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Balada da Ameixa Seca

por jpt, em 16.04.13



Balada da Ameixa Seca

 

Vai à mercearia e compra ameixa seca,

P'ra o intestino a ameixa é levada da breca!

 

O mal do Ocidente - quem há que não o sinta? -

é não ter a tripa sempre limpa.

 

Com seus altos valores, o Ocidente

dá por demais ao dente, dá por demais ao dente.

 

Põe-me os olhos nos povos que só comem arroz:

dão melhores guerrilheiros do que nós.

 

Um saquitel de arroz, uma biciclet',

arma na bandoleira - e lá vai o viet.

 

"Noss'povo" ao contrário, como o que apanha à mão.

Até parece fome de muita geração!

 

E larga, já comido, o corpo em qualquer canto.

Sonha Terceiro Mundo e é Europa, entretanto.

 

Encostado ao sobreiro ou ao ficheiro,

"Noss'povo" já nada tem de marinheiro.

 

Sua tripa, represa, é trabalhosa.

Sua prosápia já só é má prosa.

 

Portugal-do-casqueiro à Europa-das-latas

manda cortiça, vinho, diplomatas.

 

Espera contrapartidas: sol-e-vistas

é cartaz que atrai muitos turistas.

 

Mas com a ameixa seca - coisa pouca! - 

é que pode acordar sem amargos de boca.

 

Vai à mercearia e compra ameixa seca.

P'ra o intestino a ameixa é levada da breca!

 

(Alexandre O'Neill)

publicado às 20:24



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