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Maputo-Contrato/Maputo-Crédito

por jpt, em 08.09.10

Abaixo levantei a questão sobre "que Maputo" surgia nas abordagens em cima do momento. Discordando da topologia que surgia, ancorada na velha dicotomia caniço-cimento. Porque obscurecendo as interligações na cidade. Porque aplanando a grande cidade. Porque na prática excluindo a cidade da sua dimensão urbana. E, também, porque inexplicando.

Acontece que desde ontem as comunicações via mensagens sms provenientes de telefones que utilizam crédito foram barradas, o que não aconteceu com os telefones que funcionam com contrato. Também os cartões de crédito telefónico desapareceram da venda ambulante. O objectivo é óbvio, impedir a disseminação de mensagens que convoquem mais manifestações e/ou disseminem mensagens alarmistas ou contestatárias.

Mas esta medida, pragmática, implica o reconhecimento de uma dicotomia sociológica: a burguesia funciona com várias modalidades de contratos enquanto o crédito pré-pago (Giro, na feliz terminologia da MCEL) é utilizado pela esmagadora maioria da população. E barrar as mensagens do povo [como chamar-lhe se não há indústria nem agro-indústria que lhe permita chamar proletariado? e se o "bom tom" da "classe média" impede o correspondente "classe baixa"?] implica o reconhecimento de uma fractura sociológica entre poder e sua base.

A importância do fenómeno "celular" na última década em Moçambique é extrema. Para quem se distraia sobre isso recomendo vivamente a leitura desta excepcional série a ele dedicado, que o sociólogo Elísio Macamo nos ofereceu [IIIIIIIV V VI, VII, VIII, IX, X]. Atendendo à importância sociológica e identitária deste tipo de comunicações e considerando o reconhecimento, até o seu sublinhar, da fractura político-sociológica que esta medida significa, parece-me que ela, por mais virtuosamente pragmática que tenha sido, implica a necessidade de um curativo posterior, um religar pontes entre Estado e população, algo que em muito ultrapassará o controle dos núcleos de manifestantes. E ainda, e isto para além daquilo que são os nossos auto-limites na abordagem à política moçambicana, ficará como um símbolo do hiato entre poder e sua base, bem para além da auto-imagem unitária e nacional do partido Frelimo.

Em suma, e sem qualquer ironia fácil, parece-me que à "oposição" Maputo-cimento/Maputo-caniço se sucedeu, inopinadamente, uma oposição Maputo-contrato/Maputo-crédito. Uma bem diversa topologia social, a exigir quem a pense. Ou, como o caso de Macamo, quem a continue a pensar. Mas sempre ela, tal como a anterior, com os défices das dicotomias. Défices que são males para quem as pensa. Mas ainda maiores para quem as produz.

jpt

publicado às 00:20


7 comentários

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De Rescaldo | ma-schamba a 13.09.2010 às 19:22

[...] foi a ruptura havida no discurso do partido governamental, que ainda se vê como frente nacional, criando um hiato com a população. Factos que não me parecem apenas simbólicos, e que surgirão com repercussões, ideológicas que [...]
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[...] Blogger JPT on Ma-schamba blog observed [pt] that government officials responsible for this calculated shut-down of communications for the poor helped deepen divisions in the city, formerly divided between “cement” and “straw” — now divided by “contract” and “pre-paid”. [...]
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[...] of self-organisation behind the protests, citing French philosopher Deleuze. He later blogged about the social divisions apparent in the city of Maputo during the protests Em suma, e sem qualquer ironia fácil, parece-me que à “oposição” [...]
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[...] JPT, mpitoraka bilaogy ao amin'ny Ma-schamba dia nahamarika [pt] fa ireo manampahefana tompon'andraikitra amin'ity fanapahana ny fifandraisan-davitra vita kajikajy ity ao amin'ny  governemanta no vao mainka manampy trotraka ny fisamantsamahana eto an-tanàna, izay efa nipatitaka teo aloha ho  “simenitra”  sy  “mololo” —  ankehitriny voazaran'ny “fifanarahana” sy  “voaloa sanda mialoha”. [...]
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[...] of self-organisation behind the protests, citing French philosopher Deleuze. He later blogged about the social divisions apparent in the city of Maputo during the protests Em suma, e sem qualquer ironia fácil, parece-me que à “oposição” [...]
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[...] ブログMa-schambaは、今回の暴力の背後にある都市のダイナミクスに関する多くの説得力のある投稿を掲載している。その中にはブロガーのJPT氏がフランスの哲学者ドゥルーズを引用して、抗議行動の背後にある自己組織化の形を描写しようと試みたものがある。そしてJPT氏は、抗議行動中のマプトにおける明らかな社会の分断に関してブログで述べた。 Em suma, e sem qualquer ironia fácil, parece-me que à “oposição” Maputo-cimento/Maputo-caniço se sucedeu, inopinadamente, uma oposição Maputo-contrato/Maputo-crédito. Uma bem diversa topologia social, a exigir quem a pense. […] Mas sempre ela, tal como a anterior, com os défices das dicotomias. Défices que são males para quem as pensa. Mas ainda maiores para quem as produz. 要約すると(皮肉なしで)、マプトでセメントを用いて建てられたような家に住む人々とわらで建てられたような家(貧しい周辺地域)に住む人々の間の「対立」は、マプトで契約して携帯電話を利用する人々とプリペイド方式で携帯電話を利用する人々の間の対立となったように私には思える。非常に多岐にわたる社会的トポロジーなので、熟考が必要である。(中略)しかし、これは前者(セメント/わら)と同じくらいとても難しいトポロジーで、二項対立の欠点も大いにある。これらを考える人々にとってこの欠点はたちが悪い。しかし二項対立を生み出す人々にとってはさらに深刻だ。 [...]
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De O Jasmim Egípcio | Vakani-Vakani a 29.01.2011 às 02:58

[...] autocracias terão que entender que as bases tecnológicas actuais lhes retiraram (aos Estados) o controle da comunicação popular. E que quando para isso avançam só mostram a sua imediata fragilidade. E forçam a sua [...]

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