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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
E o recente livro "Fábulas de Cabo Delgado" com imagens de Matias Ntundu, o célebre xilogravador de Cabo Delgado, acordou na estante este pequeno opúsculo que acompanhou uma exposição em Maputo, no longínquo 1982, do trabalho de Maya Zucher (a capa reproduz a sua xilogravura "Luz e Força"). Esta foi uma artista suíça que trabalhou em Moçambique sob os auspícios da Associação de Amizade Franco-Moçambicana desde 1979, tendo desenvolvido trabalhos de activismo cultural ( introdução e desenvolvimento de tapeçaria e xilogravura) em Cabo Delgado, Zambézia e Nampula. E foi nesse âmbito que se registou a iniciação da técnica da xilogravura nas cooperativas artísticas do Cabo Delgado - e é desse processo, bem como da sua articulação com a arte (então militante) da artista que o opúsculo trata. Conta com um texto introdutório de Eugénio de Lemos e Malangatana (muito provavelmente um dos iniciais textos comuns que viriam a tornar-se conhecidos sob o pseudónimo Rhandzarte) e com uma explanação da própria sobre o processo de ensino artístico, ligado à produção do "Homem Novo" - também por esse testemunho o texto surge hoje, na sua candura, como um documento interessantíssimo ainda que breve.
Mas para além disso traz-nos esta memória sobre o começo de uma prática artística que veio a tornar-se algo conhecida no país, em particular através da obra de Matias Ntundu e seus vizinhos artistas da aldeia de Nanbimba. Aqui deixo duas imagens particularmente significativas desse processo de transferência tecnológica, memória dos participantes e uma das primeiras xilogravuras moçambicanas.
"Os cooperativistas Leonardo Mário e José Tangawizi da Aldeia Comunal Nandimba, imprimindo as suas primeiras xilogravuras em Janeiro de 1982"
"A Terceira Xilogravura feita por Matias Ntundu Mzaanhoka - 1982"
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