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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
[Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump, Editorial Caminho, 2003]
Um livro ofertada por uma mais-nova que muito tenho em conta, embrulhado em elogios. Depois de lido uma breve ronda pelos blogs literários (via google). A deixar-me a desilusão, se tantos concordam com o génio coube-me a mim a triste realidade de não o saber reconhecer.
"Mas claro que o corpo não é uma coisa Ocidental. Claro que o corpo não foi inventado no Ocidente, embora no Ocidente se possa pensar nisso. Inventaram tudo: as máquinas, as ideias, a linguagem, por que não inventaram também o corpo? Mas o corpo de Klaus, com as suas mãos nos bolsos, não era um corpo Ocidental. Era um corpo de homem." (101) - não, não é um mero pormenor, num livro centrado em devastações de corpos e elaborações sensoriais. É um pormaior de lugar comum. Será o génio do lugar comum, porventura, mas francamente o caroço pueril está lá todo. Intacto.
Má-disposição deste leitor? "Os jornais, por via das notícias, produzem um barulho fixo. Um barulho que se mantém enquanto alguém o lê. Mas na notícia acontece isto: os sofrimentos individuais e as alegrias íntimas desaparecem, tudo se torna propriedade colectiva: o jornal como teoria geral da inexistência do indivíduo. Só existe pessoa-acontecimento se existir pessoa-espectador: a privacidade absoluta, verdadeira, a individualidade pura, não são acontecimentos, são não-acontecimentos, isto é, à letra: a individualidade (a de zero espectadores) não acontece. Quase que se poderia afirmar que a existência individual e privada será uma invenção, precisamente, individual. Como provar a existência de momentos puramente íntimos, não testemunhados por ninguém, a não ser pela consciência do próprio? Não podemos provar, só acreditar. Acredito que o outro existe enquanto indivíduo, acredito: crença; não sei: não é um conhecimento." (115).
Sobrinha, estou mesmo tio velho. Francamente. Não chega isto.