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Leituras II

por jpt, em 24.12.12

Passo os olhos pela banca da feira de livros ali à estação da Fertagus, no Pragal.`Durante a quadra natalícia, é ver as pequenas livrarias implantarem-se em pontos estratégicos e praticarem preços que competem seriamente com as grandes "mercearias do livro" dos centros comerciais.

Neste meu olhar fugaz, páro na capa deste exemplar. Já ouvi falar dele, recordo. O preço está imbatível. Cinco euros. Folheio o prólogo e agrada-me a escrita. Simples e envolvente. Reparo que o autor, Peter Golwin, nascido na antiga Rodésia, hoje Zimbabué, é jornalista conceituado e  tem trabalhado regularmente para o Sunday Times, para o Guardian e para a National Geographic. Também realiza documentários para a BBC e Channel 4.  Avanço um pouco mais pelo conteúdo e detenho-me nos agradecimentos. O autor agradece à mãe e à irmã e refere que "Sem o contributo de ambas, nunca teria sido capaz de o escrever. O que não significa necessariamente que aprovem tudo o que nele está contido.".

Esta divergência de perspectivas faz crescer o meu interesse e compro o livro. O subtítulo,  "Memórias do Zimbabué ou a Implosão de uma Nação",  também contribui para tal  já que as questões do nacionalismo em África me são caras como objeto de estudo. Percebo que o livro não será isento de alguma polémica já que questiona o regime de Robert Mugabe, antigo líder do movimento de libertação contra o governo de minoria branca na antiga Rodésia e actual presidente do Zimbabué. Interessa-me saber do sentir de Godwin sobre esta questão e também das relações que ainda mantém com o país que considera como seu, apesar de viver no estrangeiro há muito.

Durante a viagem para Lisboa leio que o sugestivo título "Como o Crocodilo Come o Sol" refere-se ao modo como algumas populações do Zimbabué explicam o eclipse solar. Segundo a crença, um crocodilo celestial consome em pouco tempo a estrela que gera a vida, numa demonstração de desencanto pelo homem. A  escrita na primeira pessoa faz com que deixe de ouvir os ruídos da manhã à minha volta.

 

 

Na contracapa encontramos ainda o seguinte texto.

"Conhecemos já todos, minimamente, a situação do Zimbabué com uma inflação de 7500%, sujeito ao regime ditatorial de Mugabe ferozmente repressivo, corrupto e arbitrário. O que o relato de Godwin nos traz de novo é o quotidiano numa economia à beira do colapso e perante uma repressão sem lógica ou sentido. Como sobreviver quando uma ida à padaria representa um gasto de 12 000 dólares (do Zimbabué), meio quilo de carne de porco custa 4000 dólares e um selo de correio 19 000? Como sobreviver quando não se sabe bem quando haverá gasolina e quanto tempo durará o fornecimento de electricidade? Debatendo-se para apoiar os pais que envelhecem acossados pela pobreza e a insegurança, constantemente sujeitos a assaltos e agressões sem sentido, este é o relato ímpar de um homem de origem inglesa que nasceu no Zimbabué, que considera ainda a sua terra Natal."

VA

publicado às 16:10
modificado por VA a 16/12/13 às 21:05


1 comentário

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De umBhalane a 28.12.2012 às 20:28

Mr. Robert Mugabe fartou-se de o dizer ao Povo dele, os Shonas - "sadza and nyama" - é só disso que precisamos.

Selos de correios, gasolina, electricidade, padarias, hospitais, segurança, bancos,...nada disso precisamos.

O problema é que nyama (carne) falta muito, e a sadza (puré de farinha) é intervalada.

Mas o herói Mugabe, e seu glorioso regime, são democráticos, e bastante aplaudidos.

Um grande farol de África, e seus acólitos de uma certa Europa (Ocidente).

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