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Wikileaks on Moz

por jpt, em 09.12.10
[caption id="attachment_16444" align="aligncenter" width="450" caption="Alec Guiness como "Our Man in Maputo", filme de Carol Reed"][/caption]

Burburinho em Maputo, publicados hoje os primeiros telegramas da embaixada americana em Maputo. A Wikileaks sobre Moçambique começou a verter, já resultando em artigo no francês Le Monde. Honestamente faz lembrar O Nosso Agente em Maputo. Se é aquilo que os americanos sabem ... bem que me podiam pagar a mim e à rapaziada dos cafés da cidade que coisas mais sumarentas viriam à luz. Quanto ao resto, dei uma passagem pelas notícias de hoje da wikileaks (foi a primeira vez que abri). Secção Africana, os males de África vistos e conhecidos pela América (e a malevolência chinesa, pois "The Chinese are coming").

Não me vou debruçar muito sobre o assunto. Há imensa gente a escrever e a mentir sobre a questão, como se fosse sobre a liberdade de informação, etc. e tal. Para mais a história do wikileader dá para mau filme. O homem, australiano, é um pirata - como tal deve ser preso. Os serviços do estado (neste caso americano) não são um bem pirateável. E têm direito e dever à parcimónia informativa [se um palhaço australiano divulgar na internet o meu currículo fiscal eu não gosto, se publicar os aerogramas americanos eu gosto? Isto não tem ponta por onde se lhe pegue]. O que se trata aqui é de um dupla questão: a) voyeurismo informativo; b) demissão de cidadania.

A reclamação da liberdade de informação é uma falsidade gigantesca. Querem saber se há corrupção em Moçambique? Investiguem. Investiguem no terreno. Querem saber se há males no mundo? Investiguem. Não pilhem os serviços diplomáticos americanos - não estamos, frise-se, a referir Watergate. Nem a intervenções pré-Helsínquia (a China no Tibete, a Rússia na Hungria ou na Checoslováquia, os EUA norieguizando a torto e a direito). São serviços diplomáticos. São fundamentais, são constitucionais. Devem ser denunciados quando violam leis, regras e princípios. Devem ser protegidos quando cumprem o seu funcionamento democrático. Tudo o resto é voyeurismo.

E é também uma demissão de cidadania. O que aqui (um aqui global) se trata é o do que os americanos dizem e sabem nas suas vias diplomáticas. É isso que é usado, como substrato para reflectir ou denunciar em alguns casos, para burburinhar na maioria das vezes. É um yankee-dependentismo, para pensar, para protestar, para posicionar. Para ser. Ninguém exige as informações diplomáticas chinesas. Ou portuguesas. Ou alemãs. Ou brasileiras. Ou as marroquinas (já agora uma potência colonial vizinha de Portugal, fortemente apoiada pelos governos de Sócrates, aliada da China, nada disso verdadeiramente interessante, pelos vistos). Querem as americanas (pobres, ainda por cima) - por um lado gritam, perdigotam, os EUA como "o polícia do mundo"; por outro lado tratam-no, apelam-no, como "o polícia do mundo". Após este fluxo de revelações o que se sedimentará será a culpabilização do "americano" que tanto mal conhece e nada faz. É óbvio. (Mas se os EUA intervierem de imediato se estabelece a crítica, estrutural, da legitimidade do seu âmbito internacional).

É o terrível processo da pauperização intelectual.

Ah, voltemos ao princípio, os telegramas sobre Moçambique ... são interessantes? Eu mandei um aerograma a 11.12.2007 sobre a matéria. Nessa altura há anos que todos os cafés ouviam e diziam o que agora se agita. Por isso mesmo o poder socialista português suportado pelos serviços diplomáticos residentes fez aquele papel. Por isso mesmo. O papel que o poder socrático e o arrastado avatar neo-comunista deseja e quer. Para bem próprio. Para bem da sua barriga.

jpt

publicado às 12:22


6 comentários

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De Adeus ma-schamba | Vakani-Vakani a 02.02.2011 às 09:49

[...] Mas eu não tenho o tal ethos jornalístico e não é com ele que habito este blog. Aqui e aqui explicitei o meu desagrado com o “caso Wikileaks”, e suas articulações [...]
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De VA a 09.12.2010 às 23:29

Olha, JPT. Concordo em absoluto!!! Nos cafés sabe-se muito mais...
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De jpt a 09.12.2010 às 20:35

Espinhoso, leia antes de comentar, convém. E depois, sopesar as palavras. Foi "divulgado"?
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De espinhoso a 09.12.2010 às 19:58

Desculpe, AL, mas... é agora divulgado que o Presidente da República (Armando Guebuza) recebeu entre 35 e 50 milhões de dólares com o negócio da reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa e... a montanha pariu um rato?
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De AL a 09.12.2010 às 19:27

Muito bom JPT, na mouche como habitual. Eu que sou mais bolos diria que a montanha pariu um rato.
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[...] repercussão internacional que não referir essa publicação é absurdo. Também por isso deixei mais abaixo a ligação ao sítio que as [...]

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