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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Já passaram anos desde que o Carlos Gil editou o seu Xicuembo, memórias daqui e nao so, uma imensidao de saudades daqui, uma coisa que em blog e no livro sempre parece a entreolhar um qualquer outro talvez:
"Para mim, o Aeroporto de Mavalane foi só uma porta de saída, atrás dela ficou uma vida que podia ter sido talvez assim, e hoje é, naturalmente, assado".(116)
Ler o Gil, e para alem do encanto de ver como as vezes aparece mesmo nu la no meio das paginas, 'e ler essas saudades de um outro tempo mocambicano, saudades pesadas ate. Mas nunca saudosistas, um olhar para tras mas sem la querer estar:
"Nunca ouvi falar num negro milionário no período colonial. Agora, parece que os há aos pontapés e, por infeliz norma, aceito que a regra é obtida com percursos escuros nesse enriquecimento pessoal, em detrimento dum país que já foi o mais pobre do mundo. Só que, antes, não se conhecia ou ouvia falar de algum. Zero. Classe média? Só se for média lá para o muito baixo, a roçar o nível do desenrascanso diário.E isto na cidade e sua periferia, pois não recordo antes do final de 1974 qualquer negro a viver nas “Polanas” das cidades de Moçambique. (...)
Tanta coisa que estava errada e só em 25 de Abril de 1974 se tornou visível para uma certa população que olhava, no seu global, só de soslaio para as injustiças que, sob esses olhos, corriam a céu aberto, Eu, inclusive."(76-78)
Depois, as saudades dao-lhe tambem para moralizar. E ai discordamos no tom - e ainda bem, que isto de concordar em tudo daria em nada
"Todos nós, hemisfério norte europeu, branco e rico, devemos algo muito importante a África, negra e pobre. Durante séculos foi o nosso quintal de férias e banco estrangeiro, a Europa possui obrigações que secular incúria gerou, e não pode olvidá-las"(121)
(Carlos Gil, Xicuembo, Pé de Página, 2005)