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Memórias de um tempo colonial

por jpt, em 16.02.10

No Entre as Brumas da Memória Joana Lopes deixa duas notas das suas memórias sobre o Moçambique colonial: o seu padrinho Karel Pott e as Marchas Populares de Lourenço Marques.

jpt

publicado às 23:58


14 comentários

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De ABM a 17.02.2010 às 16:06

Na minha opinião, e muito preliminarmente, gostava de deixar registado que o Dr. Karel Pott não foi uma pessoa qualquer. Mas ainda não estudei a questão a sério. Um homem mulato, o que nas tricas raciais da época não era assunto de omitir, foi um atleta e um advogado de destaque na Lourenço Marques colonial. Com Gentil dos Santos, que também era mulato, e ambos de Moçambique, (se bem que sobre Gentil dos Santos saiba menos), integraram a comitiva olímpica que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de 1924 em Paris, em atletismo.

O Dr. Karel Pott era filho de Gerard Pott (1857-1927) um holandês abastado que já estava em LM em 1890 e que foi um dos pilares da construção de Lourenço Marques (e logo, de Maputo). Para além dos Avenida Buildings na esquina da Av. 25 de Setembro com a Samora Machel terem sido seus, a sua casa particular era o que é actualmente o edifício do Supremo Tribunal de Justiça, sendo os jardins dessa casa o actual Jardim do Tunduru. Os Jardins foram adquiridos para constituírem o então Jardim Vasco da Gama, um dos melhores jardins botânicos em África. A casa foi adquirida pelo governo colonial em 1914, tendo sido primeiro um museu provincial, e mais tarde tribunal da relação. Gerard Pott foi durante alguns anos simultaneamente cônsul holandês e da república Sul Africaner (Transvaal, que hoje é essencialmente o Mpumalanga e Gauteng) até esta ter sido conquistada pelo Reino Unido e integrada na União Sul-Africana na sequência da Guerra Boer, em fins de 1900.

Numa entrevista que li, o Sr. José Craveirinha, grande poeta, apoiante do desporto e um rconhecido nacionalista moçambicano, ele especificamente refere ter sido Karel Pott uma das suas musas inspiradoras.

Em 1918 os irmãos Albasini, Estácio Dias e Karel Pott fundaram "O Brado Africano", a primeira publicação em que José Craveirinha refere ter colaborado juntamente com Noémia de Sousa, Rui Nogar, Ricardo Rangel e Fonseca Amaral, entre outros - e na qual Rui de Noronha foi chefe da redacção. Numa entrevista a Omar Thomaz, Rita Chaves e Cris Bierrembach, tinha o Sr. José Craveirinha 75 anos de idade, ele situa o Dr. Karel Pott: "(ele) foi uma referência muito forte na minha vida, citava muitos exemplos do desporto para valorizar a nossa luta. Ele costuma citar, para além do Joe Louis, o Jesse Owens. Eram homens que sabiam ganhar. E ele próprio praticou o desporto, foi o primeiro moçambicano a ir aos jogos olímpicos. Ele praticava ateltismo e, em 1924, quando chega a Portugal, ganha e é incluído na equipe que Portugal levaria aos Jogos Olímpicos."

Karel Pott, com os Albasinis, frequentavam e participaram nas actividades da Associação Africana.

Na entrevista do Sr. Craveirinha, ele refere ainda: "O Dr. Karel Pott foi um homem notável. Nos seus discuros, enfatizava a questão da africanidade. Levantava argumentos ligados a isso, que, depois, se chamou Negritude. Foi o primeiro advogado mulato [em Moçambique]. E causou grande impacto na cidade quando voltou de Portugal [onde cursou advocacia]. O pai dele era o cônsul da Holanda aqui, e era um comerciante muito rico, dono de muitas propriedades aqui na cidade. A mãe era uma senhora negra, que usava capulanas. Pois quando ele regressou a Lourenço Marques, por volta de 1940, foi buscar a mãe num descapotável. E deu uma volta à cidade, tendo essa senhora de capulana ao seu lado. Causou um grande escândalo. A cidade entendeu aquilo como uma provocação."
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De Joana Lopes a 18.02.2010 às 18:32

Para além de agradecer os links ao jpt, venho dizer ao ABM que, embora tenha prometido um novo post sobre Karel Pott, ele já sabe mais do que eu... Mas tentarei...
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De paulo gentil santos a 21.02.2010 às 12:31

Estimados JPT e ABM

Para saberem mais sobre Karel Pott e porque nao sobre o seu irmao Wilhem Gerad Pott tambem ele advogado, ha boas fontes em Maputo, sendo uma delas a senhora Geradine Pott Fornasini (que tem em sua casa uma foto ddo Dr Karel e de Gentil dos Santos).
Mas vou dar mais pormenores ao JPT aqui em Maputo e apresentar outras fontes (Winky Roberts etc) que conheceram e privaram com a Familia Pott.

Quanto a Gentil dos Santos, nasceu a 19 de Maio de 1899 em Bolama, filho de mae guineense e pai portugues.

Por volta de 1917 vai para Lisboa prosseguir os estudos. Matricula-se em veterinaria curso que frequentou ate ao 2 ano.

Meu pai representou o CIF (Club International Football) que segundo a imprensa da epoca tinha a hegemonia do atletismo a nivel de Lisboa; transcrevo extractos retirados de artigos que encontrei recentemente ao pesquisar a historia do atletismo portugues;
" O ATLETISMO E A HEGEMONIA DO CIF"!
No campeonato do S.L.B. de 1922, o CIF continuava a afirmar-se como a equipa mais poderosa do atletismo nacional, com vários recordistas nacionais. Destaques especiais para Gentil Santos nas provas de velocidade (100m e 200m);

....nessa mesma competição de 100 metros, realizada no campo do Cojo (e socorrendo-nos ainda do apreciado jornalista João Sarabando), o Dr. Luís Regala, ilustre aveirense de renome, terá dado bastante luta a Gentil dos Santos.
Mas terá sido o único, porque dos restantes não reza a história.

Julga-se que estas provas terão tido lugar em 11 de Novembro de 1923, conforme o jornal "O Democrata", que refere "todas as outras provas sportivas realizadas nesse dia foram muito apreciadas e aplaudidas". A principal prova era "um jogo de football entre o Galitos e o Atlético C.A., que foi arbitrado por Gentil dos Santos, do CIF (Lisboa)", que também seria categorizado árbitro de futebol. E terá sido nesse dia, aproveitando a sua presença para a arbitragem, que o recordista nacional de então fez a sua prova de 100 metros contra "desconhecidos" aveirenses

...... celebrou o primeiro encontro internacional em Madrid 1º Espanha – Portugal em 1925, sendo chefe da equipa nacional o Sr. Gentil dos Santos.

Em 1924 meu pai participou nos jogos olimpicos de Paris.
Hoje foi um cheirinho, trarei scanados os resultados de Gentil dos Santos entre 1922 e 1924
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De anónimo a 12.01.2019 às 21:17

A História do seu pai é extraordinária e merece ser contada. Descobri hoje a existência dele ao revisitar os resultados do JO de 1924, numa rápida pequisa no google encontrei diversas referências ao seu pai em periódicos da época como a Ilustração Portuguesa.
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De ABM a 24.02.2010 às 07:59

D Joana Lopes

Olhe que não sei muito mas acho que ele merece uma notação pública. Eu pressinto que ele tem no mínimo direito a uma nota de rodapé na História de Moçambique. O longo percurso para a independência não se esgota com os poemas de Noémia, a liderança de Mondlane ou a guerrilha da Frelimo. Houve todo um contexto de debate de ideias, de confrontações, de constatações que devem ser contextualizados. Karel Pott, a julgar pelo pouco que li, fez parte desse processo. Isso é mais do que claro pelas afirmações do Sr. José Craveirinha.

Para além de que ele parece ter sido uma pessoa interessante e invulgar para os tempos em que viveu.
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De Joana Lopes a 24.02.2010 às 13:50

Tem toda a razão ABM e eu já sugeri que um «estudioso» da História moçambicana deveria pegar no assunto, até academicamente.
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De Joana Lopes a 25.02.2010 às 20:23

Acaba de me aparecer no Facebook um neto do Karel Pott!
Talvez se chegue a mais coisas.
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De ABM a 25.02.2010 às 20:48

D Joana

Deus é grande.

Sff fazer interrogatório cerrado à família, com detalhes e fotografias e depois informar aqui a plateia...
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De Joana Lopes a 25.02.2010 às 21:12

Já me disse que é filho da mulher africana e não da Suzy nem do Berty. Saberei mais.
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De Joana Lopes a 25.02.2010 às 21:14

Queria dizer «neto» da mulher africana de KP- não é portanto filho nem da Suzy nem do Berty.
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De Joana Lopes a 26.03.2010 às 12:43

Já agora:
Um sobrinho de KP enviou-me fotos e mais alguma informação que pus aqui:
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2010/03/de-novo-nas-origens.html

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