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Javi Garcia

por jpt, em 07.11.11

Há alguns anos Zidane, o melhor futebolista da sua geração, supra-premiado, jogou o seu último jogo de futebol. E logo a final do campeonato do mundo, jogo que então foi o espectáculo desportivo mais visto de sempre. Já para o fim da partida, tudo empatado, macro-título por definir, a celebérrima cabeçada no morcão Materazzi.

A mim deu-me para botar isto, encantado com o heróico (quase-divino) final daquela carreira, coisa até de lenda: Tivesse eu o dom para expressar. Da grandeza que me chega em imagens. Do homem que se força a retirar pois em busca de triunfos e glórias. E que, súbito, hesita, pára, regressa, deixando-se ser, tudo o então mero resto desabando. E sendo. Mas sendo. Perceptível foi que o pirata Matterazzi invectivara o astro francês. Mas só bastante tempo depois se veio a saber o que se passara: insultara a irmã de Zidane. Magistral jogador! Maior irmão! Que interessa o título, que interessam as não sei quantas centenas de milhões de espectadores, em comparação com a querida mana?

Agora, lá na lusa pátria, os jogadores Alain e Djamal, do Sporting de Braga, andam chorosos nos jornais, queixando-se de que um outro jogador, Javi Garcia, do pérfido Benfica, lhes chamou "preto". "Aquele menino chamou-me preto", diz um, "confirmo que aquele menino me chamou preto", replica o outro. Gostaria de saber quantas vezes, dentro de campo, já lhes chamaram "filhodaputa", "corno manso" ou "paneleiro de um cabrão" (entenda-se que tudo isto reflectindo preconceitos sobre práticas ou identidades colectivas), artes que um qualquer João Pereira (Sporting) se afigura mestre, bem como tantos outros o serão [só quem nunca foi a um jogo de futebol (ou não viu uma boa transmissão televisiva) pode duvidar disso].

A ideia de que dentro de campo há insultos aceitáveis, ou dirimíveis entre jogadores (à porrada que seja), e que há outros que são motivos para choramingar nos jornais e processos disciplinares é absolutamente soez. A versão ordinária do politicamente correcto. Ou melhor, apenas o politicamente correcto. Javi Garcia insultou os jogadores do Braga? Fez bem, está visto que estes dois merecem todo e qualquer insulto. São, evidentemente, uns "pretos". Coisa que, como é óbvio, nada tem a ver com a cor da pele que cobre a merda de que são feitos. E os que os aconselham.

jpt

publicado às 23:48


5 comentários

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De jpt a 11.11.2011 às 09:52

Companheiro, se o Javi tiver chamado paneleiro ao central do Braga vai a tribunal? Leva jogos de castigo? Se chamar anão a um qualquer (ao João Pereira, por exemplo) também? Há aqui uma enorme diferença. Uma coisa é aceitarmos a expressão pública, em massa, de comportamentos racistas (por exemplo, as claques). Outra coisa é denunciarmos os efeitos e as práticas racistas, quotidianas que sejam, e de dominação e exclusão. Outra coisa é isto, andar à caça do insulto entre futebolistas, no campo, estratégias (feias, isto diz acima de tudo da merda de tipo que é Javi Garcia) para irritar o outro, o perturbar. E nesse sentido considerar grave um insulto a um tipo de identidade ("preto" tem, quando dito em tom de afronta, uma óbvia carga pejorativa, e implica uma identidade alheia) e menos grave a outro tipo ("paneleiro" afrontando identidades sexuais, anão afrontando características físicas consideradas menores, "corno manso" afrontando perspectivas sobre a sexualidade, ou deficiências de saúde, etc. Todas essas [putativas] identidades sendo historicamente marginalizadas e excluídas, atenção, como tal credoras de uma re-respeitabilidade). Não, este tipo de "politicamente correcto" selectivo é uma indignidade. E depois, aqui entre nós, é uma infantilização dos jogadores de futebol.

Finalmente, o Luisão, capitão (e já agora negro, se é que isso é realmente relevante) é que devia dar um carolo ao imbecil do Javi Garcia. E o Eusébio, mais o monstro sagrado, davam-lhe umas caneladas, o povo apupava o palhaço do "branco", aliás "coño", espanhol, cabraão do espanhol, dos espanhóis, que nunca houve que se aproveitasse (com a excepção do Capel, claro). E esse tipo de penalização colectiva, moral, para uma situação destas sim. Agora penal, administrativa? Francamente

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