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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
(Bento XVI em Angola)
Há um ano o Papa Bento XVI visitou países africanos e muito mal falou sobre o Sida e os preservativos. Muito mal pois fez tábua rasa sobre os contextos interpretativos das suas palavras, ao sublinhar (mesmo que em contexto relativamente privado) a oposição da igreja católica ao uso do preservativo. As críticas sucederam-se, por parte dos anticristos do costume. E a defesa arreigada do Papa (da sua infalibilidade?) apareceu até de gente de de quem se esperaria melhor entendimento. Lembro, em contexto português, a excelência da posição de António Lobo Xavier, bem acima dos trogloditas topológicos que apenas querem berrar.
Agora o Papa refere a relativa aceitabilidade do uso dos preservativos. Que não são a solução, mas que em que alguns casos poderão e deverão ser utilizados face à doença. Era isso que então se pedia. Ponderação na utilização da palavra e compreensão quanto aos contextos da sua interpretação. Ponderação na filiação a alguns valores, que não serão os centrais da igreja. Uma coisa são os fundamentalistas irracionais que querem que a igreja católica se negue a propósito do sida (ou de qualquer outra coisa), outra será a expectativa daqueles (crentes ou não) que desejam a influente igreja católica colaborante de modo abrangente na luta contra as concepções e as práticas que fazem propagar a maldita praga.
Esta declaração papal levantando o ónus radical da utilização dos preservativos é um momento histórico (e não sendo nada especialista, acredito até que o é na história da igreja católica). Um passo importante na prevenção do sida . Que seja divulgada - e não só no seio dos católicos, já então referi o peso (até simbólico) das palavras do Papa no seio de outras confissões religiosas.
Adenda: o PPM transcreve (e em versão portuguesa) as declarações de Bento XVI sobre a utilização de preservativos. Independentemente de outro tipo de discussões quando as lemos só as podemos saudar, pensando em tantos contextos africanos onde o preservativo é considerado seja um pecado seja como arma de disseminação do sida (é necessário lembrar que parte do próprio clero católico reproduz a ideia de que o sida é invenção europeia para exterminar africanos e ocupar a terra; é necessário lembrar a crença, recorrente, de que a lubrificação dos preservativos é o agente letal de infecção). Isto tanto em contextos católicos como em cristãos como de outras confissões religiosas.
jpt