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Quero ver Portugal na CEE

por mvf, em 22.03.13


Fiz esta fotografia por volta de 86, com um Soares anunciando a entrada na então CEE como se de um vulgar detergente se tratasse e como se fosse ele o único responsável pelo processo. Talvez o caso não fosse para menos, a felicidade do sonho europeu, leia-se o dinheiro que entraria a rodos ( e não seria preciso contabilidade organizada para justificar os gastos... ), resolvia o estado em que Portugal se encontrava, passados que eram uma dúzia de anos sobre a revolução de 25 de Abril de 1974, um PREC - que agora alguns querem à viva força recuperar como um tempo de felicidade e progresso, embotando a memória de outros tantos que são, afinal, muito mais - uma saída atabalhoada e, muitas vezes trágica, dos territórios ultramarinos que passou de exemplar a " foi a possível", duas entradas do FMI pela porta grande da Portela de Sacavém que hoje parece ser episódio apagado dos responsáveis da altura (Mário Soares é um e o primeiro) e dos seguidistas dos aparelhos partidários dominantes, se preferirmos podemos sem dificuldade pensar em blocos centralizados com matizes alaranjadas e rosadas, ou Soares & Cavaco Limitada e suas versões subsequentes, com mais ou menos embirrações dos dois (porra mais os gajos que juntos somam nos cargos que foram ocupando quase tantos anos como o Matusalém!), o facto é que andaram de línguas entrelaçadas dentro das respectivas bocas anos a fio. Certo é que foram tempos eufóricos aqueles que se seguiram à entrada na CEE e mais ainda com a entrada na moeda única, o agora desiquilibrado e a caminho de ser enjeitado €uro... Não foi exclusivo português e foi uma festa de que a vilanagem não se fartou. Enfim, está à vista de Lisboa a Nicósia, de Madrid a Atenas e a ver vamos se de Paris a Budapeste com abastecimento de jornada no discreto Luxemburgo, que parece não existir como lugar de repouso de capitais variados, o verniz homogeneizado europeu não estala de vez. Entretanto o inglês lá continua com a sua livre libra e manda o resto às urtigas que a Velha Albion não vai em cantilenas. Curioso notar que os antigos e secos eurocépticos floriram, andam felizes e esfregam as manápulas de contentamento pela eventual razão antecipada que apregoaram, ou seja, que a coisa não ia porque não podia funcionar, esquecendo-se que a verificar-se o esfumar da organização, um bocado do céu lhes pode cair em cima das cabeças, os não-crentes na Europa unida, da Esquerda que faz tempo não (o)usa dizer-se extrema pois já não defende a ditadura do proletariado a céu aberto como o não faz com outros estandartes esfarrapados, desajustados do discurso em pleno séc. XXI, século sem ideologias, e da Direita, que já a não há Ultra a não ser em estádios de futebol e bairros relativamente típicos e/ ou suburbanos de muitas cidades dos 27 - é o que se supõe e seria bom não haver grandes distracções... -, uma Direita que também ela se moldou mas que, no fundo se não rendeu, igualmente aos encantos de Bruxelas, saltam das respectivas tocas ou covis ( à escolha o termo consoante pareça mais adequado) numa sagração primaveril que, não espantando, entristece. Depois há ainda os que consoante o vento fazem como a Maria: vão com as outras. Foram europeístas convictos, tornar-se-ão anti-UE se tiver que ser, dirão tranquilamente que sempre questionaram a ideia europeia mas nunca exteriorizando as dúvidas porque não venha o demo tecê-las e porque é sempre bom dizer que sim à titi (agradeço ao velho Eça esta relíquia que me serve de bengala), foram até federalistas num tempo que se pensou ser esse o caminho, aplaudiram de pé, e portanto com entusiasmo, Maastricht e o Tratado de Lisboa mesmo sem entenderem porra nenhuma, aliás como eu, e sentados nas últimas filas das salas que frequentam com acesso garantido por filiação partidária e salário vindo do erário público, pois um dia, ai que esse dia tarda mas não falha, estarão os até agora anónimos, prontos e diligentes na linha da frente dos destinos dos seus países, cidades, vilas , aldeias ou qualquer merda que lhes garanta um penacho que lhes enfeite os cornos e lhes disfarce as fuças mal desenhadas e que se lixe o resto que um poleiro, normalizado como o das galinhas poedeiras segundo normas da UE, é o que interessa e, na verdade, esta gente sem préstimo conhecido não vê para além dos seus amados líderes que sonham substituir quando chegar a hora. A esses, chamam-se com injustiça evidente, lambe-botas, carreiristas e qualquer taxista de Lisboa numa linguagem mais livre os tratará de chulos, gatunos e por aí abaixo. Uns ingratos estes taxistas, já se vê...

Enfim, acabo já com o relambório enfastiante, pois estamos como se sabe, se é que se sabe como é que estamos...

Fica como fecho deste mal amanhado desabafo sobre a situação em Portugal, desculpem o paroquianismo mas (ainda) é na gasta Pátria que vivo, e na Europa da União Europeia, uma delicada expressão de Ramalho Ortigão - em "Carta aberta a Sir John Bull" - sobre a Inglaterra, no dizer de Heine, uma indigesta ilha, e que me parece poder ser utilizada em âmbito mais vasto:

"Só o nojo de vomitá-la, impediu o mar de engoli-la"*

Vosso, enfadado, enjoado, lixado e cheio de sono
mvf


*cito de cor e peço desculpa à ramalhal figura por eventual falta de rigor


Foto: ©miguel valle de figueiredo, Lisboa, circa 1986

publicado às 07:22


1 comentário

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De AL a 23.03.2013 às 07:00

Abencoada diatribe! Que nunca os dedos te doam de assim teclares

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