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Leitora amiga do ma-schamba acaba de me enviar o Guia Prático da Nova Ortografia. Para que eu me prepare - e tenho até 2012.

Selecciono [seleciono] este exemplo (que consta na página 6) do dito documento. Atentem (e muito em particular os leitores que praticam os sotaques portugueses): na coluna da direita está escrito, e envolto a vermelho: "o que não se pronuncia não se escreve". Portanto, a partir de agora não se diz / não se escreve "colecção"/"coleccionador" mas sim "coleção"/"colecionador"; idem para "direcção" / "direccional" que passa a "direção" / "direcional"; idem para "leccionar" / "leccionação" que passa a "lecionação" / "lecionação". Escrever-se-á "ação" (não "acção"), "correção" (não "correcção"), "extração" (não "extracção"), "fração" ("fracção"), "proteção" (não "protecção"), "reação" (não "reacção"), "seleção" (não "selecção"), "ato" (não "acto"), "ator" ("actor"), "atual" (não "actual"), "afeto" (não "afecto"), "arquitetura" (não "arquitectura"), "coletivo" (não "colectivo"), "detetar" (não "detectar"), "direto" (não "directo"), "diretor" (não "director"), "letivo" (não "lectivo"), "objetivo" (não "objectivo"), "projeto" (não "projecto").

Ouviram as diferenças? Perdão, leram as diferenças? Não se trata de ser fundamentalista. É apenas dizer que estão a mexer na fala, que "tirar consoantes “mudas” emudece as vogais antecedentes. Num sotaque urbano português que tende para o emudecimento omnívoro das vogais e para a amputação das extremidades das palavras isso tenderá, possivelmente, para a incompreensão auditiva entre os falantes de diferentes sotaques e, fundamentalmente, para a crescente incompreensão outra diante dos portugueses." E, claro, dizer de todos esses que afirmam a independência radical entre a grafia e a fala, que afirmam (como se assim concluíssem algo) que a grafia é uma "convenção" - como se a fala não o fosse também -, de toda essa gente que afirma tais dislates com ar doutoral, que não passam de tralha. De gente átona, por assim dizer.

jpt

publicado às 19:13


7 comentários

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De cg a 08.02.2010 às 19:34

(afimação despudoramente egoísta e irrealista)

felizmente já tenho idade suficiente para ligar-lhe tanto como ao arroz de cabidela: não como, nem faço intenção de alguma vez comer, e ponto!
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De jpt a 08.02.2010 às 19:38

Tu não escreverás mas ouvirás - é esse o meu ponto. E, friso, custar-me-á menos ouvir os "afetos" e "coletivos" todos do que as rábulas destes doutores que afirmam inanidades com ar de quem sabe
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De ABM a 08.02.2010 às 21:08

Daqui a umas décadas, quando os pesquisadores de forênsica cultural informática ibéricos (Espanha desmembrada dos bascos e catalães, que se junta com Portugal num espasmo de desespero) descobrirem algures nas gigantescas masmorras informáticas situadas em Sillicon Valley estes nossos registos do Maschamba, terão que, como já fazemos em parte com o Eça e o Alexandre Herculano e outro, converter a fonética e ortografia aqui usada para entender o que aqui dizemos.

Nessa altura, para confundir mais as coisas, para além de uma conformação com o português do Brasil, já terá havido uma muito mais ambiciosa conformação entre o português e o castelhano, imposto pelo Brasil e países da América Latina aos ibéricos.

O líder português de então, Sócrates IV, dirá que é bom para nós e que nos salva do ocaso cultural.

Caracteristicamente - os bascos e os catalães recusam-se a participar no complot.
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De AL a 09.02.2010 às 01:34

Mas nos aqui podemos continuar a escrever com consoantes mudas, verdade? (Pergunta ela armada em esperta purista quando tem um teclado iletrado em portugues, logo, sem acentos) :)
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De Leonel Auxiliar a 09.02.2010 às 15:06

Um acordo ortográfico à medida das grandes editoras brasileiras. Mas eu também não gosto, não como e nem sequer tenho intenções de provar.

O mais engraçado é que, da grande maioria dos escritores que conheço, e são bastantes, nenhum deles está para aí virado.
Realmente, isto só vindo de algum burocrata encafuado num "bunker" que nunca na vida escreveu uma linha para além dos rabiscos a que chama assinatura. Deve ser dos chamados analfabetos funcionais de que tanto se fala agora!
E o mais ridículo é que vai ser obrigatório!
O que acontecerá à malta que não obedecer?
Cadeia? Multa?
É que se se não fosse tão triste, dava vontade de rir a bandeiras despregadas!
Francamente!
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De jpt a 09.02.2010 às 16:37

Os que não obedecerem ... erram! E daí que daqui a alguns anos estaremos, concordando ou não, a escrever assim. E a dizermos aos nossos filhos/mais-novos para "abrirem" as sílabas. E a falharmos.
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De ABM a 09.02.2010 às 18:01

Supunho que se fizermos todos uns estágios no Brasil que a coisa fique mais clara. Daqui a uns anos as editoras farão um negócio vigoroso de re-editar tudo com as novas "regras".

E eu que pensava que sonhava em português, a língua dos meus pais. Afinal neste país a língua não era minha nem deles, é de uma comissão governamental que acha que pode legislar harmonizações com países estrangeiros.

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