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O PCP está de luto

por jpt, em 19.12.11

A morte do presidente-rei da Coreia do Norte, Kim-Jong-Il, deixa o Partido Comunista Português de luto, perdido um dos seus últimos estadistas aliados. Enfrentam alguma maldade do destino, nem sequer puderam fruir o recentíssimo passamento do agente americano Vaclav Havel. Como objecto de estudo será interessante, para quem tenha o estômago forte e o esófago saudável, ir ler o que os blogs portugueses comunistas botam sobre o assunto. E será principalmente interessante para aqueles que, no dia-a-dia, vão ouvindo ou até juntando-se às "associações de utentes" que esses trastes fazem florir. E para aqueles que acenam às profundas reflexões de comentadores avençados como Carvalho da Silva - que vi há dias entrevistado por Manuel Luís Goucha, este num breve intervalo das suas Viagens na Minha Terra.

E já que chapinho neste pântano de gente, por higiene apenas aflorável nestas "efemérides", recordo ainda o nenúfar Helena Apolónio, há anos falsa verde, há anos deputada adepta do Querido Líder e respectiva dinastia. E há anos eleita e fruindo benefícios [aqui a conheci no século passado, ainda jovem, integrando uma delegação presidencial em nome do seu inexistente partido e a gente a pagar] em regime de total fraudulência. Não estará já na altura de drenar aquele pântano?

jpt

publicado às 16:06

O régulo-hipopótamo de Pinda

por jpt, em 19.12.11

 

Para um tipo que anda há anos a escrever compulsivamente (e convulsivamente) em blogs o que se segue pode parecer blaseísmo mas não é. Ao longo dos tempos de quando em vez, muito de quando em vez, alguém me desafiou para escrever numa qualquer gazeta. Diga-se que os convites/desafios sempre vieram acompanhados com o remate certeiro ("taco não há"). E isso era bom porque me legitimava a recusa, para quê escrever se não se recebe? E assim podendo ocultar a minha completa incapacidade de escrever por obrigação, fico angustiado, deprimido. No ma-schamba (ou afins) boto, grátis, lençóis escritos de supetão e sem qualquer stress, mas logo me fico a devorar o sabugo diante de uma obrigação.

 

Meti-me agora nisso, por amizade (e pelo dinheiro, pouquinho mas a crise aperta). E já estou nisso. Tenho que entregar hoje mesmo uma coisa pequena, 4000 caracteres, nunca mais. E que dizer? Como fazer? Arrasto-me pelas mesas das esplanadas em busca de amparo. Gemo diante dos convivas. Eles propõem-me temas, são amigos. "Fala dos 50 anos de Goa!", uma boa safa, "Náda", resmungo, "que terei eu a dizer?". Outro diz-me, "não és antropólogo? Fala do régulo-hipopótamo". Esse régulo de Pinda, aldeia que bem conheço, que ressucitou em hipopótamo. E que o Cabrita já abordou no Savana desta semana. Aqui pedem-me, claro, num entre-sorrisos, que deite alguma verrina sobre as crendices, o obscurantismo, o atraso desta gente, os camponeses (se são moçambicanos a falar) ou os africanos (se são estrangeiros a falar).

 

Esta do régulo-hipopótamo seria uma boa solução, uns pós de contextualização, uns arremedos de cosmologia, um meneio de relativismo, um etc e tal. A conclusão a la carte, sem me escusar à suave ironia, ou até mesmo ao sarcasmo, se para aí estiver virado. Depois lembro-me do meu país. Onde centenas de milhares de pessoas se deslocam para Fátima, alguns até arrastando-se, a acreditarem que um tipo que nasceu há 2000 anos era mesmo filho do deus e de uma mãe virgem. E que esta mãe virgem continua a viver algures, no céu para lhe dar uma topografia. E que em 1917 apareceu a uns miúdos analfabetos a dizer uns segredos, entre os quais que os comunistas iam perder. Lá nuns morros onde agora construíram umas coisas. Agora um sítio onde vão os políticos todos os anos. E os outros todos. E onde, volta e meia, há milagres, cura-se gente e fazem-se beatos e santos.

 

Ninguém me desafia a escrever sobre isso. Mas sobre o tipo do hipopótamo, mais os vizinhos. E os vizinhos que lá vão. E mais, ainda pior, se alguém (eu) lhes disser que a "maluquice" é a mesma ainda se ofendem. Os do hipopótamo, um pouco, talvez, mas mais dirão "isto são coisas nossas, os africanos". Os da virgem mãe e imortal, e que não gosta de comunistas, esse ofender-se-ão. De certeza. E muito mais.

 

Que escreverei eu para daqui a bocado?

 

jpt

publicado às 02:08


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