Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




margarido-surpresas-da-flora

[Alfredo Margarido, As Surpresas da Flora no Tempo dos Descobrimentos, Elo, 1995]

 

Estudo sobre as descobertas no domínio da flora durante a expansão renascentista portuguesa e das formas como esta foi integrada no quadro intelectual da época. Aborda ainda, de modo mais sumário, as transferências intercontinentais de plantas induzidas pelos portugueses. O autor situa nessa época o surgimento da Ecologia-Mundo, dínamo da Economia-Mundo (utilizando o conceito de Wallerstein). Recusa a visão da expansão como economicamente monopolizada na busca de especiarias. Pois a a esta encontra-a articulada com a "culturalização" da natureza pela introdução das plantas mediterrânicas com tradução religiosa cristã (uva e trigo) mas fundamentalmente com a adopção de culturas comerciais, objectivo logo inicial, como prova a introdução da cana-de-açúcar na Madeira.

O processo seguinte será de trânsito intercontinental de plantas, alterando a paisagem natural (e simbólica), em busca de resultados económicos. É este processo, global, que aponta como marcador do advento da Modernidade. E que vê cruzado, nos seus sucessos e insucessos, pelas resistências diferenciadas das populações às adopções alimentares, derivadas do etnocentrismo alimentar.

Analisa ainda os processos como os cronistas e especialistas portugueses de XV e XVI narraram a descoberta da nova flora, inicialmente tentando reduzir a novidade ao quadro intelectual existente, em particular através das analogias escritas, posteriormente com o ilustrador Christoual Acosta (meados de XVI) tentando explorar as divergências encontradas face à flora conhecida - ou seja, o autor valoriza a tecnologia de comunicação enquanto factor de produção intelectual. Lembra ainda como com autores como Duarte Barbosa e Garcia da Orta se rompe, pela primazia do conhecimento empírico e experimental, com a autoridade dos textos da antiguidade, em particular com a influência de Plínio, esse generalizado processo do Renascimento.

Defeitos: sendo o livro profusamente ilustrado com gravuras da ópoca sobre plantas estas não estão identificadas. Regista-se ainda que sobre muitas das plantas que são referidas como integradas no processo de transferência intercontinental são-no em breves textos, quase "fichas" de referência, sem particular detalhe sobre seus efectivos percursos históricos. Dando assim um ar inacabado ao trabalho.

publicado às 01:25


Bloguistas







Tags

Todos os Assuntos