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Do 11 de Setembro

por jpt, em 21.03.04

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(No seu blog "Aviz" o Francisco José Viegas relata do seu espanto ao ouvir um imbecil na rádio a saudar a morte dos americanos no 11 de Setembro. Não terá sido o único. Daí uma pequena memória sobre o dia.)

Nesse 11 de Setembro tínhamos imensa gente em casa para jantar. O motivo do repasto era o de vermos o documentário "Regresso a Nacala", feito pela Joana Pereira Leite, pois um dos convivas de Lisboa trouxera uma cópia. Lá se comeu, os convivas nervosos, estupefactos com os acontecimentos. No fim mais ou menos se votou o vídeo em detrimento da CNN, e assim nos dedicámos àquelas memórias da meninice da historiadora, em registo de reflexão sobre as fotografias de José Henriques e Silva. Claro que num dia desses tudo terminou em grande discussão, sobre méritos e deméritos do filme, seu sub-texto e etc. Serviu de catarse, pobre filme, pois por isso dissecado com fúria e malvadez.

Já noite longa e terminados os contra-argumentos levei alguns dos convidados, os portugueses, ao hotel onde pernoitavam. Fiquei-me só, bastante acelerado, de tudo o que se tinha visto quase em directo, do jantar meio louco, da discussão que se seguiu, e do cocktail de cervejas, gin, vodka, tinto e whisky que tinha acompanhado o dia.

Não me imaginei na cama, incomodando a Inês, e segui à Bagamoyo, que meio vazia estava pois dia de semana e tão especial fora. Porta a porta entrei no Luso, onde o balcão pode ser recatado em troca de uma ou outra Reds concedida. Também a matar a noite por lá estava o Andrea, um italiano meu conhecido e há muito aqui residente. Lá nos juntámos, o assunto era óbvio. O horror, o espectáculo, o futuro. Tudo dito e redito. Até que começa ele com a arenga que os americanos estavam mesmo a pedi-las, tinham de levar com situações destas tanta a sua arrogância, o imperialismo. E tudo quanto fazem pelo mundo afora.

Tentei interrompê-lo, a puxar-lhe pela manga, até numa concordância naquilo de que muita violência fazem e patrocinam os EUA. Mas caramba, aquilo durante o dia tinha sido horrível - "viste aqueles tipos a saltar lá de cima?" - e ele nada, nada mesmo, que era tempo dos americanos sentirem em casa a violência, deles não tinha pena nenhuma. Bem, que me restava fazer? Concordei com ele. Que tinha razão. Realmente o poder americano é violentíssimo, usa a agressão constantemente e capeia-a. E fui adiantando que ao olhar para trás também saudava todos os italianos mortos durante a II Guerra Mundial. Não é que os sacanas tinham apoiado o Mussolini?

Não percebi bem porquê mas ficou irado, insultou-me. A conversa morreu ali mesmo, e desde então cada vez que me vê - e já lá vão quase três anos - limita-se a um aceno, tão breve quanto possível. Nos dias seguintes fartei-me de ouvir gente a dizer o mesmo que ele. Que tinha sido horrível, é certo. Mas que estava na altura de eles apanharem em casa. E nem todos os que falavam eram italianos. E eu sem saber o que lhes dizer.

publicado às 06:50


1 comentário

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De Bin Laden e nós | ma-schamba a 06.05.2011 às 23:44

[...] o “nós”. Como o meu amigo esquerdista italiano que na noite de 11 de Setembro de 2001 louvava o atentado em pleno Luso, cuspindo o seu anti-americanismo. A lembrar-me também quando eu lia um blog de um [...]

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