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Nos Joelhos do Silêncio

por jpt, em 12.01.06

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A publicação deste "Nos Joelhos do Silêncio" de Heliodoro Baptista (Caminho, 2005) passou algo despercebida aqui em Maputo. Talvez não na Beira, a cidade do poeta, onde o livro contou com lançamento público, mas não me constou nada de semelhante na capital. Também algum silêncio mediático, vi publicado no Savana o texto de Adelino Timóteo, que constou do referido lançamento, e uma crónica muito elogiosa de Luís Carlos Patraquim (com cujas crónicas semanais tenho muitas dificuldades, por vezes até de entendimento, contrariamente ao correr da sua poesia). Talvez algo mais tenha sido ecoado, mas parece pouco para um novo livro, tantos anos depois, de um poeta (e personagem) aqui importante como HB, esse que veste os modos de poeta maldito e lenda beirense, ancorado no "Recordo o tanto mal que me fizeram / como se bebesse um misterioso vinho / Até à última gota da garrafa." [p. 78]

Certo é que o livro também não brotou. Nunca o vi nas livrarias (o meu foi comprado em Lisboa) e duvido até que tenha merecido edição local (Ndjra, a filial moçambicana da Caminho). Presumo que apenas tenha sido editado em Portugal, mera presunção. Mas se errada então a edição local foi em tão diminuta quantidade que não ultrapassou o boca-em-boca.

Eu confesso os meus problemas com a poesia de HB. Já com o

HBFolha.jpg

[Por Cima de Toda a Folha, AEMO, 1987] e com o

HBFilhaThandi.jpg[A Filha de Thandi, AEMO, 1991]

a distância notou-se-me. Neste livro que colecta poemas de décadas repete-se.

Talvez seja eu por demais sensível ao veneno desse que se diz "A língua bifurcada da cobra / de duas cabeças; esse sou eu." [p. 17]. Talvez me custe o constante diagnóstico de um tempo longo em que "...as aves já não cantam, tossem" [p.18], constante opinião que é mesmo "Registo Anistórico" ("África se entorta-se / e o ditador coça-se") [p. 50]. Talvez não seja eu deste seu mundo, onde "É de vidas que se fala aqui / e, sobretudo, de destroços humanos, / do que restou de todos nós." [p. 76]. Talvez não tenha eu a mesma moral, não me chocando tanto com a "Improvável ficção / de uma terra; um país onde até o sonho / é comprado na economia programada / dos prolíferos dumba-nengues" [p. 77], talvez não ache obrigação aos "Malangatana Ngwenha" deste mundo o "Esgrime, na defesa e no ataque, os pincéis / do teu génio e junta, na tua aringa já cercada / ... todos os outros para a festa". Sim, talvez que todo o incómodo ou, sendo franco, o des-gosto com os textos de HB seja o de eu ser de outro mundo e de lá não entrar. Talvez isso. Mas também talvez a forma. Que o conteúdo não é tudo - nem no que olhamos como documento.

E como não o sei aqui deixo deixo um belo texto, bastante elogioso, que no Insónia foi dedicado a este livro. E também uma crítica de Pires Laranjeira (Jornal de Letras, 918, 7.12.2006; tem um pequeno erro, este é não o 2º, como aí é referido, mas o 3º livro de poesia do autor), de sinal um pouco diferente, e onde me encontro mais.

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HBPL1.jpgHBPL2.jpg

HBPL3.jpgHBPL4.jpg

 

publicado às 17:40


2 comentários

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De jpt a 05.07.2008 às 17:45

JPT, obrigada pela notícia.

Publicado por: L. às janeiro 13, 2006 01:30 AM
http://www.fazendocaminho.blogspot.com/
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De anónimo a 10.05.2013 às 22:33

Mas o que interessa que o autor deste postal escreva: "uma crónica muito elogiosa de Luís Carlos Patraquim (com cujas crónicas semanais tenho muitas dificuldades, por vezes até de entendimento, contrariamente ao correr da sua poesia)."? Tanta auto-importância para tédio de quem o lê. Eu, estupidamente.

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