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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Adolph Johannes Brand nasceu na Cidade do Cabo e foi, ainda é, um dos pioneiros do Jazz sul-africano. O enorme pianista, antes conhecido por Dollar Brand, exila-se na Suíça em 1962, escapando ao "apartheid" e pouco tempo depois converte-se ao Islão, mudando o nome para Abdullah Ibrahim.
Saí uns parcos dias e no regresso a Maputo deparo-me com a notícia da morte, inopinada, fulminante, do meu patrício Joaquim Falé, companheiro de geração. Um homem super amável, gentil, disponível, discreto mas sempre armado de um sorriso desarmante. Quando eu cheguei já ele cá estava há alguns anos, depois de ter passado duas décadas na Suíça. Ligado ao turismo, calcorreou o país, reconhecendo disponibilidades turísticas, organizando percursos e acompanhando grupos. E descrevia-o com risonhos olhos de encantado. Nos finais de 90s alguns dos passeios que fiz foram por ele indicados, até organizados. Nos últimos anos esteve ligado à imprensa digital, editor de várias publicações no eixo do Club of Mozambique (Moçambique Hoje, Daily News Updates, e outros). Um percurso profissional cheio, e lembro-me de o encontrar tradutor do interessantíssimo "Os Suíços em Moçambique", o livro de Adolphe Linder (Arquivo Histórico de Moçambique, 2001), uma detalhada história da presença suíça no país.
Bem antes, ainda no século XX, o Falé tinha sido pioneiro na divulgação das letras e das artes moçambicanas (e africanas) nos suportes electrónicos, e isto bem antes da disseminação da internet no país (e até da sua expansão internacional), e acho que isso não será muito conhecido. Até porque muitos dos suportes ("sites") dessa longínqua (em termos internéticos) era foram caindo em desuso. Mas fica esta página "Autores Africanos. Do Rovuma ao Maputo" (que encetou em 1996!), com um vasto manancial de referências. Era-lhe um hóbi, denotando um homem sensível, culto sem disso fazer alarde. Quando comecei a blogar, em 2003 era recorrente encontrar referências às colocações que o Falé fizera. Mas nunca transitou, que eu saiba, para os novos suportes blogais, divulgados já em XXI, porventura devido às obrigações profissionais. E pela sua riqueza: homem de família que era, com uma acarinhadíssima prole. Agora dele orfã e isso bem custa saber.
Até já, Falé.
Este disco "Voz e Guitarra 2" - década e meia depois do primeiro, o que lhe permite ficar como marco de geração - tem sido apresentado de forma inteligente, de quando em vez surge um filme com uma das canções (acho que no total serão cerca de 35). Vários nomes que desconheço, como este dueto agora apresentado, que se chegou à frente para reinventar o António Variações, e é preciso peito para isso. Gosto, e muito, desta Márcia mais do homem lá atrás nas cordas.
Como o meu projecto de bloguista sempre foi que me pagassem uma aguardente velha por cada divulgação que fizesse aqui partilho o filme, chamando a atenção para o disco. Pode ser que um dia alguém me aqueça o balão e faça verter o hidromel luso. Nunca desesperando ...
Com campanhas destas eu bebo Pepsi [e Seven Up] ...
(e estas coisas devem deixar perceber que não vale a pena grandes discussões sobre quem é o "melhor do mundo", que é para isto que serve).
O jornal "Expresso" publicou há alguns dias uma "notícia" sobre a colaboração da "secreta" portuguesa com os serviços de informações americanos e a partilha de dados sobre Angola e Moçambique. Tendo-a lido escrevi para o endereço electrónico do director do jornal, chamado Ricardo Costa, tendo enviado cópia a alguns amigos e conhecidos. Não a publiquei no blog por razões de higiene: o sensacionalismo do "Expresso" enojou-me o suficiente para não queres conspurcar o ma-schamba com os seus ecos. Mas o António Cabrita reproduziu no seu blog essa minha mensagem, tendo-lhe somado um pacote de comentários, brutais mas mais que compreensíveis dada a descontextualização cometida por Costa e sua gente, que no sítio do jornal moçambicano "O País" acompanham a réplica da torpe iniciativa do jornal de Francisco Balsemão. Por isso aqui a coloco, com uma adenda. E com um preâmbulo: daqui a uns meses o jornal "Expresso" voltará a Maputo, como tem feito nos últimos anos, organizar "conferências" ou "seminários" ou coisas assim, sobre as relações económicas entre Portugal e estas austrais paragens, sobre o seu potencial e as realizações havidas ou sonhadas. O tom será sempre muito optimista, cordato, "correcto", que aí não se falará do "dever de informar" nem se será "polémico" "investigativo". Serão convidados alguns políticos em regime de administrações não-executivas para abrilhantar a festa e networkizar, virá porventura um secretário de estado para ir às putas ou coisa similar (agora digam-me que sou ordinário ou que estou a mentir). Virá o jornalista Nicolau Santos, vice-director especialista em economia e cultor de Artur Baptista da Silva. Farão, talvez, uma colectiva de artes moçambicanas, para dar um ar culto, interessado no país (A..., da próxima vez não me telefones sobre o assunto ...). Tudo isto, claro, para angariar publicidade, que é coisa que só não vê quem não quer ...
Nessa altura vou gostar de ver como se comportam dois tipos de portugueses: os que agora resmungam, até assustados, com os efeitos desta "notícia" neste momento. Será que irão lá, às palestras ocas, aos políticos boémios, às chamuças sensaboronas do Indy, ao bufê always the same? Ou vetam esta gente, como merecido? Duvido que vetem, pelo menos os da brigada do casaco-azul, sempre no frémito servil face aos parcos poderes que vêm de Lisboa. E que farão os diplomatas (ou quadros diplomáticos)? Será que terão a coragem de se afastar, de marcar a distância para com esta gente, ou irão afivelar os sorrisos de sempre e comparecer? Caso o façam, os acolham depois disto, será caso para apupo. Ou até mais.
Deixo então a minha carta e uma adenda. Em cima fica a cara do director do Expresso, para vosso consolo.
António Cabrita, com a sua costela de jornalista, concordou comigo no relativo desatino da notícia, atribuindo-a a alguma "incúria" e algum "desconhecimento do terreno". Penso que não chega. E explicito. Não se trata de contestar o direito de informar, o dever de informar. Não se trata de negar o escrutínio dos poderes estatais e da administração por parte da opinião pública e pela comunicação social. Trata-se de negar que isto tenha qualquer relevância, fundamento. Nada de ilegal se terá passado, nem de inusual. Nada que seja notícia, muito menos para este contexto. Sublinho que o "Expresso" (e o seu director Ricardo Costa; quem escreve chama-se Luísa Meireles) fala de "secretas" quando não se trata de "secretas", apenas por desonestidade se agita isso. São serviços de informações, grande parte mesmo acreditados, trabalham a céu aberto. O que deixei em comentário no blog de António Cabrita é isto:
"Tu referes que as causas que levam o jornal a publicar isto se podem resumir a "incúria" por "desconhecimento do território". Não concordo. Nem penso que isto se deva a uma questão "cultural" (cultura profissional / deontologia ligada à obrigação de informar). Trata-se, como referi há tempos (com números) sobre a patacoada do Público sobre a situação de Moçambique, de causas económicas. Um título como o do Expresso, chamando atenção sobre as "secretas", sobre a "espionagem", sobre a "nossa" (nossa salvo seja, a do Estado) vassalagem face aos yankees, chama tráfego. Vende papel e incrementa clics, pelo que mostra anúncios e incrementa o tráfego electrónico. Vale dinheiro. Essa é a causa, a infraestrutura económica se lhe quisermos chamar assim.
Depois é ela própria uma patacoada. As "secretas" não o são. Os serviços de informação estão acreditados, legitimados nas relações entre-Estados. Não são uma actividade esconsa, os membros dão-te cartão de visita (se tiveres para a troca, coisa que prevejo que tu não tenhas, tal como eu).. Fazer apelo às "secretas" é puro sensacionalismo.
Luísa Meireles, que assina a trapalhada, será menosprezável, apenas mais uma escriba cada vez mais mal paga. O director Costa já não, será influente e perigoso (e o irmão corre para a presidência - e quando daqui a uns meses olharmos os funcionários públicos portugueses ou os estado-dependentes a acolherem o Expresso em Moçambique apesar desta porcaria, poderemos bem ver como estas "difusas" relações familiares se impõem, todos temendo o eterno "não vá o Diabo tecê-las"). Henrique Monteiro, o anterior director deste jornal, assina lá uma coluna que se intitula "chamem-me como quiserem". Eu aceito, e chamo ao director Costa, responsável disto, "traidor". À mera escriba, a Meireles, chamo, claro, o que Vs estão a pensar.
O Pedro Sá da Bandeira (PSB) acompanhou as eleições autárquicas de 2008, era então o repórter fotográfico da delegação da Lusa em Moçambique. Para comemorar as eleições de hoje, quinquénio passado (voado), elas sempre a festa da democracia (por mais que apareçamos resmungões somos, cada um com a sua hierarquia de irritações, fundamentalistas democratas), aqui partilhamos algumas das suas fotos de então, feitas nas campanhas eleitorais dos municípios de Maputo e de Matola. Com os nossos "votos" de que o dia de votação e os dias de contagem corram a contento. Que o sufrágio seja sufragado ... E que alimente a paz.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Uruguai
Para quem não perceba fica nota de rodapé, suficientemente explicativa.