De ABM a 17.02.2010 às 16:06
Na minha opinião, e muito preliminarmente, gostava de deixar registado que o Dr. Karel Pott não foi uma pessoa qualquer. Mas ainda não estudei a questão a sério. Um homem mulato, o que nas tricas raciais da época não era assunto de omitir, foi um atleta e um advogado de destaque na Lourenço Marques colonial. Com Gentil dos Santos, que também era mulato, e ambos de Moçambique, (se bem que sobre Gentil dos Santos saiba menos), integraram a comitiva olímpica que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de 1924 em Paris, em atletismo.
O Dr. Karel Pott era filho de Gerard Pott (1857-1927) um holandês abastado que já estava em LM em 1890 e que foi um dos pilares da construção de Lourenço Marques (e logo, de Maputo). Para além dos Avenida Buildings na esquina da Av. 25 de Setembro com a Samora Machel terem sido seus, a sua casa particular era o que é actualmente o edifício do Supremo Tribunal de Justiça, sendo os jardins dessa casa o actual Jardim do Tunduru. Os Jardins foram adquiridos para constituírem o então Jardim Vasco da Gama, um dos melhores jardins botânicos em África. A casa foi adquirida pelo governo colonial em 1914, tendo sido primeiro um museu provincial, e mais tarde tribunal da relação. Gerard Pott foi durante alguns anos simultaneamente cônsul holandês e da república Sul Africaner (Transvaal, que hoje é essencialmente o Mpumalanga e Gauteng) até esta ter sido conquistada pelo Reino Unido e integrada na União Sul-Africana na sequência da Guerra Boer, em fins de 1900.
Numa entrevista que li, o Sr. José Craveirinha, grande poeta, apoiante do desporto e um rconhecido nacionalista moçambicano, ele especificamente refere ter sido Karel Pott uma das suas musas inspiradoras.
Em 1918 os irmãos Albasini, Estácio Dias e Karel Pott fundaram "O Brado Africano", a primeira publicação em que José Craveirinha refere ter colaborado juntamente com Noémia de Sousa, Rui Nogar, Ricardo Rangel e Fonseca Amaral, entre outros - e na qual Rui de Noronha foi chefe da redacção. Numa entrevista a Omar Thomaz, Rita Chaves e Cris Bierrembach, tinha o Sr. José Craveirinha 75 anos de idade, ele situa o Dr. Karel Pott: "(ele) foi uma referência muito forte na minha vida, citava muitos exemplos do desporto para valorizar a nossa luta. Ele costuma citar, para além do Joe Louis, o Jesse Owens. Eram homens que sabiam ganhar. E ele próprio praticou o desporto, foi o primeiro moçambicano a ir aos jogos olímpicos. Ele praticava ateltismo e, em 1924, quando chega a Portugal, ganha e é incluído na equipe que Portugal levaria aos Jogos Olímpicos."
Karel Pott, com os Albasinis, frequentavam e participaram nas actividades da Associação Africana.
Na entrevista do Sr. Craveirinha, ele refere ainda: "O Dr. Karel Pott foi um homem notável. Nos seus discuros, enfatizava a questão da africanidade. Levantava argumentos ligados a isso, que, depois, se chamou Negritude. Foi o primeiro advogado mulato [em Moçambique]. E causou grande impacto na cidade quando voltou de Portugal [onde cursou advocacia]. O pai dele era o cônsul da Holanda aqui, e era um comerciante muito rico, dono de muitas propriedades aqui na cidade. A mãe era uma senhora negra, que usava capulanas. Pois quando ele regressou a Lourenço Marques, por volta de 1940, foi buscar a mãe num descapotável. E deu uma volta à cidade, tendo essa senhora de capulana ao seu lado. Causou um grande escândalo. A cidade entendeu aquilo como uma provocação."