Em tempos aprendi que os "testes" de QI serviam para medir a inteligência. E que a "inteligência" era aquilo que os testes mediam. Não era piada, era um discurso analítico crítico sobre a construção do conceito, da sua métrica. E também da sua utilização, pois foi ele socialmente aferido de molde a valorizar características culturais (mais) presentes nos indivíduos de determinados grupos sociais, étnicos, até nacionais e, também, de género.
Mais ou menos sociocêntricos, mais ou menos etnocêntricos, os "testes de QI" surgiam como instrumentos desqualificadores de grupos sociais, reprodutores de hierarquias sociais. Justificando-as como "naturais", em cúmulo de repressão social, em cúmulo de inculcação auto-culpabilizadora dos desapossados, pois derivadas essas hierarquias, e respectivos lugares, das capacidades em "inteligência", apresentadas como algo praticamente inato.
Entenda-se, os testes de QI apresentam uma hierarquia social como se que natural. Assente no critério mais valorizado nas sociedades modernas, a racionalidade individual, essa "Razão".
Esta naturalização ideológica implica que os "testes de QI" surgem como mecanismos de exclusão social. De exploração. Produtos de técnicas engenheirísticas cuja aparente cientificidade lhes brota do cardápio de números alinhados que agitam sob o nariz dos incautos.
Mas isto aprendi há já uns tempos. Talvez tudo tenha mudado desde então.
Ainda assim, e porventura desactualizado, nestes últimos dias, ao ver uma pretensa esquerda brandir, de blog em blog, a tabela QI médio por estado (americano) / sentido de voto Bush vs Kerry, já não me surpreendi: porque esta não é uma "esquerda caviar" é uma esquerda "salsicha Nobre".
E daqui sai um abraço, sobre as nossas hipotéticas diferenças, ao
WR.