetam. Sim aos que fazem. Que me engane ...
Quanto às instituições culturais moçambicanas, estatais ou civis, que poderei eu dizer? A minha excentricidade face a elas impede-me a indignação que sinto ao olhar os meus patrícios vegetativos. Mas com toda a certeza que espero que esta exposição, muito parcelar, sobre Shikhani obrigue, provoque, a uma necessária atenção a um dos grandes da terra. Um regresso.
Abaixo reproduzo alguns textos (pressionando-os aumentam) que acompanham o desdobrável realizado para a exposição: fotografia do nosso PSB, excertos de Adelino Timóteo e meu; textos de Maria Pinto de Sá e de Graça Gonçalves Pereira.
Amanhã, segunda-feira, 7 de Novembro, pelas 18 horas, na Mao-Tse-Tung. Dia e hora de Shikhani. E durante as semanas seguintes. Vão ver.