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por jpt, em 11.12.07
Há dois anos o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao visitou Portugal. Nessa altura Socrates incentivou o poderoso visitante a usar Portugal como intermediário nas crescentes relações sino-"palop".

Na época foram declarações que passaram mais ou menos despercebidas - que me lembre só Paulo Gorjão as ecoou. A mim ocorreu-me algo mas deixei seguir.

Não tanto sobre a auto-menorização que isto significava, deixar entender sociedade e economia portuguesas como mero "oliveira de figueira". Indicaria isso um projecto? Mas não era bem isso que se me despertou, crítica até talvez um pouco patrioteira, concedo.

O que me arrepiou nessas declarações foi o demonstrarem desatenção e até desentendimento sobre o que se passa(va): em substância ali estava uma declaração de menoridade aos Estados e economias africanas, como se estas precisando de serem tutelados na sua extroversão (erro político - que decerto não passou despercebido - e que se paga caro); e ainda uma menoridade chinesa nas suas relações internacionais (erro que se paga[rá] bem caro), tanto do ponto de vista do seu potencial económico como da sua capacidade negocial e diplomática [já agora, falam as línguas, enquanto 450 anos em Macau não foram suficientes para criar um tradição sinófila portuguesa].

Mas, fundamentalmente, significou (ou transpareceu) a desatenção para uma mudança de paradigma nas relações internacionais com África: ao invés do que agora se geme a chegada chinesa não criou a depredação ambiental (opõe-se sim aos tímidos esforços ecológicos deste início de milénio). A chegada chinesa assumiu-se como opção, e é assim entendida, ao paradigma da "cooperação" desde os anos 90s - com eles não há imposições de "condicionalidade política" ou de "boa governação" (parece que agora é "governância" ...). O multipartidarismo pode dirigir-se para o velho modelo mexicano de democracias multipartidárias de partido único e, entre outras coisas, as administrações estatais africanas não terão que seguir uma agenda burocrática estabelecida em torno das metodologias (e laboriosos procedimentos) impostas por Cotonou e as respectivas fiscalizações. Que mais pedir? E também os cientistas sociais deixam de estar prisioneiros da dificil equação (e de complexa comprovação histórica): democracia=desenvolvimento.

Pois nessa altura Portugal, pela voz do P.-M. Socrates, enquanto integra(va) o pelotão europeu, o qual neste contexto é tantas vezes conduzido pelos "puritanos" escandinavos, oferecia-se para mediar o torpedear da sua (europeia) política africana. Desatenção? Ou maquiavelismo? A história responderá.

Adenda: sobre esta questão da política europeia sobre África não resisto a citar o excelente Kontratempos. Em texto com o qual concordo em parte substancial interessa-me a sua semântica do texto: a China não está interessada no desenvolvimento, transparência ou direitos humanos em África. Algo com que concordo (enquanto dou graças pelo facto dos bancos suíços não pertencerem à União Europeia). E a China tem uma "presença tentacular" em África.

Depois rimo-nos (ou protestamos) com o Kadhafi e com o Mugabe a falarem de colonialismo e isso. Munições ofertadas por europeus, diga-se. Em particular os das boas intenções.

publicado às 10:47


1 comentário

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De Anonymous a 16.12.2007 às 20:27

é isso mesmo
Cumprimentos
Joaquim Moreira
Figueira da Foz

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