De SC a 16.10.2012 às 15:54
Começando pelo meio: nada, mas absolutamente nada pode justificar a adopção do "ao".
Quanto ao que diz: sim, não me apercebi que o autor do "post" não era o professor - leituras em diagonal.
Sim, acredito que seja verdadeira a relação que aponta entre o anonimato e "incompreensões". No meu caso usei de um anonimato mitigado, já que as iniciais são, de facto, as minhas e uso-as como usa as suas.
Ainda me quero penitenciar do tom, que tem o seu quê de sentencioso, mas sem poder deixar de acrescentar que, por desagradável que seja, o prefiro ao nacional-hesitacionismo que acaba por tudo consentir.
Em relação ao restante:
O imperialismo, a existir, é dos acordistas brasileiros e portugueses sobre as antigas colónias portuguesas - e sobre os próprios portugueses (já que se trata da sujeição à "ortografia nacional brasileira", confessadamente adaptada à fonética brasileira). Pelo contrário, quem se opõe ao «acordo» em Portugal não pretende impor nada seja a quem for a qualquer outro povo ou conjunto de utilizadores da língua, pelo que não colhe qualquer acusação de imperialismo...
O acordo, tem razão, é produto de um pensamento pobre, de um positivismo ultrapassado; mas é uma pobreza espavantosa e perigosa, que radica no construtivismo totalitário, observável pela primeira vez na história do mundo, no estado iluminista e maçónico da revolução francesa (de que são exemplos a redonominação do calendário, imposição de formas de tratamento pessoal, a descritinização forçada e que culmina com o genocídio (hoje assim legalmente classificado) físico e cultural (homicídios em massa e proibição do bretão com imposição do francês) do Povo Bretão. Não esqueçamos a posterior imposição de ente supremo, por decreto e, claro, il va sans dire, centenas de milhares de mortos).
Mas vamos para a escola:
perante a imposição estatal de um qualquer aspecto ideológico, a questão é a mesma, trate-se da crença na eugenia pelos nazis em 1933, seja a lenda do milagre de Ourique, seja a modificação da ortografia por questões políticas (Malaca dixit: "É que isto [ao] não é uma questão linguística, é uma questão política, uma questão muito importante do ponto de vista da política de Língua no âmbito da Lusofonia").
A questão é de como deve o professor reagir. É conivente? Não o é e está disposto a arcar com as consequências - que podem ir da morte a perseguições mais ou menos disfarçadas (como consta que há em Portugal)? A questão será, antes de tudo, de integridade e coragem. E tanto que assim é que encontramos Professores na Alemanha nazi que se opuseram (e repare que não se tratava sequer de defender a raça ariana) e encontramos em Portugal quem impinja as tontices do acordo, com que não concordam, aos seus alunos...
Uma tentativa de reforma ortográfica em França (que modificaria algumas dezenas - poucas - de palavras) levou a uma declaração conjunta de todos os prémios Nobel franceses então vivos e ao vivo repúdio por parte das Universidades e editoras. A Língua Francesa está, é evidente, a salvo de tontices e rapaziadas, e talvez por isso, estabilizada tal como o Inglês, não conhece mudanças ortográfias - para além do âmbito da microscopia - há centenas de anos.
Quando se fala no direito à língua, estamos a falar de um direito em construção, que incide sobre realidade complexa, com vários aspectos, mas de que um é, sem qualquer dúvida, a ortografia - passado o conceito boçal que a vê como uma transcrição fonética.
Quanto à desmesura do acordo ortográfico: é inédito na história da humanidade: seriam milhares de palavras modificadas, sem qualquer motivo que não político! Tenha-se presente que o Acordo Ortográfico do Castelhano, modificou 10 (dez) ou pouco mais palavras e, mesmo assim é meramente indicativo, por respeito para com os utilizadores! Não sejamos "modestos": a dimensão e a violência da aculturação em que se traduz este «acordo» está ao nível do que foi feito pelas grandes ditaduras.