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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
A propósito das recentes entradas sobre os contactos de Ernesto Guevara (dito "Che") com a Frelimo Amélia Souto, que muito honra o ma-schamba com as suas visitas, enviou-me esta fotografia de uma reunião na Tanzânia do referido dirigente comunista com membros da direcção da Frelimo - onde se pode reconhecer Samora Machel.
Ainda a este propósito, e em directa ligação ao texto de João Cabrita abaixo reproduzido transcrevo uma mensagem que o Machado da Graça (once a blogger, always a blogger) me enviou.
"Estive agora a ler o texto do Cabrita sobre Mondlane e o Che. Ele põe as divergências entre os dois, como apresentadas pelo Helder Martins, como questões de lana caprina. Nomeadamente a questão do tipo de guerrilha a desenvolver. Ora eu creio que esta questão não era, de forma nenhuma, coisa sem importância. Era uma questão fundamental. O que não tira importância aos outros aspectos que o Cabrita levanta no seu artigo nem, de facto, os contradiz.
Mas qual era a divergência entre Mondlane e o Che? O Guevara aprendeu a fazer guerrilha em Cuba e, depois da vitória dos guerrilheiros, sistematizou a sua experiência num livro, que eu devo ter para aí em qualquer lado. Era a teoria do foco guerrilheiro. Segundo ele a guerrilha devia conseguir intalar-se numa parte da área a libertar e depois, a partir de lá, ir libertando o resto do território. No caso cubanbo o foco teria sido a Sierra Maestra. Depois disso ele procurou transferir esta teoria do foco para áreas muito maiores. Quando morreu, na Bolívia, a ideia era conquistar o poder naquele país e, a partir dele, exportar a revolução para os vários países vizinhos com quem a Bolívia tem fronteiras. Ora foi isso, também, o que veio propor em África. Aqui o foco seria no Congo e todos os movimentos de libertação deveriam apoiar os congoleses até conquistarem o poder naquele país e, depois, dele partiriam para a libertação dos vizinhos. Isso implicaria, se bem percebo, que a Frelimo deixasse de lutar em Moçambique e fosse reforçar o contingente no Congo. Só depois deste libertado se passaria para outros e, um dia, se chegaria a Moçambique.
E, ao que sei, foi a isto que Mondlane se opôs, defendendo que a luta da Frelimo era dentro de Moçambique, para libertar os moçambicanos, e não no Congo. Se houve tudo o mais que o Cabrita afirma, não sei, mas diria que uma coisa pode não contradizer a outra mas apenas complementarem-se.
[Entretanto] Muito se tem falado da ligação de Mondlane aos Estados Unidos, mas ainda não vi nada que me convencesse de que a ligação era institucional, com o governo americano, e não meramente afectiva com o país de origem da mulher e onde estudou. Mas um facto é que, no final da sua vida, ele declarou numa entrevista que a Frelimo estava cada vez mais socialista, um socialismo do tipo marxista-leninista. De qualquer forma, o artigo do Cabrita traz mais dados para a compreensão dessa época, o que é bom."
jpt