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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Resumo a história para quem não a conheça. Recentemente a actriz Inês de Medeiros, a quem se desconhecia prática política ou publicista, foi convidada pelo Partido Socialista a candidatar-se à Assembleia da República, sendo de imediato colocada no destacado terceiro lugar da lista por Lisboa. Após a eleição gerou-se um problema, pois a nova deputada reside em Paris e solicita que lhe sejam pagas as viagens semanais casa-trabalho, o que não está regulamentado para a sua situação. Felizmente encontrou-se agora uma solução para o caso, que muito barulho tem causado, ainda que essa aparentemente seja um desenrascanço, que pouco ilustra a Assembleia.
Sublinho que nada me move contra Inês de Medeiros, a qual é com toda a certeza o parlamentar socialista com quem mais simpatizo. Mas da situação retiro dois corolários, que me parecem importantes. O primeiro estritamente político, como se vê neste exemplo típico do fariseísmo que acampou na actual partidocracia portuguesa: António Filipe, deputado do PCP [ao qual chego via 100Nada] defende a solução encontrada, reduzindo os seus adversários a populistas anti-democráticos, um "populismo mediático que considera o parlamento uma instituição indesejável e que olha para os parlamentares como uma massa de gente improdutiva a viver à custa do erário público" enquanto anuncia a "seriedade" (sua e do seu partido), que diante de "uma solução razoável e justa" decidiram pela "abstenção.". António Filipe não quer (ou não consegue) perceber que o populismo anti-democrático se alimenta exactamente deste tipo muito particular de "seriedade". E creio que os seus co-parlamentares continuam seguindo conjuntos na mesma incompreensão.
O segundo é mais importante, e na mesma acepção é ainda mais alimentador do populismo anti-parlamentar. Refere-se à causa de toda esta situação, o motivo desta súbita e meteórica aparição política de Inês de Medeiros - tão súbita que nem os detalhes logísticos foram convenientemente pensados. Uma causa estritamente ideológica. Político-ideológica, se se quiser.
É por isso que considero que as viagens de Inês de Medeiros deverão ser pagas na totalidade. Pois o trabalho paga-se. Neste caso deveria ser com o apoio de todos os partidos, que navegam o mesmo tipo de discurso. E dos votantes, que o sufragam - com mais ou menos resmungos.
Adenda: gostaria de chamar a atenção para a ruptura de valores políticos, uma nova era ideológica, acima representada (até simbolizada) pela deputada (belíssima, belíssima) Malu Mader - a ascensão da importância votada à causa do sabonete líquido. E sublinhar, já agora, o igualitarismo desta corrente de pensamento, ecuménica, expressa no último anúncio.
jpt
Nova adenda: via Meditação na Pastelaria chego à causa directa da contratação, perdão, do convite do PS a Inês de Medeiros. Num estudo encomendando pela PT, explicitamente para uso empresarial e governamental, as figuras públicas mais acarinhadas eram Luís Figo, o futebolista, e Inês de Medeiros. Figo foi contratado, recebendo apoio para acções da sua fundação - e veio a integrar a campanha socialista. Medeiros foi catapultada para o topo das listas partidárias. O populismo anti-parlamentar radica onde?
jpt