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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Os homens não falam muito do assunto, não é exactamente o tema de conversa mais apetecido. Percebe-se, a gente não fala das pilas próprias (ainda que falemos menos das hemorróidas, o que denota bem a hierarquia das vergonhas masculinas no nosso [meu] contexto cultural). Ainda assim nas poucas conversas sobre o assunto que vão havendo, nunca encontrei alguém que me dissesse que com ele o Viagra não funciona, sendo que aqueles que se sentem livres para falar da bela pílula azul se congratulam com os efeitos. Num contexto mais multicultural (ou globalizado) também se saúdam os efeitos do Furunbao, produto chinês que intenta os mesmo objectivos.
Também por isso tanto choca e irrita a persistência da estúpida superstição, essa metonímia do corno de rinoceronte moído como indutor de erecções. A questão não é de mera sensibilidade exarcebada, amor aos "bichinhos". Pois os rinocerontes estão, pura e simplesmente, perto da extinção. Uma desgraça ecológica, completamente inútil e desnecessária. Fruto deste boçalismo, crendices tontas.
Entenda-se, a caça furtiva à fauna bravia foi continuando, difícil de erradicar, mas desde há alguns anos, com a explosão das interacções comerciais entre África e a China, devolveu-se ao vigor de há algumas décadas. Para além das torpes crenças inexiste na China uma sensibilidade ecológica socialmente poderosa . E não existem formas institucionais de controlar efectivamente estes tráficos (ilegais). Nem por lá, e muito menos nos países africanos. Que estão a ser ecologicamente devassados, numa verdadeira orgia colonial. Mas que não o entendem deste modo, disfarçando esta vasculha com o nome de "desenvolvimento" e "ajuda".
Nota-se esta desgraça nos detalhes. Indo ao Kruger (que tem sido um verdadeiro santuário), desde há mais de um ano que não há informações para os visitantes sobre a localização de rinocerontes (como há para outras espécies mais procuradas). Tamanha é a dimensão da caça, dentro dos limites do parque.
E nota-se nas grandes coisas. Como nesta tenebrosa fotografia. Produzida por uma crença imbecil. E por uma "indústria" miserável. Velha de séculos.
Adenda: Na caixa de comentários Wim deixa este comentário: "O combate à caça de rinocerontes é uma causa nobre, mas não acredito que a divulgação de mitos (com contornos racistas) contribui para isso. "One repeated misconception is that rhinoceros horn in powdered form is used as an aphrodisiac in Traditional Chinese Medicine (TCM) as Cornu Rhinoceri Asiatici (犀角, xījiǎo, "rhinoceros horn"). In fact, it is prescribed for fevers and convulsions." (http://en.wikipedia.org/wiki/Rhino_horn#Horns)".
Porventura. Em absoluto tem razão, convém saber exactamente as causas da procura e os contextos de aquisição, para melhor se combater o assunto. Mas três pontos a este pretexto, ou seja a ideia, que ouço há anos, que existe na China a crença das potencialidades afrodisíacas do pó do corno de rinoceronte, e que Wim contesta:
a) Envia-me para a wikipédia. Acontece que, como aqui referi, explicitando empiricamente, não creio na wikipédia. Para fazer este rapidíssimo postal, sobre algo do qual pouco sei, fiz uma pesquisa e consultei duas páginas, uma que não lembro e esta WildAid. Ambas referem a crença nas propriedades entesadoras do pó-de-corno. Aceitei-as como verdadeiras, até porque articuláveis com o que sempre ouvi. É isso falso? Fica aqui a nota. As páginas apontam outras causas para a sua procura (por exemplo ele agora é um rival do Guronsan) e eu não as apontei. Preferi um tom sarcástico sobre o assunto. Merecem melhor os imbecis?
b) Wim considera que divulgo mitos. Porventura, mal-informado estarei, más páginas consultadas. E que os mitos têm contornos racistas. Co(nto)rnos racistas, talvez. Vou então aceitar que sim, que são mitos, que como dizem outras páginas (a wikipédia, por exemplo) a crença em vários contextos asiáticos é que o pó-de-corno de rinoceronte cura febres, reumatismos, maleitas várias, cancro, ressacas, etc. Mas não se acredita que dá tesão.
Aceito que o conteúdo do postal esteja errado (não vou estudar sobre o assunto e não me custa a acreditar nisso). Não compreendo mesmo é onde está o co(nto)rno racista. Mas que raio é o racismo para ser assim atirado ao ar? Confesso, não me cabe nos co(nto)rnos. Talvez por não ter paciência para estes pruridos dos correctismos. Para as correcções tenho, para os correctismos não. Nunca.
c) Nesta última pesquisa sobre a questão encontrei um artigo sobre o actual tráfico. Muito interessante: The undetected trade in rhino horn-