De ABM a 28.09.2009 às 23:37
Lamentavelmente, apesar de ser uma referência para mim, duvido que este excelente excelente blogue seja fonte de inspiração e decisões sobre o pessoal do MNE português. Da minha experiência, quase nada parece ser. Aquilo não é um ministério: é um mistério. E eu tenho o direito à minha opinião.
Mas se se quiser contraste, procure-se o que escrevi há uns quase trinta anos sobre o enigmático, indescritível Fernando de Castro Brandão. Que na altura foi um notado alvo dos comentários acesos que na altura pus em papel (a sua permanência como cônsul em Boston, sobre o que escreveu um oportuno livrinho, foi memorável) e que comigo começou com, em frente a uma lambuzante audiência numa recepção a que eu fora convidado na Harvard University (ainda por cima mais para comer umas sandes de borla, pois eu era um estudante remediado a tentar concluir um MBA) e a propósito de algo que eu escrevera num jornal de língua portuguesa local, o Portuguese Times, afirmara que "se os EUA fossem um país civilizado que eu certamente seria processado". Na semana seguinte diligentemente citei-o nesse jornal, mais por achar curioso aquela figura vaidosa e algo medievalista, vinda de um país de rastos a tentar sair de um atraso suporífero, e supostamente um diplomata, que não me conhecia de parte alguma, dizer uma barbaridade daquelas em território norte-americano e em público. Quando me informei sobre ele fiquei pouco impressionado, mesmo quando Francisco Knoply mais tarde acudiu solidariamente de Washington.
Apesar desse e outros episódios, Brandão continuou mui serena e alegremente a sua carreira de funcionário público. Até foi presidente do Instituto Diplomático. Ele agora acho que está na disponibilidade e deve reformar-se por limite de idade (faz 66 anos no dia 7 de Novembro de 2009 - ah a puta da idade...).
Ele foi o embaixador que, estando colocado na Venezuela e estando Caracas sob chuvas torrenciais que mataram e desgraçaram milhares de portugueses, no meio daquela calamidade meteu-se num voo da Tap para Lisboa para passar ... férias. O Ministro na altura (acho que o grande açoriano Jaime Gama, agora presidente da Assembleia da República) passou-se dos carretes e recambiou-o para Caracas no primeiro avião. Ele lá foi.
Para chatear, e apesar de uma fixação suspeita em datas, desde então tem sido escritor prolífico e tem escrito muita obra interessante, que acompanho. Ambos adoramos história, mas de ângulos completamente diferentes.
E teve os seus momentos. Ainda hoje me rio da cena que foi em 2004 na Sala dos Embaixadores entre ele e a genial Simoneta Luz Afonso, que estava no Instituto Camões, aquando de umas tomadas de posse, imortalizada numa genial "peça de um só acto" pelo Carlos Albino no seu enigmático blogue.
Ou seja: parece ser bom escritor, provavelmente um medíocre diplomata. Bom com os livros. Mau com as pessoas. Se calhar comigo apenas não teve uma segunda chance de criar uma boa primeira impressão. Mas é por causa de gente como ele que eu guardo bem guardado o meu passaporte americano, pois numa emergência lá fora eu sei que os americanos mandariam a cavalaria acudir. Com os portugueses corre-se o risco de desligarem o té-lé-lé, irem de férias ou atender um contínuo desgraçado que perguntaria "mas então o que é que quer que eu faça?"
Esta cônsul passa muito bem comigo ou sem mim. Mas do que sei, para além do que já disse, acho que numa urgência ela estaria lá para mim. Isso não há dinheiro que pague e mais importante, com gente assim até valeria a pena ser português. E gostar de sê-lo.