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Um excelente texto da historiadora Ana Cristina Nogueira da Silva (ACNS), Fotografando o Mundo Colonial Africano. É um texto académico (no jargão "paper") que pode afastar alguns leitores mais atreitos ao registo blog, mas mais do que justifica a sua leitura. Trata-se de uma bela análise dos processos intelectuais presentes na iconografia produzida no tempo colonial sobre as colónias africanas, tomando como exemplo os álbuns produzidos por Santos Rufino na década de 1920 sobre Moçambique. ACNS aborda, com clareza, os estereótipos sobre a natureza e sobre as populações que estão presentes / e são produzidos no acto de fotografar, bem como os propósitos (conscientes ou inconscientes) de índole política que estavam presentes no formato descritivo de então. Se interessante para quem tem apreço pela historiografia é um texto também fundamental para quem aprecia (e reproduz) as galerias de "postais" e "fotografias" de um tempo particular. Para pensar como se pensava, para ver como se via. E como se pensa e vê, em tantos casos.

jpt

publicado às 11:32


8 comentários

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De ABM a 20.02.2010 às 03:16

Falando como membro acreditado e com quotas em dia da Associação dos Donos dos Álbuns do Santos Rufino, gostava de tecer alguns comentários que penso poderão ser do interesse do JPT, da Ana Cristina (AC) e de mais alguns exmos leitores eventualmente mais ou menos aficionados à Iconografia Moçambicana.

Li atentamente todas e cada linha (incluindo as 46 notas de rodapé) das interessantíssimas considerações de AC sobre os dez álbuns de Santos Rufino, publicados em 1929, e em que AC essencialmente diz o que é que acha que aquilo tudo quer dizer, sustentando-se em conhecidas obras de cariz sociológico-etnográfico-político sobre o sempre incontornável tópico colonial. Tirando os longos (looongos) parágrafos e uma única gralha, é quase sublime, especialmente para quem como eu conhece esta obra de trás para a frente.

Conhecendo bem como conheço os Álbuns SR, e sendo alguém que está situado no mundo de hoje e daquela altura, a maior parte do que AC refere é, até certo ponto, a verdade de La Palisse, se bem que neste caso a diferença na argumentação é como diferenciar uma gravação analógica de uma digital: está bem escrito e tecnicamente está muito mais apurado e fiel ao que se pode esperar de uma análise iconográfica e sociológica de qualquer trabalho deste tipo (em 1928), elaborada em 2009.

Mas tem algumas pequenas falhas e omissões. E vou-lhe dizer quais são.

A primeira falha é numa certa falta de contextualização do que é que aquilo foi (os álbuns, isto é), como é que surgem, e para que serviram. Não é que eu saiba muito mais, mas parece que (só) um bocadinho mais, que a AC. Que tentarei partilhar aqui.

Ao que sei, Santos Rufino não era nem um ideólogo da colonização nem se lhe conhecem posicionamentos políticos. Era um português, branco, que ali rumou em busca de oportunidades. Naquela altura tinha um negócio de papelaria e de fotografia e (acredito que) fez os livros para ganhar dinheiro. Mais nada. Portanto não lhe atribuo desígnio algum senão o de tentar vender nada mais que o que lhe trouxesse algum dinheiro.

Assim, a mundividência que AC identifica, e com a maior parte da qual concordo, quando muito, reflecte o padrão publicamente aceitável no fim dos anos 20 do século passado, com o ocasional tique dos tais três senhores que AC menciona.

Tanto quanto sei os álbuns não foram um êxito comercial. Quando comprei o meu primeiro álbum, o Nº2, sobre a cidade de Lourenço Marques, tinha 11 anos (portanto 1971)e comprei-o por tuta e meia (12$50, na altura dizia-se "doze e quinhentos) numa loja de quinquilharias dum senhor muito curioso que ficava a 50 metros da estação dos caminhos de ferro na baixa de LM. Na altura ele tinha num canto da loja montanhas dos álbuns contra a parede e era um ver se te avias. Ora isto foi quarenta anos depois da sua publicação.

O que não foi grande problema. Por volta dos anos 40 e 50 Santos Rufino era um dos homens mais ricos da cidade. A fonte da sua riqueza aparentemente residia no facto que ele era o "Mr. Lotaria", ou seja, ele tinha o monopólio das apostas mútuas em Moçambique. Ironicamente, a razão por que ele é mais conhecido hoje - os álbuns - na verdade parecem ter sido pouco mais que um fait-divers da sua vida.

Santos Rufino teve um filho e uma filha. O filho mais velho era mulato (estas peculiaridades têm que ser mencionadas pois no contexto da altura eram referenciáveis e portanto continuando) ou seja, de uma relação com uma sra. negra, mas ele depois teve uma filha branca (de uma senhora branca). A ambos assegurou uma boa educação se bem que o filho, que tinha a formação de professor primário, nunca exerceu essa função, tendo sido sempre o seu braço direito nos negócios. A filha, Helena, estudou no Boksburg Convent School for Girls, perto de Joanesburgo, e mais tarde casou-se com o celebrérrimo Dr. Reis Costa. Creio que ela ainda é viva e reside em Cascais.

AC não menciona que, praticamente desde que abriu a linha dos caminhos de ferro de Lourenço Marques para Pretória (bem, foi mais ao contrário mas enfim) em Julho de 1895, LM passou também a ser uma importantíssima rota do circuito de negócios e de lazer do hinterland sul-africano. As pessoas iam e vinham da África do Sul e de todos os pontos do mundo para LM, que se tornou quase uma Las Vegas para quem viveu no riquíssimo e extremamente rígido (moralmente, socialmente, racialmente, religiosamente, sexualmente) eixo de Pretória-Joanesburgo-Blomfontein. Para além dos negócios, do lazer, da praia, de uma cidade de sonho, virada para o mar e com aquela estranha mistura latino-tropical tão exótica para os boers e anglos, mas também tão pouco portuguesa (aspecto que rotineiramente é descontado, não entendo porquê) LM tinha muitos hotéis, desportos, boa comida, casinos (o Casino Belo e o Casino Costa ficavam na rua Araújo, mesmo à frente à estação dos caminhos de ferro e semanalmente o Blue Train vinha da África do Sul repleto de turistas cheios de dinheiro e que o gastavam na cidade) e prostíbulos, salas de dança, orquestra e até a então única casa de ópera na África sub-sahariana, o Varietá.

Assim, AC verá que a promoção da cidade de da região circundante como pólo de atracção turística foi desde muito cedo uma preocupação dos senhores que mandavam. Várias acções, de que destaco a edificação do Hotel Polana, a que me referi há dias, mas várias outras atracções da cidade, como o Jardim Vasco da Gama, serviam tanto para encantar quem vivia na cidade como para arrebatar quem a visitasse. A promoção de Lourenço Marques na África do Sul era um negócio sério e na cidade fazia-se um negócio muito bom a produzir postais fotográficos - e também álbuns fotográficos, que se tornou uma moda de então. Eu que não ligo muito ao assunto tenho em casa três que datam dessa altura, um publicado por J.M Lazarus, outro publicado por Spanos e Zsitsias, ambos sobre a cidade, e um terceiro, da Companhia de Moçambique, feito em 1933 para a primeira exposição colonial portuguesa, que ocorreu em 1934.

Os álbuns de Rufino destoam na medida em que excedem de longe tudo o que veio antes ou depois na dimensão e na abrangência dos tópicos.

Eram manifestamente comerciais (a publicidade era paga) e promoviam desavergonhadamente os feitos dos colonos, face à imensidão quase invisível (o céu azul contempla-nos e rodeia-nos mas não nos detemos a contemplá-lo, é mais nesse sentido que refiro) repleta de mato, da população negra que vivia na tradicional vida de susbsistência, com culturas "bárbaras" e que, como AC acho que correctamente labora, haveria um dia lá longe talvez eventualemnte, de vir a ser qualquer coisa como o protótipo ideal do branco civilizado.

O objectivo dos álbuns era promover a modernidade e a civilização importada, em que se presumo que o que já está lá está lá e estará até se puder mudar. E o agente da mudança era o colono - obviamente.

Aliás, surpreende-me que AC não tenha pesquisado os muitos textos publicados em que consistentemente os ingleses e os boers acusavam os portugueses de serem, na melhor das hipóteses, maus colonos, ou pior ainda, iguais aos seus "colonizados" - isto dito com a mais patente displicência e sem quasiquer rodeios. Acredito que a resposta dos portugueses era pô-los na ordem (aquilo não era a África do Sul) e mostrar-lhes a obra feita.

Claro que toda esta dialéctica é para mim quase caricata, e tem por vezes contornos pérfidos. Há hoje quem diga que os portugueses andaram 500 anos a explorar todos os moçambicanos (é a maior mentira), há quem diga que em 500 anos não fizeram nada em Moçambique (também não exageremos), há quem diga que se Moçambique tivesse sido colonizado pelos ingleses que hoje era uma África do Sul (em termos económicos), etc etc. Tudo treta. Aquilo foi uma era como outra qualquer, que começou e acabou, infelizmente um bocado tarde demais e teve que ser à porrada. A meu ver, se Portugal tivesse atempadamente saído de Moçambique não teriam havido os traumas da guerra e tudo o que se sucedeu e logo, a necessidade para estas considerações.

Mas há outra dialéctica a que já antes fiz referência e a que aqui volto a referir: na essência, o palco da confrontação colono-colonizado, branco-preto, civilizado-bárbaro, era a cidade. A cidade foi criada pelo colono e para o colono e servia o desígnio colonial. Era, para todos os efeitos práticos, a reserva do colono branco e funcionava em termos quase incompreensíveis para a maioria da população negra moçambicana, que ainda por cima não era convidada a participar no festim a não ser servir à mesa e cortar a relva do jardim. Da cidade irradiava o poder para o resto do território e a cidade era, imagino, um deslubramento total para quem vivia no mato. Isso foi mais imediatamente apercebido por não brancos familiarizados com a cidade e que viviam perto dela. E de longe foram esses os primeiros a aperceberem-se da enormidade da injustiça do sistema e da simples percepção de que havia um festim a decorrer na sua própria terra e que eles não eram convidados a participar nele, ou porque eram pretos, ou porque eram pobres, ou porque não estavam educados e capacitados para beneficiar desse desenvolvimento.

Em muitos aspectos, a luta pela independência assentou na dinâmica da inacessibilidade pelos "colonizados" à cidade e às suas oportunidades e privilégios, que acompanhou o início da maior experiência humana que África jamais teve: a urbanização das suas populações. Que na Europa ocorreu entre os séculos XVIII e XX.

E se havia em Moçambique uma cidade onde esse confronto era fulminante, era Lourenço Marques, uma cidade jovem mas com uma história fascinante, com uma arquitectura e componentes ímpares em qualquer parte do mundo e que se constituiu numa grande capital quando Moçambique se constituiu em estado independente.

Independentemente de tudo isso, é por demais óbvia a visão que havia destas coisas naqueles tempos e AC enumerou- as quase todas.

Achei muito (muito) interessante o longo e bem documentada análise da questão racial e de como funcionava a lei portuguesa na altura, e os costumes, mas acho que esse discurso é um pouco extemporâneo ao assunto dos álbuns em si. É esticar um pouco demais a corda para aquilo que eles contêm. Mas para quem não sabe pode ser interessante, ainda que um tano a resvalar para o politicamente correcto deste dias (como aquela de apontar "uma certa desconsideração sociológica da parte de quem as fotografou e editou", referente ao Vol. 10.) Pois a "desconsideração sociológica" dos fotografados era um problemazinho mundial naquela altura - não? em toda a parte, os colonialismos eram principalmente assentes nessa "desconsideração sociológica" sobre os colonizados.







Sei pouco mas Santos Rufino foi uma pessoa curiosa - mais uma da Lourenço Marques colonial.
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De jpt a 20.02.2010 às 11:58

1. não vou defender o texto, está aí para ser lido por quem quiser. Mas pode-se debater sobre ele, e até interessante fazê-lo fora do consenso académico que marca o tipo de abordagens consideradas "correctas", assim delimitando (censurando) os olhares sobre os seus produtos. Espero que a autora, se alguma vez se googlar, venha a dar com este teu comentário, que porventura lhe será útil, em particular no que respeita ao ambiente histórico, e factos biográficos, de então.

Muito rapidamente (estou a caminho da piscina) dois pontos que não podem esgotar nem o longo texto de ACNS nem o teu também longo comentário:

a) algo que considero descabido, e que vou designar como "síndrome do Quadrado de Marracuene". O texto começa assim: "No trabalho que intitulou Estados, impérios e imaginação política, Frederick Cooper [um autor bastante conhecido, é minha nota jpt] recordou, com a ajuda de muitos exemplos recolhidos em estudos historiográficos e antropológicos recentes, que falar a linguagem do Império é sempre conjugar, no que às populações colonizadas diz respeito, a incorporação e a diferenciação. Incorporação porque os Impérios foram sempre percepcionados como espaços políticos e morais ao quais pertenciam as populações nativas dos territórios que os compunham e não somente como espaços de subordinação política e de exploração económica. " - penso que começar um artigo desta forma é explicitar que se está a trabalhar sobre um objecto enquandrando-o comparativamente, em processos que não lhe são únicos, um "olhar colonial" se quiseres, e que depois terá tido realidades locais particulares (neste caso, o português, em Moçambique, nas primeiras décadas de XX). Ora o teu ditirambo contra uma desvalorização do contexto português, invocando o que designas de "problemazinho mundial" - que não seria melhor do que o português - cai assim pela base. Que me pareça o texto vai exactamente no sentido contário do que dizes: havia um olhar e concomitantes representações algo similares no mundo colonial, que se repercutem no modo de "fotografar"/"representar". Mais, o que o texto inicial (que aqui cito) refere são as modalidades de integração e de exclusão conjugadas no mundo colonial, que utilizavam vários marcadores (construídos e seleccionados, sufragados, legislados, e em processos de mutação histórica). Também aí a tua adversidade à proposta me parece próprio de quem tomou a nuvem por Juno (ou melhor tomou Juno, as suas duas faces, pela nuvem, unifacial). Como digo acima, parece-me uma defesa do "Quadrado de Marracuene" quando o único adversário é o sol forte da Macaneta, bastando creme solar e alguma sombra de árvore para nos defendermos, não precisamos de teclados-canhangulos.

b) algo mais vasto, que é a tua irritação sobre Santos Rufino como "político". Ora isso prende-se com a noção de "política", "político". Não me parece que seja defendido ou entendível que Santos Rufino, seus fotógrafos, sejam "políticos" ou que os seus albuns fossem um trabalho político (com objectivos políticos, encomendado, propaganda, etc). O que é entendível é que as formas de olhar o mundo (de o representar, de o fotografar) são imbuídas de uma concepção política, de como entendemos a "Sociedade" (a "polis", se quiseres), como nela integramos e excluímos, o que consideramos relevante ou não. SR e seus fotógrafos tinham concepções sobre o que era relevante, sobre o que era significativo, atractivo, partilhavam de uma "visão do mundo", uma visão que era "cidadã", que era social. Nesse sentido é um objecto político o que eles produziram, nao no sentido instrumental (e até talvez maquiavélico) ou programático a que quantas vezes nos referimos a "política".

Isto prende-se com o que já aqui referi, o meu relativo desconforto (que não é crítico, eu compreendo os motivos individuais, as saudades, se assim se quiser chamar) diante de todos esses blogs e sítios de imagens coloniais. Todos expressam o mesmo mundo - alguns como tu (e eu, já agora) têm um interesse estético sobre a iconografia antiga - mas a maioria reproduz "um mundo", que é um "mundo político" (nem de outra forma poderia ser) mas do qual não reconhecem a "politicidade", afirmando-o, julgando-o "natural", uma naturalidade biográfica. Mas mais do que isso são os álbuns fotográficos ou iconográficos que são recentes (alguns estão pelo ma-schamba, outros estão nas minhas (e com toda certeza nas tuas) estantes) [João Loureiro, Curado Gama, as colectâneas do Carlos Vieira - organizadas pelo seu filho e meu amigo] que não têm essa dimensão biográfica, que querem mostrar um mundo, e que mostram à evidência uma forma de entender o social de então: a bela paisagem, frondosa e às vezes luxuriante (não muito pois o Sul - local da maioria das imagens - de Moçambique não é luxuriante), as belas praias, as belas cidades, a bela arquitectura colonial, as infraestruturas "europeias" e, às vezes, muito às vezes, o africano "típico" ou seja, aquele que reproduz o estereótipo [por alguma razão escolhi esta fotografia para ilustrar este post. E olha que "The Chief and I" é um must da auto-reflexão dos antropólogos, eu até meti um texto hermético há uns anos aqui chamado "exotic-dropping", estupefacto com a perenidade deste olhar auto-afirmador e exoticizador no meio intelectual português] Mas voltando à vaca fria - já reparaste que nenhum desses álbuns tem imagens dedicadas à arquitectura africana, que nenhum retrata os processos laborais agrícolas, etc, etc.

Enfim, alongo-me, há sempre (donde, havia) uma concepção política do que é a sociedade, que é mais ou menos partilhada. E que influencia as formas de a retratar. E as fotografias históricas são um local fantástico para a analisar. Para isso, repito, convém burilar o que entendemos como "político" [não, não é apenas o engenheiro Socrates e o jsd Passos Coelho nem aquela turba esquerdalha de verve rápida e mente vã]

Vou à tal piscina.

(há uma nota "outros olhares" acho eu no ma-schamba, sobre as fotos dos tipos da Magnum sobre Portugal - tenho o livro: é notório o encanto anos 40 e 50 sobre as mulheres da Nazaré. São os tais estereótipos ...]
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De Rui M.P. a 23.02.2010 às 01:21

Desculpem chegar atrasado a esta agradável troca de impressões (é mesmo assim, impressões, para utilizar a língua portuguesa na sua pureza tão bem assumida, p.ex., por Cardoso Pires).
Conheço bem AC e o seu trabalho e quando começou a enveredar pela temática colonial (no contexto do seu doutoramento) dei-lhe a conhecer os álbuns de Rufino. Por essa altura estava eu a "percorrê-los" num blog que jpt conhece bem (Companhia de Moçambique http://www.companhiademocambique.blogspot.com.) mas que talvez ABM deconheça de todo.
A páginas tantas (em boa verdade, a meio do volume II) outras tarefas ganharam espaço na minha grelha de prioridades (doutoramento, nascimento de uma filha, novos desafios profissionais) e abandonei a empreitada.
Mas o que lá ainda está é suficiente para se perceber que toda aquela imagética - desculpa-me jpt - merece ainda uma outra abordagem, digamos que menos ... pós-colonial.
Malgré tout, relevam mesmo muito mais as preciosas informações que ABM aqui nos traz sobre Rufino, a família, a cidade, o contexto, etc, etc.

(a propósito de LM e do seu cosmopolitismo - a que se refere ABM - prepara-se aqui em Lisboa uma exposição sobre a arte africana contemporânea reunida naquelas anos 50 e 60 por Pancho Guedes. Depois darei notícia).
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De ABM a 23.02.2010 às 08:54

Sr Rui MP

Estou familiarizado com o blogue Companhia de Moçambique, que tem uma elegância e estéticas invulgares, e só lamento que tenha parado em 2005, com um pequeno "bip" em 2009.
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De Rui M.P. a 23.02.2010 às 10:49

Caro ABM,

Para além dos afazeres do quotidiano, que, acredite, são mesmo muito pesados, sou algo parcimonioso na comunicação: "falo" quando acho que tenho algo de substancial a dizer. E perante a excelência dos vossos posts aqui no Maschamba sinto-me algo constrangido.
Ouso, quando muito, avançar breves comentários. E é mesmo isso, ousadia.
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De jpt a 23.02.2010 às 18:59

RMP: a) fica-se à espera das novidades sobre a exposição; b) o corpo de post está a disposição, não apenas as catacumbas;

Quanto ao texto: longe de mim a ideia de que o texto da ACNS encerra a questão. O que eu digo é que avança ideias que são fundamentais, uma forma de ler muito interessante - e que normalmente é esquecida (o discurso "pós-colonial" será dominante em algumas franjas da academia, mas não para nós vulgares). A ACNS não é especialista em Moçambique (ao que eu saiba) e não poderia "esgotar" (ou seja mergulhar mais fundo) - e muito menos em formato "paper".

Para além disso, e eu aqui especulo, a edição do Santos Rufino é por si só um corpo quase inesgotável - não sei se haverá muitas edições da época de tamanho alcance (acredito que haja, mas desconheço-as). E justificarão por si só uma abordagem monográfica hoje em dia, para além das dicotomias que o tal "p-c" costuma trazer. A qual implicará um mergulho na história do Moçambique de então - algo que o ABM logo aqui fez questão de registar (resmungar, como é timbre ma-schambístico).

[Ó MVF, onde estão os teus tão gabados, por mim, resmungos?]
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De Rui M.P. a 23.02.2010 às 20:45

jpt,

não, em boa verdade não há nada que se assemelhe aos álbuns de Santos Rufino, não só no Moçambique colonial mas em todo o Terceiro Império Colonial Português (para recuperar uma classificação muito acertada de Gervase Clarence-Smith).
No registo iconográfico dos naturalistas do Dezoito, Alexandre Rodrigues Ferreira registou, na pena do desenho e aguarela, um levantamento algo semelhante. Entre 1782 e 1791 percorreu toda a bacia amazónica, na companhia de dois "riscadores" (desenhadores), registando a paisagem, as gentes, a flora e a fauna em centenas de desenhos aguarelados, cujo alcance e extensão encontram algum paralelo nos álbuns de fotografias de Santos Rufino.
Em 1991, no duplo centenário da "Viagem Philosóphica" do naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira (nascido em Salvador da Bahia, estudou e concluíu a sua licenciatura em História Natural em Coimbra) o governo brasileiro promoveu a reedição dos escritos e desenhos daquela expedição, a Globo realizou um documentário ("seriado documental" na expressão brasileira) em 4 episódios a partir da recriação da expedição original. Durante 9 semanas, uma equipa da TV Globo acompanhou uma expedição multidisciplinar (geógrafos, biólogos, geólogos, botânicos, antropólogos) que recriou todos os passos da expedição de 9 anos da "Viagem Philosophica" de Alexandre Rodrigues Ferreira. Integrei essa equipa multidisciplinar, na dupla condição de antropólogo e de produtor-delegado da Comissão dos Descobrimentos Portugueses, que também patrocinou a expedição.
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De jpt a 28.02.2010 às 09:49

Pois, portugueses não conheço nada. Eu colocava mesmo isto ao nível da fotografia colonial. Acredito que haja fantásticos fundos fotográficos sobre as outras colónias africanas, britânicas, belga, francesas (e até mesmo alemãs, apesar da brevidade). Mas não conheço uma colecção editada tão alargada como esta.

Quanto à publicação que referes eu estou como o ABM, pertenço à Associação de Donos de Exemplar da Viagem Philosophica. Um luxo

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