De crucial importância a legislação da semana passada na África do Sul (The Traditional Health Practitioners Bill), o
reconhecimento oficial como profissionais de saúde dos "sangoma", os curandeiros tradicionais sul-africanos .
O reconhecimento legal do "curandeirismo", de modo muito grosseiro definível como mescla da religião de ancestrais com ervanária, e a constituição de concelhos de controle e legitimação (atribuição de "licenças profissionais") da sua prática, é um passo fundamental. Porque quebra os preconceitos dominantes da "biomedicina" desvalorizadores das práticas médicas assumidas pela maioria da população, assim permitindo (incrementando? - não o posso afirmar de modo absoluto, não conheço a realidade sul-africana em detalhe) a sua integração na saúde pública.
E porque cria mecanismos auto-controladores do charlatanismo e, esperemos, de divulgação dos seus limites - veja-se a proibição da "cura" de doenças mortais como sida e cancro.
É um passo esclarecido.
Quanto à medicina tradicional refiro algo que considero fundamental. Com a praga da Sida ela surge como um poderoso, e quantas vezes único, produtor de esperança para doentes e seus familiares.
É uma situação limite. Pois por um lado é necessário combater a crença das possibilidades dos médicos tradicionais curarem a Sida, a cuja afasta doentes da medicina oficial e possibilita a disseminação da doença.
Mas por outro, dada a impossibilidade de cura e a desprotecção da população face à fragilidade dos serviços públicos e à renitência em praticar o sexo protegido, a medicina tradicional surge como único produtor desse recurso social fundamental: esperança.
A ver como corre esta integração na África do Sul.
Em Moçambique há longo tempo que estes passos, esclarecidos, foram realizados, com a oficialização dos curandeiros e a criação da sua associação regulamentadora, a AMETRAMO.