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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
A insónia, à qual se segue aquele sono de alvorada, aquele leve, leve, o sono dos sonhos vivos, lembrados, os que arranham a pele, riscam o vidro. Por isso, decerto, acordo como se ele ainda estivesse aqui, num "tenho que lhe telefonar". E depois, logo depois, entre o pé no chão e o içar este coiro até à vida, sai-me um quase-imediato "foda-se", o perceber que estava a sonhar. A interromper-me, fugir do até ao chuveiro, desviar-me lá para fora, o já raro cigarro em jejum, forma de remoer. E lembro-me desta telefoto, o pouco que me ficou daquela semana de Janeiro em que ele foi morrer ali ao lado, nos Capuchos. Lembro-me de todos os dias passar pela estátua do curandeiro, por aquelas placas de mármore todas, pagamentos de curas, coisas da medicina tradicional, e tanto me sentir em Maputo. Apesar do frio, da chuva e do meu pai ali a morrer. Já sem tempo para ironizar sobre aquilo tudo. Para ironizarmos, juntos, eu a aprender.
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