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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
É minha ideia, talvez algo "poluída" pela amizade, que o arquitecto Mário do Rosário é o mais sábio dos meus conhecimentos em Moçambique. Profundo conhecedor do país, que calcorreia há décadas, abrangendo-o com um olhar de arquitecto atento às dimensões sociais que é muito raro numa profissão internacionalmente encantada com a réplica das urbes, endo-centrada e onde a religião actual é o culto do menir (falo) de vidro. Mário do Rosário é também o coordenador do curso de Arquitectura no ISCTEM, o segundo curso do país nessa disciplina, o que me permite ter esperança que nos próximos anos despertarão em Moçambique alguns (nunca serão mais que alguns ...) arquitectos menos como eles costumam ser.
Amanhã o Mário do Rosário falará no Porto, na Faculdade de Letras. Aconselho quem lhe esteja próximo a que interrompa a respectiva agenda e vá ouvir este humanista.
Aqui fica uma breve sinopse. Que é, acima de tudo, uma complexa agenda de reflexão:
Repensar Arquitectura em Moçambique e na região: desafios e oportunidades na necesssidade de sobrevivência e de crescimento humano, económico e sociocultural; procurar os contornos de uma identidade cultural, feita de cruzamento de culturas facilitadas pelo Índico, tendo em conta os intercâmbios culturais, o colonialismo, o imperialismo moderno.
Reflectir sobre o periodo pós-guerras, sob uma Paz regional e de empobrecimento crescente, tendo em conta as assimetrias de eixos de exploração de recursos naturais espartilhando o território em áreas isoladas longe dos benefícios do dito desenvolvimento – a nova ordem urbana regional, num contexto de vivência da Natureza, ao sabor das suas mudanças, e sem perspectiva de industrialização.
Neste contexto que relação homem x materiais naturais x espaços construídos na Natureza? Que estrutura urbana? Gerida pela Cidadania ou pelos eixos de exploração do Capital? Que visão para o futuro espaço africano? Afirmação moderna da sua própria Cultura ou submissão aos cânones despersonalizantes do mundo ocidental?
jpt