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Na constante sucessão de exposições e mostras de artes plásticas em Maputo talvez não se dê o destaque devido à particular actividade - quase frenética - de um núcleo de artistas ligados à reclamação de uma arte contemporânea, alguns vinculados ao Muvart, outros nem tanto. Actividade em Maputo mas também em presença em colectivas e oficinas no estrangeiro, Europa e África, terreno mais propício à recepção às linguagens escolhidas.

 

E agora, saudavelmente, também já no norte do país, algo encetado pela apresentação da "Zoologia dos Trópicos" de Jorge Dias na Beira, um desenvolvimento de instalações que têm vindo a ser apresentadas há alguns anos.


Um feixe de actividades que integra a dinamização de palestras e discussões, com participantes residentes ou visitantes. E que acolhe particular relevo no seio do Museu Nacional de Arte, que tem sido exemplo de uma instituição cultural aberta aos seus agentes. E que tem articulado com os (aqui) importantes centro cultural franco-moçambicano (a casa da cultura de Maputo) e o Instituto Camões (a melhor sala de exposições local - e onde o seu responsável, o adido cultural António Braga tem sido exemplar tanto na relação com este momento artístico como - e esta é mais geral - como na forma como tem dinamizado o seu centro cultural ainda que esmagado pelos conhecidos constrangimentos financeiros).

 

Não quero reduzir esta actividade ao MUVART, vários são os caminhos dos seus participantes, vários são os ênfases da sua conjugação. E artistas há que se em diálogo com as linhas do movimento a ele não não se fideliza(ra)m. Mais do que tudo o MUVART, momento determinado de ruptura (até geracional) no meio artístico nacional, assumirá o seu sucesso exactamente através da sua dissolução no tempo. Como é característico dos movimentos deste tipo. Nem reduzir ao Muvart nem a este, e aos seus membros, exigir-lhe uma coerência que em tempos louvei- até mesmo por considerar a incoerência um importante mecanismo de produção artística.Mas passados anos sobre o seu surgimento, passados anos sobre a vontade de dexotização da arte local, da sua interrogação, apetece-me interrogar alguns dos acontecimentos do último ano, uma interrogação companheira - mas desconfortada.Três pontos me parecem cruciais: 1. a discussão sobre a interacção e recepção do estrangeiro; 2. a discussão sobre a movimentação colectiva; 3. a interrogação sobre os momentos individuais

 

1. A verdadeira internacionalização deste movimento artístico (e não falo exactamente do MUVART, mas da onda que o torneia) encetou-se na itinerância (infelizmente incompleta) Réplica e Rebeldia [para uma descrição ver aqui], uma vasta iniciativa com curadoria de António Pinto Ribeiro e produção do Instituto Camões.

 

A questão que considero relevante neste âmbito é que a arte se exibe explicitamente ideológica. Ora nesse espartilho seria conveniente, melhor, exigível, um radical questionamento ideológico dos eventos - o que neste caso exigiria uma etnografia explícita do processo produtivo. A mim o que se me afigura é que o radicalismo das propostas estéticas - formais - não é acompanhado do radicalismo das propostas estéticas - analíticas. Ou seja, a crítica (o desvendar, também) do processo social da produção artística individual não é acompanhado por uma similar olhar sobre a produção de eventos institucional, e sobre as práticas ideológicas que o balizam, encaixam.

 

Um pouco elíptico mas para facilitar. O discurso "arte-contemporânea" moçambicano baseou-se (também) na recusa da determinação alheia (alheia ao campo artístico, nisso se conjugando agentes nacionais e estrangeiros) sobre o que é "arte" e, em particular, o que é "arte africana/moçambicana".

  

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[Frederico Morim e Celestino Mudaulane, "Dois Percursos Multi-culturais: o tempo ... já não tem tempo", Abril-Maio 2008, Instituto Camões Maputo]

 

 

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[Frederico Morim]

 

 

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[Celestino Mudaulane]

publicado às 10:48



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