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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
De viva voz ou via electrónica notam alguma acidez neste 1/3 de ma-schamba. Prometo corrigir-me. E anuncio o primeiro bálsamo, agora em aplicação, versão enésima releitura ...
"Passado um bocado, Tom encontrou o jovem pária da vila, um rapaz chamado Huckleberry Finn, filho do bêbado da terra. Huckleberry era cordialmente desprezado e temido por todas as mães porque era um rapaz preguiçoso, desobediente, grosseiro e mau - mas sobretudo porque todas as crianças o admiravam, deliciavam-se com a sua companhia proibida e desejavam atrever-se a ser como ele. Tom, tal como todos os rapazes respeitáveis, invejava a Huckleberry a sua exuberante condição de marginalizado e tinha ordens estritas para não brincar com ele. Huckleberry estava sempre vestido com roupa de adulto, fatos que tinham sido deitados fora, esfarrapados e que já tinham ultrapassado a flor da idade. O chapéu era uma ruína com um pedaço de aba arrancado. O casaco, quando usava um, chegava-lhe quase aos calcanhares e os botões traseiros situavam-se abaixo da cintura; apenas um suspensório lhe aguentava as calças e os fundilhos destas pendiam soltos e largos por falta daquilo que deviam conter; as esfarrapadas pernas das calças arrastavam-se pela terra quando não estavam enroladas. Hucleberry ia e vinha de sua livre e espontânea vontade. Quando o tempo estava bom dormia nos degraus das casas, e quando chovia ocupava grandes barricas vazias. Não tinha de ir à escola nem à igreja, nem chamar senhor a ninguém nem sequer obedecer a quem quer que fosse; podia ir nadar ou pescar sempre que queria e ficar dentro de água durante todo o tempo que lhe apetecesse; ninguém o proibia de se meter em brigas; podia ficar acordado até às horas que quisesse; era sempre o primeiro rapaz a começar a andar descalço na Primavera e o último a calçar-se no Outono; nunca tinha de se lavar, nem vestir roupa limpa; e sabia praguejar maravilhosamente. Em resumo, aquele rapaz possuía tudo aquilo que torna a vida preciosa."
[Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer, Edições Nelson de Matos, 2009, tradução de Maria João Freire de Andrade, pp. 63-64]
Continuo a não perceber a razão de acantonarem esta(s) obra(s) na literatura juvenil. Presumo que forma de censura social para evitar a disseminação do seu carácter subversivo no seio da população adulta, perdão, eleitora.
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