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Imagem Passa Palavra

por jpt, em 07.11.04
O projecto IDENTIDADES, almeado por José Paiva, lançou esta semana em Maputo "Imagem Passa Palavra", um livro que associa obras de 50 artistas plásticos e 50 escritores dos países de língua oficial portuguesa.

IDENTIDADES é um belo projecto de articulação, centralizado na Cooperativa Gesto (Porto), na Faculdade de Belas Artes do Porto e na Escola de Artes Visuais (Maputo). Desde 1996 que tem desenvolvido as suas actividades, de modo constante. E com muito boa onda. Rara. Para além das manifestações artísticas e da interligação pedagógica, esta muito frutuosa, o IDENTIDADES conseguiu por ora incluir a Faculdade de Arquitectura do Porto no projectar da futura Escola de Artes Visuais aqui.

Muito honestamente Paiva e sua gente, bem como a EAV, têm dado um exemplo de como com algum apoio institucional, nada faraónico, se podem produzir belos e duradouros frutos na "cooperação" cultural. E, repito, têm muito boa onda. Em linguagem mais séria, entenda-se mais política, dir-se-á que têm a atitude correcta para quem faz coisas num estrangeiro muito especial. Um estrangeiro mútuo. Enfim, são um case-study. Aliás a ser feito. Que venha a servir para consulta aos candidatos a profissionais!


"IDENTIDADES é um movimento artístico, iniciado em 1996, com um programa de intercâmbio cultural entre Moçambique e Portugal. Desde aí tem cumprido diversos projectos e realizações, partilhadas também por pessoas de Brasil e Cabo Verde, países ligados pela língua portuguesa.

Em 200, o IDENTIDADES inicia a sua actividade editorial em livro com o lançamento da "Colectânea Breve da Literatura Moçambicana". Este livro reúne prosa e poesia (inédita ou não) de escritores moçambicanos, quer jovens, quer consagrados. (...)


A teia de relações que se estabeleceu ... animou-nos para a continuação da actividade editorial... Nesta nova obra invertemos a corrente: a imagem foi realizada primeiro, por 50 artistas plásticos...A partir das imagens, os escritores desafiados escreveram 50 textos inéditos, sendo que ficou estabelecido que os "duetos" não deveriam ser formados por pessoas da mesma nacionalidade (...)

Identidades, 2004".

Do livro retiro algumas ilustrações, ao meu gosto. Para provar que vale a pena? Sim, mas acima de tudo por prazer. E amizade. Assim aqui ficam pequenos excertos, de onde há muito mais.

O Velho ainda legou este:

Minha pausada forma de respirar.
Meu impestanável silêncio absorto.
A cabeça inclinada para o lado inverso
e nos lençóis a imobilidade dos dedos
não significa para a jovem nua deitada à esquerda
que o Zé da viagem aos cios do grande rio Zambeze
regressa ao Zé dos imenso lago Niassa do tédio?

(José Craveirinha)


(Rui Assubuji)

Suleiman Cassamo está, e é sempre bom sabê-lo na escrita. Faz falta. Em especial quando vem dizer: "Agora, o menino ranhoso que mijava no ntehê, nas costas da mãe, é dono do seu nariz. Acredita não ter inventado não só a vela mas também o vento da sua errante navegação. Revê-se na aranha, traçando o seu destino cósmico com a matéria da própria saliva".


(Ciro Pereira, fragmento)

Guita Jr. numa prosa até longa que lhe desconhecia, com a bela história de "Jesuíno Zaqueu, o Zaqueu para toda a gente da pequena e humilde cidade do sul, cantava cego o seu refrão para os transeuntes surdos da sua canção...Uma existência de total remissão. De pecado."


(Gemuce, fragmento)

Panguana também veio, para acabar: "E de vez em quando um pássaro que irrompe casa adentro e ensaia um cântico sempre que o poeta, triunfante, olha para o poema acabado e grita: Eureka!"



(Idasse, fragmento)


E muitos outros, daqui e não.

Confesso que estes livros, coisas objecto, colectâneas-encomendas, nunca me dizem assim nada, quase sempre falham. Coisa diferente aqui. Alquimia. Talvez a alquimia do IDENTIDADES.

publicado às 08:16


8 comentários

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De Fernanda Angius a 26.04.2009 às 20:32

Como poderei aceder ao IDENTIDADES?
Ligada há muitos anos a Moçambique e a tudo o que se relacione com a sua cultura e respectivas manifestações, gostaria de ter a colectânea de que se trata aqui. Suleiman Cassamo é o escritor noçambicano mais dotado de senso de economia narrativa que conheço, senso esse que o fragmento confirma. Num simples parágrafo podemos vislumbrar a história que vai da infância ao projecto de vida...
Fernanda Angius
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De Fernanda Angius a 31.05.2009 às 15:50

Venho, todos os dias, desde que conheci «Ma schamba», visitar os excertos das obras recolhidas para exemplo do IDENTIDADES.
Desejo cumprimentar particularmente Idasse, Gemusse e Ciro Pereira aiigo que a distância tornou distante. Um grande abraço de parabéns a todos! Depois gostaria muito que Sulimane Cassamo, o «meu Sulimane», voltasse realmente à grande literarura para a quel o engenheiro é dotado.

Acreditando na força comunicativa deste blog, estou certa de que muito mais se ficará a conhecer da rica cultura moçambicana.
Só há dias fui informada do verdadeiro nome que se representa pelas iniciais e que é resoponsável por este bolg. A ele os meus parabéns por estar agora a ser um verdadeiro adido cultural da lusofonia.
Fernanda Angius
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De jpt a 31.05.2009 às 18:21

Obrigado pelas suas palavras, e pela atenção que dedica a este blog.
O verdadeiro nome está afixado no blog - um blog de jpt faz aceder ao meu nome e descrição substantiva.
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De Fernanda Angius a 04.06.2009 às 00:32

Amigo José Teixeira, só através da minha amiga Inez Paes soube a quem pertencia o Blogjpt pois nem sequer o sabia ainda em Maputo.
Dou-lhe os meus sinceros parabéns pelo seu blog que é uma fonte de informação muito útil a todos os interessados(e são muitos) que através dele estão menos distantes do país que conservam no sangue e na saudade.
Cumprimentos da velha colaboradora Fernanda Angius
Fernanda Angius
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De Joao Paulo Bias a 15.01.2010 às 19:29

Tenho conhecimento de haver um trabalho de autoria de Gemusse assente no percurso das artes plasticas em Mocambique desde os anos 1960 ate 2007, no qual sao apresentados os trabalhos mais representativos da arte nacional (se nao estou em erro). Este trabalho podera servir de base para a apresentacao de um projecto que pretendo levar a cabo no presente ano, assim ocorreu-me por este meio pedir autorizacao para fazer o seu uso se for possivel conceder-me a obra. muito obrigado.
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De Adélia André a 24.01.2010 às 12:11

Olá Guita Junior e a todos. Fui aluna da Faculdade de Belas Artes de Lisboa e do Porto e estou a conhecer este projecto agora, através deste blog. Como "ainda" estou a dar aulas numa escola secundária de Lisboa surgiu-me a ideia de fazer um projecto com os meus alunos para dar a conhecer a arte Moçambicana, principalmente, a arte genuína do povo de Inhambane. Gostaria que me dessem sugestões. Obrigada
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De Fernanda Angius a 28.01.2010 às 14:01

Cara Adélia,
O Zé Paiva está no Porto onde vive e é professor. Ele será a melhor ponte para se informar. Desde o início colaborei no projecto que, entretanto, cresceu e teve felizes resultados. Será muito bom encontrar mais ercos em Portugal. Infelizmente não posso dar-lhe o email do Zé Paiva, mas se o pedir ao jpt ele certamente o terá ou o Ciro Pereira que também faz parte do projecto.
Felicidades para o seu projecto e um abraço da Fernanda Angius
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De Adélia André a 29.01.2010 às 21:57

Obrigada Fernanda Angius. Se alguem souber então o contacto do Zé Paiva agradecia que me enviassem para adeliamrandre@lavabit.com
Um abraço . AA

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