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Miguel Relvas em Maputo

por jpt, em 02.03.13

 

Miguel Relvas deslocou-se esta semana a Maputo para assinar alguns "protocolos desportivos" - sobre a inutilidade destes nem vale a pena esboçar argumentos. Há quem veja apenas fel nesta minha desilusão com as práticas de "cooperação" portuguesa. Mas não o é, é pura empiria. Em 1997 vim para Maputo e parte do meu trabalho era o acompanhamento das relações de "cooperação" no sector desportivo, sei um pouco do "patois". Daqui a dois anos ou quatro anos faça-se uma verdadeira avaliação dos efeitos destes protocolos e se tiver germinado algo de verdadeiramente real, estruturante, tragam-me o fogo para eu meter lá as mãos. O ministro terá ainda acompanhado uma feira de empresas portuguesas. E, presumo, contactou o estado moçambicano, neste formato actual, em que a desconfiança entre primeiro-ministro e ministro dos negócios estrangeiros o colocou como representante do PM na política externa. Essas já são coisas mais subjectivas, o governo saberá como tecer a sua rede de sustentação. Só espero que benéficas para o país. E, já agora, neste caso, também para Moçambique.

 

Interessa-me o eco local desta visita, e o que ele mostra da apreensão  do momento português. "Afinal o Relvas anda por cá?!" (assim mesmo, "o" Relvas), li no mural-FB de um colega académico moçambicano. O qual nem sequer estudou ou trabalhou em Portugal, não tem qualquer relação mais próxima com a realidade portuguesa, este dito vem-lhe mesmo do reconhecimento do ministro português. Sucederam-se alguns comentários jocosos e um outro, de académico bloguista, mais irado. Que se fosse Relvas a uma universidade moçambicana deveria ser boicotado, tal e qual Jonathan Moyo (o académico zimbabweano que como ministro da informação no início de XXI deixou uma vergonhosa imagem, repressiva e venal, e aqui em Maputo foi boicotado). O eco das difíceis relações de Miguel Relvas com alguns jornalistas portugueses a fazerem-se sentir. E, claro, num meio académico, o menosprezo pela vergonha de cidadania que é a "licenciatura" do ministro (e que conspurca letalmente os académicos que dela se tornaram parte, até antropólogo metido naquilo).

 

Miguel Relvas condecorou Mário Coluna. E bem ouvi, num dos locais do "Monstro  Sagrado", no qual sou também cliente habitual, a ríspida ironia,o sarcasmo militante, nas mesas de mais-velhos, gente de longa estrada atrás, sem pruridos, sobre quem condecorava o "Monstro Sagrado". Veio ainda lançar o jornal  "A Bola" aqui (o jornal colou-se às elites políticas de ambos os países, é seu direito estratégico, mas parece-me que isso lhe denota grave crise económica para assim se subalternizar). Discursou na cerimónia de lançamento e disse algo simpático (um pouco na linha de um texto sobre o assunto que escrevi há dois dias aqui), recordando que lia o jornal desde criança, a inócua e gentil frase "Aprendi a ler no jornal A Bola".

 

Resultado? Logo que o jornal saíu, a primeira edição moçambicana de A Bola, citando o discurso, este foi o curtíssimo rastilho da piada, patrícios a telefonar-se ou  a conviver, gargalhando em mesas de café: "Sabes onde é que o Relvas fez a primária?", "Leu a Bola e teve equivalência". Não, não são bloquistas (que não abundam por aqui, felizmente), são mesmo portugueses dos negócios, das empresas, alguns até convidados para estes eventos do "beautiful people" maputense. Gente patrícia, do contexto social e político do ministro e dos diplomatas que o acolhem. E que, tal como os académicos moçambicanos, não o respeitam. Precisarão dele. Acolhem-no, até pressurosos. E temem-no ("não escrevas sobre o Relvas ..." estou farto de ouvir. Entre-paredes e não só.). Mas não lhe têm pingo de respeito.

 

Como se pode governar assim? Mais, como se pode governar democraticamente assim?

publicado às 06:15


5 comentários

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De Rafertino Almeida a 02.03.2013 às 20:41

Na ubiquidade do seu discurso (exercício penoso) e em resposta à sua dúvida existencial, eis: uns acreditam em Relvas, como você, e outros não; uns acreditam no seu psd e outros não. Simples.
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De Rafertino Almeida a 02.03.2013 às 20:48

Portugal é como o jpt: culturalmente inviável por despejos de toneladas de retórica enrolada, redonda e bacoca. Torna-se inútil porque não comunica, não toca as pessoas, as massas, claro. Tal o vazio do vossos discursos.
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De Rafertino Almeida a 03.03.2013 às 12:27

Escreveu o jpt: «As coisas são sempre mais do que parecem. À primeira vista. E a quinquagésima vista, também.» E nem uma palavra, daquelas suas letimimamente saudosistas fazendo jus à sua saudável condição de tuga, sobre o enorme exercício de cidadania vivido ontem em Portugal com a Grândola Vila Morena. Parece estar pesaroso porque a sua prosaica embrulhada, cheia de palavra de uma quinhenta enciclopédica, felizmente ausente até no Moçambique colonialista. Adquiriu-a na verborreia académica na pior fase tugalheira e agora inibe-se de cumprir o seu desígnio, que auto elegeu, o de chafurdar África com esse lixo que lhe ofusca a clarividência e, já agora, o coração. Quando não podemos ser sol, como o Zeca foi (apareceu aqui muito antes de você), sejamos sombra e aproveitemos o prazer que proporciona. Oiça mais Zeca para amolecer po coração e leia mais Carlos Castaneda, seu colega, para aprender humildade e saber que não há canudo universitário nem razão mais aprimorada que substitua a humanidade. Ainda vai a tempo.
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De ghy a 04.03.2013 às 02:33

Em suma, o Relvas envergonha o país - como seria expectável.
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De jpt a 04.03.2013 às 07:18

Se fosse só isso ... É até demencial a presença de um homem destes no poder

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