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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Ontem mesmo, arrastando em Lisboa este tempo que por cá me resta, enfrentei aquele início de alfarrábio, ali postado entre o café Luanda e o café Polana, a avenida assim a agigantar-se em mapa cor-de-rosa. E descobri esta jóia, os poemas de Jorge Ferreira em “Saudade Macua”, um pequeno livro de 1969 e que então ganhou o Prémio Camilo Pessanha, atribuído pela Agência Geral do Ultramar e acredito que muito merecidamente.
Sou mero leitor, nada especialista em literatura, serão as minhas opiniões sobre os méritos deste livro apenas senso comum. Mas não posso deixar de realçar a obra, talvez até retirá-la do esquecimento, desmerecido, tão percursora ela é das sensibilidades e noções de hoje, a abrangente lusofonia. Pois nela se corporiza (antevê?) este sentimento lusófono que vem unindo portugueses e seus irmãos de outros continentes, não só a história que nos une, como ainda a comunhão que a habita nos correres dos tempos. Veja-se como Ferreira antecipa estas décadas do hoje em dia, Estados talvez apartados pelos ventos da política, povos unidos pela língua e pelo sentir, por tantos interesses comuns. Repito, a revisitar, este hoje esquecido poeta:
"O Branco da Terras"
Oliverra é o branco da terras’
Oliverra é nossa pai
gente conhece
gente entende
a nosso amigos’Oliverra
machamba de s’Oliverra
é sempre bom
chi..s’Oliverra
branco tem feitiço!
S’Óliverra usa chapéu
sol é muito quentee
s’Oliverra tem careca.”
Ah, tanta harmonia nesses dias, tanta harmonia para hoje.(Jorge Ferreira, Saudade Macua, Agência Geral do Ultramar, 11)