Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Um excelente texto da historiadora Ana Cristina Nogueira da Silva (ACNS), Fotografando o Mundo Colonial Africano. É um texto académico (no jargão "paper") que pode afastar alguns leitores mais atreitos ao registo blog, mas mais do que justifica a sua leitura. Trata-se de uma bela análise dos processos intelectuais presentes na iconografia produzida no tempo colonial sobre as colónias africanas, tomando como exemplo os álbuns produzidos por Santos Rufino na década de 1920 sobre Moçambique. ACNS aborda, com clareza, os estereótipos sobre a natureza e sobre as populações que estão presentes / e são produzidos no acto de fotografar, bem como os propósitos (conscientes ou inconscientes) de índole política que estavam presentes no formato descritivo de então. Se interessante para quem tem apreço pela historiografia é um texto também fundamental para quem aprecia (e reproduz) as galerias de "postais" e "fotografias" de um tempo particular. Para pensar como se pensava, para ver como se via. E como se pensa e vê, em tantos casos.

jpt

publicado às 11:32


8 comentários

Sem imagem de perfil

De Rui M.P. a 23.02.2010 às 20:45

jpt,

não, em boa verdade não há nada que se assemelhe aos álbuns de Santos Rufino, não só no Moçambique colonial mas em todo o Terceiro Império Colonial Português (para recuperar uma classificação muito acertada de Gervase Clarence-Smith).
No registo iconográfico dos naturalistas do Dezoito, Alexandre Rodrigues Ferreira registou, na pena do desenho e aguarela, um levantamento algo semelhante. Entre 1782 e 1791 percorreu toda a bacia amazónica, na companhia de dois "riscadores" (desenhadores), registando a paisagem, as gentes, a flora e a fauna em centenas de desenhos aguarelados, cujo alcance e extensão encontram algum paralelo nos álbuns de fotografias de Santos Rufino.
Em 1991, no duplo centenário da "Viagem Philosóphica" do naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira (nascido em Salvador da Bahia, estudou e concluíu a sua licenciatura em História Natural em Coimbra) o governo brasileiro promoveu a reedição dos escritos e desenhos daquela expedição, a Globo realizou um documentário ("seriado documental" na expressão brasileira) em 4 episódios a partir da recriação da expedição original. Durante 9 semanas, uma equipa da TV Globo acompanhou uma expedição multidisciplinar (geógrafos, biólogos, geólogos, botânicos, antropólogos) que recriou todos os passos da expedição de 9 anos da "Viagem Philosophica" de Alexandre Rodrigues Ferreira. Integrei essa equipa multidisciplinar, na dupla condição de antropólogo e de produtor-delegado da Comissão dos Descobrimentos Portugueses, que também patrocinou a expedição.

comentar postal



Bloguistas







Tags

Todos os Assuntos