De jpt a 27.10.2012 às 06:35
A mudança de servidor acontecida ontem (que provocou que o blog não fosse visível ontem) fez desaparecer os dois últimos postais, colocados na quarta-feira passada, e ainda dois comentários neste postal também desse dia. Aqui os reproduzo, por via do e-mail, onde também os recebo:
1. Tony Manna:
Em relação ao Khosa não estou de acordo consigo pois não acho mau que se crie em cima da tradição oral, o original nunca se perderá. Não gostei que você especulasse sobre a possibilidade do Khosa poder fazer o mesmo...
Achei que em relação ás publicações que se vêm fazendo de literatura infantil pela EPM a sua opinião não era correcta; na minha modesta opinião são todas bem vindas mesmo que baseadas na literatura oral.
Em relação ao Nelson Saúte e sugestionado pelo post do Khosa li mal e reconheço-o,interpretei mal.
Para terminar quero lhe dizer que se não fosse o modo grosseiro como se manifestou pedir-lhe-ia perdão pela forma pouco clara e cheia de erros como escrevi o meu desagrado.
Passe bem
2. Jpt
1. O relevante: nada disse contra a colecção de literatura publicada (também, é uma co-edição) pela EPM. E tal como V. acho-a muito bem-vinda. Livros interessantes. E bonitos, o que também é importante. Nada disse contra escrever baseado na literatura oral. O que referi (como já fiz atrás no blog - e aqui tem muito a ver com o que cada acha que é o blog, que no meu entender é uma espécie de diário, não intimista, e por isso cheio de interconexões, nem sempre explicitadas [por via dos intra-elos]) é um tipo de abordagem a essa literatura oral. É uma abordagem recorrente, até habitual, tem séculos. Que tende a transformá-la, adoçando-a, amputando-lhe dimensões, cerceando sentidos, moralizando-a, normativizando-a. E infantilizando-a, tornando-a "literatura infantil". É algo que tem séculos. Que transpira uma desvalorização das populações suas autoras/manipuladoras (por facilidade, "rurais"), por posição sociológica (urbana, letrada, burguesa) com intuitos "civilizadores" e de afirmação auto-superioridade racional e ética. Há uma vasta literatura sobre o assunto, crítica e/ou enquadradora sobre o assunto.
Ainda assim é uma tendência recorrente, e particularmente por parte dos escritores (de "literatura adulta") que vão até à "infantil". Um pouco porque partilham, até inconscientemente essa visão, um pouco porque encontram alguma "pureza poética" no discurso "popular" (o que é, de certa forma, eco da questão acima). E um pouco porque esta é uma longa tradição, até canónica, da escrita, que é assim adoptada por quem ou está estranho ao debate sobre o assunto ou o pensa mera minudência. Por isso lhe chamei uma "esparrela", uma armadilha na qual se cai por distracção (e não por malevolência ou ignorância). No caso da colecção da EPM o exemplar do Mia Couto (com ilustrações de Malangatana) é exemplo disso mesmo. Independentemente dos méritos que tem. E também do apreço que eu tenho pelo escritor (pela obra, pela pessoa). Por isso referi, na linguagem irresponsável do blog (que não é de crítica literária, que não é o meu trabalho, por falta de instrumentos metodológicos), a esperança e a crença (sublinho, a crença) que o Khosa não tenha caído no mesmo rumo. Se tiver caído aponto-lhe. Não é o facto de ter escrito alguns excelentes livros que me obriga a suspender a hipótese do des-gosto (e ele sabe-o, pelo menos em relação à realidade do des-gosto).
Enfim, não vejo como pode retirar daquela formulação qualquer apoucar do escritor, e muito menos um apoucar preconceituoso. Mais ainda, não vejo como pode retirar qualquer "crítica".
2. O poema do Nelson: penso que estará explícito, agora, que não tem ponta de crítica ao poema, nem ao poeta. O pequeno texto é uma "crónica", se lhe posso chamar assim sem ponta de arrogância, que expressa a minha epidérmica incompetência de leitor, instantânea, uma erupção de incompreensão e desagrado. Rapidamente ultrapassada, apenas me obrigou a uma releitura imediata do pequeno poema para um "ah, ok". Vem da alteração gráfica, que afrontou o meu costume de leitor. E que remeteu, sub-repticiamente, para o uso de calão (lisboeta?, geracional?), francamente grosseiro (ainda para mais se lido no contexto deste poema). É óbvio que nada disso tem a ver com o Nelson "pobre poeta graficamente amputado" mas apenas com os processos inconscientes e conscientes de leitura.
3. O irrelevante. Grosseria: cada um tem as suas hierarquias de grosserias e de inadmissibilidades. Eu chamei-lhe a atenção para que V. incompreendeu o sentido dos meus pequenos e inimportantes textos. E até lhe juntei o facto de que a amizade que tenho para os autores me impediria (lá está, a tal "irresponsabilidade" do blog, só cá meto o que me apetece, sem qualquer obrigação) de os afrontar ou cutucar - e ambos sabem que em conversa lhes digo o que penso sobre o que escrevem, goste ou não goste, que é a forma que tenho de admirar os autores. V. reduziu isso a umas (esfarrapadas) desculpas aposterísticas. Uma desonestidadezinha, por assim dizer. Para mim, na minha hierarquia, é essa a grosseria. Bem mais, muito mais, do que o (necessário) uso do vernáculo entre homens. Vernáculo suave, ainda para mais, muito pouco ecoando aquilo que me ocorreu ao lê-lo.
4. Compreendido que estão os sentidos que estão nos textos e nos comentários suspendo a minha invectiva. Que, agora, apenas uma estúpida teimosia poderia manter.
Passe, então, bem.