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Zandamela

por jpt, em 11.10.04
foi-se hoje embora. Assim mesmo.

Nunca foi machambeiro, reconhecíamos o

o antigo marinheiro em todo esse mar,


nesses tons do impressionista do bairro Romão.

Dizem-me que procuraste a água no fim, esse que chegou súbito, ainda sem teres arranjado aquele barco que era teu sonho desejo.

Fico-me com um mar teu na parede, que sempre me lembra o dia que o carreguei, aquele dia do Bento Mukezwane. Fico-me sem te ter ido buscar ao Infulene, com Idasse claro está, porque é natureza deitarmos fora a vida. Fico-me a lembrar, hoje, coisas comuns lá pelo "Franco", breve breve mas ainda deu para qualquer coisa, essa exposição mais que tudo. Fico-me, e estou-o agora, a lembrar essa gargalhada de corpo grande, prantada num célebre rodízio com Sitoe, Gemuce e o Dentinho, num antes-do-Porto, tempos tão mais felizes, mais imortais ainda. E fico-me nos almoços no teu Romão, nessa casa de portão grande, e lá ao fundo, tão fundo, recortando o mar aquela linha de árvores que te enchia as telas...fico-me sem termos bebido aquele copo combinado.

Andamos a desperdiçar a vida Zanda. Fico-me com palavras, essas que dizias terem "ritmo, teixeira, tens ritmo". Sim, talvez, mas sem cores.

(foto e reprodução inicial do catálogo da individual "Um Homem com Muitos Amores", 2001; 2ª reprodução do catálogo de "Outros Olhares", Fundação Júlio Resende, 1999).

publicado às 23:57


4 comentários

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De Frederico Roldão a 20.01.2009 às 10:12

Custa-me tirar os três aos comentários deste post, tão puro que estava e que, se calhar, deveria continuar, mas encontrei nele uma oportunidade de chorar para fora aquilo que ando desde 2004 a chorar para dentro. Morreste, sacana! Parece quase ridículo estar aqui a tomar o pequeno almoço em frente ao PC, em Janeiro de 2009, mais de 4 anos depois do dia em que, pela última vez, te fizeste ao mar, e estar a escrever isto com lágrimas nos olhos entre as torradas e o sumo de laranja. Mas este post do Zé assim me pôs e só tenho a agradecer-lhe. Finalmente elas sairam, as putas, que teimavam em ficar de dentro. Tenho saudades tuas, sacana, e penso em ti muitas mais vezes do que em tantos outros que também já foram. Que se lixe, somos amigos na mesma, ouviste? Não há de ser porque foste ali e já vens que o deixamos de ser. Qualquer dia apanho-te, e até lá moras cá em casa, nas paredes. Sacana!
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De lelio a 21.06.2009 às 23:09

eu que convivi os ultimos momentos com o mestre sandas como ele era tratado ,la no kentuki na casa dele no romao a bebermos os whisckis e azeitonas na mesa ,que saudades do meu mestre,as nossas brincadeiras la no nucleo,ainda me lembro da ultima pintura dele feita de coco ,e guardo boas recordaçoes do mestre o dia que me pediu empretado os meus sapatos e que eu acabava de compra no polana shoping e ele dice mucuba eu preciso ir a embaixada de portugal falar com o embaixador preciso de mola e eu lhe dei os sapatos e tenho guardado ate hoje os sapatos dele,e tenho a biografia dele feita manuscrita e obras de arte ,me lembro das nossas brincadeiras no nucleo no restaurante da Ana rodrigues qunando ele chamava a Ana de gioconda eu era o o principe herdeiro e o viler conselheiro ,falar de mestre zandas posso fazer um livro e que um dia o farei porque oque convivi e vivi foi muito agradavel e aprendi muita coisa com ele como amigo,pai,irmao,mestre etc,quando subi da morte dele fiquei chocado da maneira que ele moreu la no lago cheio de matope ,bom tempos se foram aqueles que a gente sentava no nucleo a rir ,pintar em fim e avida.esperem do meu livro brevemente as memorias do mestre zandas
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De rico a 07.10.2009 às 12:42

eternas saudades do mestre dos mares,,,mas quando numa paisagem pinto a lua ,nela vejo a tua figura pois foste tu que me ensinaste a pinta la naquela tarde mocambicana no nucleo de arte mas mal sabia que estavas prestes a partir para os oceanos longinquos.
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De Zé Tomaz a 28.03.2010 às 08:49

Pintaste com os pincéis e tintas que eu tinha herdado do meu pai. Estudámos juntos na Escola Náutica mas o teu mar era outro. O mar do óleo sobre a tela repuxada que tão bem sabias navegar.
Tinhas, como todos nós os teus problemas. Por vezes vinhas ter comigo todo rasgado, como um caçador que acabou de lutar com um leão de mãos nuas. Era relativamente simples controlar essa besta que se apossava de ti. Podia ter-te dado mais do que os pincéis do meu pai. Talvez por isso não tenha nenhum quadro teu nas minhas paredes.
Tenho mesmo saudades tuas.

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