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Há poucos dias botei aqui sobre a actual imigração portuguesa para Moçambique. Há alguns meses também já aqui a tinha referido, algo influenciado pela torrente de pedidos de informação sobre o país, a vida e as hipóteses de trabalho. A qual apenas acalmou com o texto, tendo regressado, pois continuam constantes os pedidos de informação (alguns até abrasivos, que há gente que é meio doida, do exigente que é).

Agora o António Cabrita acaba de publicar no seu mural de facebook um "Aviso à Navegação", dedicado aos patrícios que têm demandado Moçambique ou que o pensam fazer. De leitura justificada, daí que o transcreva.

AVISO À NAVEGAÇÃO, por António Cabrita

É com grande apreensão que vejo os portugueses chegarem a Maputo às carradas, sem um mínimo de preparação para um mundo rigorosamente nos antípodas e armados da ilusão de que partimos de uma base comum que é a língua.

O que está a acontecer com um casal meu amigo talvez ilustre as dificuldades que aqui encontramos todos os dias: o contrato de arredamento (pagam uma renda de mil dólares) está a chegar ao fim; a vizinha propôs uma subida para 1500 dólares. O casal, medindo pós e contras, contrapropôs 1400 dólares e um contrato para três anos, para obstar passarem todos os anos pela mesma discussão. E já se tratava de um brutal aumento de 400 dólares. Resposta da senhoria: quer um contrato de 1500 para seis meses, enquanto ela faz obras na casa (com eles lá dentro), e depois então fará com eles um novo contrato, no qual procederá a um novo aumento. É delirante. Mas é assim mesmo, porque não existe regulação legislada – muitos dos deputados são senhorios - e os moçambicanos estão contentíssimos com estas levadas de emigrantes ignorantes dos preços do mercado e que aceitam tudo, a qualquer custo. E esta inflação louca é geral, eu também tive de sair há uns meses de uma casa para outra porque me foi pedido um aumento de 400 dólares.

Da mesma forma, o mercado de trabalho está a ficar viciado pelos mesmos motivos. Aterram arquitectos, profes, engenheiros, às centenas de técnicos de todas as áreas, dispostos a aceitarem tudo para não voltarem, para se aguentarem, e estão absolutamente a distorcer as condições de trabalho e a trazer um péssimo ambiente porque ainda por cima vêm armados de uma arrogância que a prazo se desfaz em fumo dado esta ser uma sociedade de códigos comportamentais muito, mas muito, diferentes que só o tempo nos faz adquirir. Sucedem-se os males-entendidos e o aroma a xenofobia sobe no ar.

Efeitos deste desnorte medem-se aos palmos largos, e nos últimos anos Maputo começa a acelerar na inflação para se equiparar aos preços de Angola, à custa dos papalvos das ONGs, empresas estrangeiros, e incautos emigrantes dispostos a tudo.

Meus caros, os ordenados locais não suportam esta inflação descabelada, não apodreçam mais o que já andava a soro. Pede-se bem senso, dignidade e equilíbrio – que talvez comece por se informarem a sério do que seja viver em África antes de se atirarem de cabeça a uma galinha que, lamento informar, não é a dos ovos de ouro.

jpt

publicado às 01:46



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