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- Não és demasiado reaccionária para andares nessas lutas sindicais? - perguntou naquele tom sarcástico que o caracteriza e me faz seguir a sua prosa há anos.

 

- Sim, creio que sim – aquiesci - mas alguém tem de o fazer.

 

E mais não esclareci porque impunha-se que os deixasse.  Com um rápido “Até breve. Gostei muito de os reencontrar” despedi-me. No entanto, confesso que neste último mês ensaiei para mim própria várias respostas a esta pertinente pergunta.

 

Se o movimento sindical surgiu com a origem do capitalismo e da industrialização dos meios de produção na Inglaterra, no final do séc. XIX as várias associações sindicais existentes na Europa já se organizavam por ofícios e obedeciam a orientações de carácter teórico que moldavam a sua organização interna. Essas variações teóricas estiveram na génese do sindicalismo revolucionário, na sua vertente socialista e anarquista, do sindicalismo reformista e, mais tarde, do sindicalismo corporativista. Não é este o espaço e o lugar para explanar sobre o conteúdo destas tendências que, após a I Guerra Mundial, contemplaram ainda modelos ligados ao comunismo e ao fascismo e outros de carácter cristão ou independente.

 

O certo é que nos E.U.A., na Alemanha e nos países nórdicos a maioria dos movimentos sindicais está desvinculada de qualquer força partidária. O seu intuito não é alterar o sistema político, mas ‘bater-se’ pela melhoria das condições laborais, com base na negociação, ao mesmo tempo que restringe a greve a acções sectoriais.

 

Esta não é a realidade portuguesa, reconheço. Um pouco por todo o lado ouve-se dizer que o sindicalismo está moribundo. Igualmente muitos dos meus amigos próximos não entendem a razão pela qual empreendi nesta travessia. Perguntam-me muitas vezes: - Mas o sindicalismo enquanto grupo de pressão ainda faz sentido? E eu pergunto-me também: - Realmente porquê? Porque acredito profundamente que o sindicalismo não pode definhar, mesmo pautando-se pela filiação partidária como acontece cá no burgo? Porque tenho ambição de modificar consciências? Ou algum desejo de protagonismo?

 

Por mais hipóteses que coloque só vislumbro uma possível réplica. Prepotência! Agir sobre a prepotência, sobre a falta de humanismo em situações que, efectivamente, requerem algum tipo de mudança.

 

E a fechar esta estreia de carácter existencialista em tão prezado blog, pergunto ainda: Afinal, isto tudo para dizer o quê?

 

Talvez para reiterar a ideia da prepotência (onde somos vítimas e portadores) como 'coisa' que me apavora e sobre a qual me sinto obrigada a agir.

 

VA

publicado às 18:31

Venham mais cinco

por jpt, em 31.08.11

 

 

Eu que adoro o calendário laico que tanto irrita o nosso JPT, não podia deixar de me associar a este dia blogueiro. Sou relativamente nova nesta coisa da blogosfera, não conheço os bloguistas e a minha recomendação baseia-se em dois critérios: a) de uma forma geral gosto dos posts e b) o(s) autor(es) estão identificados. Poucas coisas me irritam mais que o anonimato e alcunhas que escondem quem por aqui escreve.Aqui ficam então as minhas cinco sugestões de blogs que eu gosto e que sigo regularmente: o Porto Sentido, que quase diariamente me alegra os olhos; o Diplomata porque foca assuntos de política internacional que me interessam; o Travessa do Fala Só,  a Domadora de Camaleões e o Biografias com Luz porque sim.

 

AL

publicado às 01:19

 

31 de Agosto, convencionalmente o Dia do Blog. Sim, já aqui me tenho irritado com este calendário laico que substituíu os santos do dia pelas causas justas do dia. Mas se todo o gato pingado tem o seu dia também os daqui podem ter o seu. A ideia, já com alguns anos, é de celebrarmos isto da bloguice apontando "novos blogs, de outros países ou áreas de interesse ... recomendarão novos blogs aos seus visitantes. (...) de preferência, blogs de cultura, pontos de vista ou atitude diferentes do seu próprio blog.". É simpático, uma celebração nada castrense, invocando a pluralidade, sublinhando isto da abertura (democraticidade) que é a boa onda disto de cada um botar as suas opiniões, sem mediadores - e dá para recordar o fel que os jornalistas dedicavam aos blogs há alguns anos (entretanto intentaram a colonização blogal ...), exactamente por lhes questionar esse estatuto social que lhes é (era) fundamental, o de "filtro".

 

Quanto à tal celebração, democrática, despolarizadora, pede-se a divulgação de cinco blogs. Recordo que acima, logo abaixo do nome "ma-schamba", há o Rol d'Elos, que está actualizado e é vasto. Mas nesse sentido de procurar algo diferente do que para aqui boto ligo A Vida Escrita, Beijo de Mulata, o Café Central e o Da Casa Amarela. E o PembaAtoll, que é a espécie de blog que eu gostava de ir escrevendo (no conteúdo e no sítio, claro).

 

jpt

publicado às 00:01

No consulado de Portugal (Av. Mao Tsé Tung) uma colectiva de nove artistas, em colaboração com o Núcleo de Arte: Reinata, Naftal Langa, Makamo, Mpfumo, Nachaque, Mahazul, Mapfara, Simione, Pekiwa. Um belo painel sobre a escultura actual em Moçambique. Mais do que recomendável visita. Inaugura quinta-feira, 1 de Setembro, às 18 horas (momento da chamussa) e continuará nas semanas seguintes.

jpt

publicado às 23:21

O 6º Dockanema, festival anual de filme documentário de Maputo, está a chegar, com cerca de 80 filmes e actividades paralelas. Começa para a semana a 9 de Setembro, a apresentação já está e o programa detalhado est(ar)á no sítio aqui ligado. Bons filmes.

jpt

publicado às 23:08

Seminário ma-schamba

por jpt, em 30.08.11

[MVF, jpt, FF]

Decorreu no passado mês, em Lisboa, o nada-periódico seminário do "ma-schamba". Nele constou um painel etnográfico, sob os ditames da observação participante, dedicado à gastronomia alentejana. O encontro decorreu nas instalações do restaurante "Magano", em pleno Campo de Ourique, tendo os participantes saído agradados com o "folclore" encontrado. Discutiu-se ainda a agenda bloguística interna, desde rejuvenescimentos endógenos à contratação de reforços. Subsidiariamente os participantes (e respectivas) dedicaram alguma atenção às dramáticas situações do euro e do sporting, à mitologia benfiquista, ao novo governo português e ainda, com algum detalhe, as perspectivas a curto prazo das praias oceânicas e fluviais da "gasta pátria", como muito frisou o catedrático presente. Em jeito de conclusão, e como se de actas se tratasse, foi exarado um lamento pela ausência dos confrades ... ausentes. A fotografia retrata o final dos (longos) trabalhos.

jpt

publicado às 15:26

Na Ilha de Moçambique

por jpt, em 30.08.11

 

Será que os visitantes deste blog adivinharão quem estará na Ilha de Moçambique em Dezembro próximo?

 

jpt

publicado às 11:11

E para terminar uma semana supra-preenchida que tal ir ao Centro Cultural Brasil-Moçambique (o "velho" CEB) ouvir Amy Caldwell de Farias [quinta-feira, 1 de Setembro, 18 horas] que apresentará uma comunicação sobre "Independência do Brasil: novas interpretações". Historiadora americana, professora em Illinois, está em Moçambique para fazer pesquisa sobre a presença de brasileiros no vale do Zambeze nos séculos XVII e XVIII. E, honestamente, é mesmo sobre este último assunto que eu fico curioso, e que gostaria de a ouvir falar. Sobre o que encontra e sobre o como constrói.

jpt

publicado às 10:58

História do cinema moçambicano

por jpt, em 30.08.11

 

A oradora será Ute Fendler, alemã, catedrática em Literatura e Estudos Comparados na Universidade de Bayreuth.A sessão decorre exactamente após os seminários anunciados na entrada abaixo, e na sala ao lado. Uma manhã bem preenchida.

 

jpt

publicado às 10:04

jpt

publicado às 09:51

[Lula, então presidente do Brasil, em visita a Moçambique]

 

Sobre o anunciado projecto de cedência de 6 milhões de hectares a agricultores brasileiros para desenvolverem plantações de produtos comerciais aqui transcrevo um interessante texto de Beluce Belucci, "economista, doutor em história econômica pela USP. Trabalhou mais de 12 anos em Moçambique, onde coordenou projetos agro-industriais na região de Niassa, Cabo Delgado e Nampula, após a independência em 1975, no ministério da Agricultura e no Banco de Desenvolvimento. Foi diretor do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro."

 

Esta terra ainda vai cumprir seu ideal publicado em 16/08/2011

 

Por Beluce Bellucci

 

A manchete do primeiro caderno da Folha de S. Paulo de 14/08/2011 “Moçambique oferece ao Brasil área de 3 Sergipes”, para o plantio de soja, algodão e milho a agricultores brasileiros com experiência no cerrado, parece trazer uma grande novidade e oportunidade aos capitais e empreendedores brasílicos. A longa matéria no caderno de economia expõe que estas terras estão localizadas nas províncias de Nampula, Niassa, Cabo Delgado e Zambézia, situadas ao norte daquele país. No mesmo artigo, um consultor indaga, arrogante e desrespeitosamente, “Quem vai tomar conta da África? Chinês, europeu ou americano? O brasileiro que tem conhecimento do cerrado”, responde ele apressadamente. A intenção explicita de colonização nesta passagem não foi contestada pelo jornal ao longo do artigo.

 

Pela matéria, fazendeiros brasileiros afoitos descobrem que em Moçambique existe “um Mato Grosso” inteiro para ser produzido, e 40 deles (não haverá um Ali?) se “apressam” a no próximo mês visitarem o país. O ministro da agricultura moçambicano revela que as terras poderão ser cedidas por 50 anos, renováveis por mais 50, ao preço módico de R$27,00 por hectare/ano.

 

Cabe inicialmente perguntar: será esse negócio uma grande novidade? e trará tanta oportunidade quanto a noticia faz parecer? O desconhecimento dos brasileiros que procuram o empreendimento reflete o desconhecimento histórico que o Brasil tem da África e faz jus ao conhecimento dos que a divulgam. Não compete encontrar aqui as razões por que “tão boa oferta” somente agora chega ao Brasil nem tão pouco saber quem está por trás desse affaire. Interesses seguramente devem existir dos dois lados, o africano e o brasileiro.

 

Mas a quem pode NÃO interessar esse projeto?

 

A região em questão possui vegetação diversa onde vivem cerca de 12 milhões de pessoas organizadas em sociedades com histórias, línguas, culturas e formação social próprias. Estão lá os macuas, os macondes, os nyanjas, os chuabos e outros. Foi o principal palco da guerra de libertação nacional de 1964 a 1975, e nos anos 80 da guerra de desestabilização levada a cabo pela África do Sul e pela Renamo. É uma população de resistência e luta. E o que dizem do modelo desse projeto? Que impacto terá sobre essa população? O que pensam outras instituições locais? Quem efetivamente ganha e quem perde produzindo nesse modelo na região? Não falemos em aumento de PIB ou da exportação, mas em nível de vida, em ganhos palpáveis, matérias e imaterias da população.

 

A experiência que os fazendeiros brasileiros dizem ter no cerrado, e o jornal repete, é de produção técnica, não de relações sociais de produção. Ela não inclui a experiência no trato com as sociedades africanas, aliás, neste quesito perdemos para todos os outros concorrentes. O brasileiro não conhece e quase não sabe andar na África, pouco se interessou pelo continente, seguramente pelo complexo de culpa da escravidão. Foi preciso uma lei, a no. 10.639 de 9/2/2003, para introduzir essa temática nas escolas brasileiras. Só recentemente expandiu suas representações diplomáticas e vem ampliando a cooperação e presença, pese a demanda, interesse e simpatia que os africanos dirigiam ao nosso país. Mas enquanto ficamos ao longo do último século com retórica e boas intenções face aos africanos, pouco fizemos e conhecemos. Em três décadas de presença na África os chineses se tornaram os maiores parceiros do continente. Antes dos fazendeiros e homens de negócios estiveram os estudiosos, os diplomatas, os estrategistas. Desenvolveram planos de longo prazo e não chamaram as regiões de Shanxi ou de Sergipe. Conheceram a história e respeitaram a soberania dos Estados e seus povos. Muito pode-se criticar sobre a presença chinesa na África, menos que seja aventureira.

 

A “novidade”

 

Todos afirmam que a África é hoje um continente subdesenvolvido, isto é, com carências alimentares, na habitação, na saúde, na educação, na capacidade produtiva, mas por quê? Como chegou a se subdesenvolver? Deixemos de lado o tráfico de escravos que mutilou sociedades por mais de três séculos (período que a força de trabalho africana era arrastada a produzir nas fazendas brasileiras – possivelmente em terras dos antepassados dos 40 fazendeiros) e nos aproximemos do século 20. O que fizeram os europeus, franceses, ingleses, portugueses e belgas na África? O que foi e como foi o colonialismo africano senão um fenômeno do século 20? Não foram lá essas metrópoles para civilizar e levar deus aos africanos? Não foram lá levar a civilização e ensinar-lhes como e o que produzir e consumir? E muito produziram... Mas como fizeram?

 

A colonização levada a cabo pelas potências foram entregues a companhias concessionárias (majestáticas ou à charte na França), que recebiam grandes concessões de terra em troca de pagamento de taxas ao estado colonial, na obrigação de produzirem, e para tal podiam explorar e gerir as populações residentes. Umas desenvolveram a agricultura de exportação (para as metrópoles que viviam a revolução industrial), e até integraram regiões com estradas e ferrovias para escoamento. Outras dedicaram-se à exportação de trabalhadores para as minas dos países vizinhos (caso da Companhia do Niassa). Muito se produziu e se exportou. Criaram-se fortunas com o amendoim, o copra, o algodão, o sisal, o café, o tabaco, a madeira... E onde estão estas riquezas? Nos palácios, estradas e infraestruturas africanas? No sistema de educação, saúde e no nível de alimentação da população negra? O povo africano trabalhou nesse século sob a batuta colonial. Produziu muito no sistema de concessão que agora se quer renovar, e foi esse modelo o que subdesenvolveu a África, trazendo para os africanos a miséria que vivem hoje. E é esse o modelo que agora se quer repetir. Antes dele os povos estavam em melhor situação que após.

 

Não são as terras fartas que chamam a atenção dos nossos fazendeiros, mas a existência de uma mão de obra que pode trabalhar a baixíssimos salários. Isso porque ela tem acesso à terra, já que boa parte da terra ainda é comunitária, e garante a própria subsistência. Enquanto esses homens trabalham nas fazendas, suas famílias produzem nas roças tradicionais. E, tendo a subsistência garantida, são impelidos ao trabalho quase gratuito, muitas vezes à força como demonstra a história, nas áreas dos fazendeiros brancos. Ao final do processo produtivo, a exportação, o PIB, os bolsos de poucos políticos e empresários nacionais envolvidos poderão crescer, mas a população continuará vivendo basicamente das suas subsistências e cada vez mais dependente de uma sociedade que a vem dominando culturalmente, através do radio e da TV, com canais globais e religiosos universais, cada vez mais produzidos aqui mesmo na tropicália. O contexto para um novo colonialismo está preparado, e a sua repetição transformará o que foi o drama colonial numa farsa liberal. Na versão colonial do século 20 as sociedades africanas encontravam-se ainda estabelecidas e foram fortemente exploradas nessa articulação com o capitalismo colonial, que a reduziram à pobreza atual. Hoje elas encontram-se fragilizadas, desconfiadas, famintas, e reeditar tal sistema com promessas e perspectivas de que irão melhorar é uma mentira criminosa.

 

Convém observar que a mudança desse modelo de exploração para o modelo desenvolvimentista, industrializante, com início no pós Segunda Guerra facilitou as propostas nacionalistas que culminaram com as independências das colônias na década de 60. Mas este assunto merece outro artigo.

 

O risco

 

Dizem que as terras em Moçambique estão ociosas. Na verdade, estão ocupadas há séculos por populações que a cultivam com tecnologias específicas, para a sobrevivência, num sistema que exige grande reserva natural e rotação. Quando os portugueses chegaram no continente encontraram homens e mulheres saudáveis e fortes. Não eram povos subnutridos nem subdesenvolvidos, mas populações com níveis tecnológicos distintos dos colonizadores. Passados o tráfico e o colonialismo, o que restou foram populações desagregadas, famintas, subdesenvolvidas, fruto das políticas produtivistas de quem “tomou conta da região”.

 

O que nós brasileiros queremos com a África? Mandar para lá fazendeiros para remontarem um sistema já conhecido historicamente e vencido socialmente, que produz e reproduz miséria para a grande maioria e lucro para poucos? Ou temos a intenção e alguma expectativa de estabelecer uma relação de cooperação que aponte para uma sociedade onde a vida das pessoas se transformem e melhorem?

 

O embaixador moçambicano em Brasília diz que “interessa-nos ter brasileiros em Moçambique produzindo, porque temos grande deficit de alimentos”, e o projeto prevê que será preciso empregar 90% de mão de obra moçambicana. A oferta é para produzir algodão, soja e milho, entre outros, visando a exportação. Sendo o milho o único atualmente utilizado para alimento humano. A Embrapa prepara as sementes com investimentos do Estado brasileiro, e o presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão diz que “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete mais barato para a China”. O chefe da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa diz: “Nessa região, metade da área é povoada por pequenos agricultores, mas a outra metade é despovoada, como existia no oeste da Bahia e em Mato Grosso nos anos 80.” O projeto oferece também isenção para a importação de equipamentos.

 

O que pretende este programa é aproveitar as terras moçambicanas, “de graça”, produzir para exportação, aproveitando-se da mão de obra barata, e a ausência de regulamentação ambiental e sindical. Entretanto, sabe-se já de início, os projetos são de capital intensivo e grande tecnologia, e vão utilizar pouca mão de obra. Os produtos não serão consumidos no país e a renda interna proveniente será a modesta soma de alguns meticais por ano, que ficará com a instituições estatais. Moçambique não é a Bahia, pois a África não é o Brasil. Mas o “Havaí é aqui” e lá.

 

Como se observa, são projetos que podem ser viáveis economicamente, mas não são sustentáveis do ponto de vista ecológico e muito menos social.

 

Ao se concretizar a proposta em análise, faremos com que o aprofundamento da relação com a África, tão querida quanto necessária, se dê por um empreendimento tipo colonial comandado por fazendeiros (e jagunços) e com a benção dos estados.

 

Por desconhecimento da história, despreparo dos envolvidos, falta de objetivos estratégicos, estrutura e planejamento do empreendimento, incluído aí o nosso Estado (pese os avanços recentes), a aventura brasileira na África, nos moldes apresentado, tem muita chance de se dedicar a ir descobrir a roda no cerrado e cair no ridículo, perder dinheiro e criar novos personagens conradianos.

 

Mas, se der certo, dará razão a uma anterior parceria entre Brasil e Moçambique, a de Chico e Rui Guerra, por demais conhecida: “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um império colonial (...), um imenso Portugal.”

 

Entretanto, um outro modelo de cooperação e investimento entre Brasil e o continente africano é possível e urgente de ser pensado. Mas temos que nos preparar internamente para isso, num escopo do que queremos para o nosso povo e das relações entre países.

 

É momento de governo, Estado, universidades, empresários, instituições públicas e privadas, como o Instituto Lula, opinarem sobre um novo modelo de parceria entre Brasil e a África, que envolvesse diferentes agentes brasileiros e africanos, inclusive os fazendeiros do cerrado, para encontrar outro ideal a ser cumprido.

 

jpt

publicado às 12:17

Adão e Eva, versão integrista

por jpt, em 29.08.11

 

"Adão e Eva, versão muçulmana" foi como me chegou, via e-mail amigo. Não tem autor identificado. Um bom sorriso para a semana que avança.

 

jpt

publicado às 10:05

 

Um livro colectânea de estudos sobre Khosa. Reter a informação, passar por cima do texto enquadrador, com gemidos sobre o perigo da língua inglesa ("Os Russos Vêm Aí"), o preconceito contra os "autóctones", e ainda qualquer coisa, implícita, sobre a responsabilidade brasileira na reprodução local - já não é apenas o discurso português, aleluia. Basta abrir o bau e tirar a "arte de aeroporto" académica e pimba ... Enfim, não interessa o choradinho, mas sim reter a existência de "Emerging Perspectives on Ungulani Ba Ka Khosa: prophet, trickster, and provacateur", organizado por Niyi Afolabi, (e publicado por Africa Press World Pres, Inc), quinze textos sobre Khosa.

 

A ver se aterram em Maputo, para venda.

 

jpt

publicado às 03:29

Sobre os efeitos do Acordo Ortográfico na fala. Interessante para confrontar com os profissionais (académicos, doutorados, catedráticos) candidatos a postos na administração do Estado português, principalmente quando quem lá manda são os socialistas, que juram a pés juntos que a grafia é uma convenção independente da fala. E pagam-se ordenados a esta tralha lusófona.

jpt

publicado às 23:32

Oportunidades virtuais

por jpt, em 28.08.11

[Ilustracao de Sophie Blackall]

 

Embora me pareça relativamente pouco conhecido em Portugal o site craigslist é talvez o site mais popular da internet nos Estados Unidos. É um mundo! Ali se compra, se vende, se encomenda, se recomenda, se faz e se desfaz. Uma das secções deste site que sempre me mistificou é a missed connections, uma página onde se podem deixar recados cautelosos a incógnitos transeuntes que connosco se cruzaram e que por qualquer razão nos impressionaram. Insere-se o local onde os destinos se encontraram, uma breve referência ao incidente. E espera-se.

 

Ofereceu-me o seu lugar no comboio porque eu estava em pé com imensos sacos. Foi muito atencioso e acho-o muito atraente. Se ler isto, envie-me uma foto sua e talvez a gente se acerte.

 

[Ilustracao de Sophie Blackall

 

Nós somos as duas raparigas que estavam a ter uma refeição pré-apocalíptica no Ritz Diner na esquina da rua 62 com a 1, ontem à tarde por volta das 4. Vocês são os dois rapazes que estavam sentados atrás de nós um pouco à esquerda. Nós estávamos embrenhadas em conversa e não dissémos olá. Um de vocês tinha uma camisola Alpha Phi. Reparámos que estavam a olhar para nós. Vivem naquela zona? Gostaríamos de voltar a ver-vos. Talvez uma outra refeição no Ritz Diner? Digam-nos qualquer coisa.

 

[Ilustracao de Sophie Blackall]

 

E continua por aí fora numa listagem de esperança. Numa era de redes sociais e em que parece ser tão bem falar mal delas e dos seus riscos, pouco se fala das vidas que elas nos abrem, das inibições que nos ajudam a vencer, das oportunidades perdidas que nos ajudam a recuperar. E da inspiração que proporcionam a bloguistas e artistas a elas sensíveis e que pouco pensam dos bem pensantes. Porque afinal o que é a vida senão mudança e risco?

 

AL

publicado às 21:24

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