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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Caminhava-se para meados dos 80s, o local mais rock era o "rock rendez-vous". Foi lá, nessa altura, que vi a noite 31 de Julho dos Xutos, véspera desse hino 1º de Agosto, "É amanhã dia um de Agosto / E tudo em mim, é um fogo posto /Sacola às costas, cantante na mão / Enterro os pés no calor do chão", noite épica anunciada que para gravar um disco "live" que nunca saiu. Também no "Rendez-vous" apareceram os concursos de rock nacional, bandas novas, saídas das garagens dos bairros, ali nas tardes de sábado à procura de um "lugar à noite". Andei por lá vendo as bandas dos Olivais, os Urb e o Radar Khadafi, a estreia dos histriónicos Ena Pá 2000 e também a dos grandes Mler Ife Dada, estes que foram o brilho daquele naco de geração.
Numa dessas tardes cheguei cedo à rua da Beneficiência, entrei bem antes das sessões, fiquei por lá na enorme (para o tempo) sala quase vazia. E naquele vazio ouvi pela primeira vez o então último disco dos Style Council, todo ele, ali deixado a tocar enquanto decorriam os preparativos do palco. A gente chegava já preparada para os espectáculos, qu'era a era dos psicotrópicos, nisso aumentando o impacto da música ouvida e do gozo durante. E aquela audição, inesperada, encheu-me - e como era então diferente o acesso à música, tão mais rara apesar de toda a rádio, e, acima de tudo, tão mais cara. Mais de trinta anos depois ainda lembro aquela mais-ou-menos hora, a duração do LP, dos Style Council no vazio RRV, um momento de felicidade mesmo, pelo tempo que então vivia, pela companhia que ali estava, se calhar também pela idade que corria. E, sem dúvida, pelo embalo da "banda sonora".
Este tempo todo depois ouço este pop agitado de então e ... fico de sorriso estampado. É um mimo. A ultrapassar, a desnecessitar, quaisquer outras ideias.