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O Ibo Azul

por jpt, em 08.02.07
Releituras:



"Ainda que sonde as minúsculas tocas de onde os caranguejos espreitam, como faz o homem, à mulher movem-na menos enigmáticos propósitos. Não nos iludamos: ela procura o que comer e o que dar a comer aos seus, quem quer que sejam. Abre as suas pernas fortes, fincadas na areia da praia como os pilares de uma ponte que a sustente – coxas firmes, gémeos largos, pés seguros – e dobra o tronco para chegar ao chão. Para um lado e sobressai-lhe uma anca, para o outro e sobressai-lhe a anca oposta, numa extrema agilidade. Move-se pouco no espaço do areal, se tirarmos a sucessão lenta de poses desta sua solitária dança, menos um movimento que um conjunto de imóveis retratos. Presa que está ao trabalho de descobrir aquilo que a paisagem só aparentemente despida tem para oferecer, que requer particular argúcia. Evolui em círculos, esta mulher, e quando deixa cada lugar é porque o esgotou ou porque os minúsculos organismos encontraram um método eficaz de se dissimular, de deixar de existir aos olhos delas."

(João Paulo Borges Coelho, “Ibo Azul”, Setentrião, Maputo, Ndjira, 2005, p. 193)

publicado às 09:56



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