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Sinais dos tempos

por AL, em 04.11.15

floppy_disk_by_bokuwatensai-d7247dr.pngAs arrumações prosseguiam a bom ritmo. No fundo de um caixote espalhavam-se umas disquetes avulsas. Pega numa, vira-se para os filhos adolescentes mal começados e pergunta:

- Meninos, sabem o que é isto? ... e levanta a disquete na mão.

Olham confundidos primeiro e logo a seguir com cara de eureka! :

- Que fixe Pai! Uma impressão 3D do símbolo do save!

AL

publicado às 19:23

Sempre a brilhar

por AL, em 04.11.15

Desta vez o “nosso” Miguel Barros que continua a deslumbrar lá pelas planícies geladas do Canadá. Quem por de lá andar arredado, pode visitá-lo aqui.

 

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AL

publicado às 19:20

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Na semana passada decorreu aqui em Lisboa uma sessão comemorativa dos 40 anos de independência de Moçambique, a qual correu muito bem, várias intervenções muito interessantes. Foi na Faculdade de Letras, uma organização de Ana Paula Tavares e Fátima Mendonça, que tiveram a amabilidade de me convidar para falar. Integrei um painel com Sheila Khan, Delmar Gonçalves e Genitho Santana, dedicado às diásporas entre os países, os dois primeiros falaram de uma moçambicanidade constitutiva radicada (também) em Portugal e Santana sobre o actual processo migratório português para Moçambique. Eu estive na condição de velho, pois fora-me solicitado um depoimento como português residente de longa duração no país, e assim falei sobre a minha vida em Moçambique, algo que entendo como não diaspórico. Para isso li um texto, uma espécie de modesta fundamentação de uma intransumância identitária, atitude que penso obrigatória num antropólogo, agregada a um breve posicionamento político.

 

Quem tenha interesse em ler encontra-o clicando aqui: Depoimento nos 40 anos de independência de Moçambique.

publicado às 07:42

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Com curadoria de Alexandre Pomar [que aqui (no ponto 2. do texto) deixou uma detalhada apresentação da exposição] esta exposição apresenta 70 fotografias de 4 fotógrafos em Moçambique, de certa forma representando quatro gerações de lentes no país: Moira Forjaz, para sempre ligada às suas fotos realizadas na Ilha de Moçambique no final dos anos 1970s; José Cabral, o mais novo do "sagrado triunvirato", com Kok e Rangel; Luís Basto, o homem que emigrou a fotografia moçambicana para as novas expressões plásticas; e Filipe Branquinho, aqui o mais novo, e animador do actual tripé, com Mauro Pinto e Mário Macilau, que baseia o crescente cosmopolitismo da mais animada expressão plástica do país.

 

Para além disso a exposição inclui uma mostra de livros e catálogos e o belo filme sobre Ricardo Rangel, "Sem Flash" realizado por Bruno Z'graggen.

 

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A exposição abriu no sábado passado e estará disponível até ao próximo dia 28 de Novembro na Galeria Municipal de Arte. O cuidadoso curador deixa-nos inclusivamente o mapa para lá chegar e anuncia que "Acesso fácil, também de barco e metro (Cacilhas > paragem Almada. 0,85€)", com isto significando que os residentes do lado norte do rio Tejo não têm desculpa para não visitarem.

 

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publicado às 11:57

No feedly (41)

por jpt, em 02.11.15

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O povoamento da federação da Rodésia e da Niassalândia, no Herdeiro de Aécio.

 

- To fuck, or not to fuck, texto de Eugénio Lisboa no De Rerum Natura.

 

- 4 fotógrafos de Moçambique, no Alexandre Pomar.

 

- Elogio de John Ford, no Escrever é Triste.

 

- Condição humana, o padre António Vieira no Fio de Prumo.

 

- Omar Khayyam, no Antologia do Esquecimento.

 

- "Dois irmãos" de Milton Hatoum" (livro de que muito gostei) em banda desenhada, no Ler BD.

 

- Coisas que não estão em cima da mesa, no A Origem das Espécies.

 

- Sobre a história do século XX em Portugal, no Corta-Fitas.

 

- A rede social Tsu, no Blog da Crítica.

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publicado às 09:48

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Decerto que algumas razões, presumo que daquelas que antes se apelidavam "noblesse oblige", o mvf esqueceu-se de botar aqui que esta semana inaugurou uma exposição individual nesta Lisboa, a "Do Cais ao Cais", que estará visitável na Deleme Janelas, na Av. Miguel Bombarda, 102, até ao próximo 24 de Novembro.

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Sobre o apresentado disse ele no catálogo: "As 12 imagens da exposição "Do Cais ao Cais" são o resultado de dois passeios entre o Cais do Sodré e o Cais das Colunas com a máquina a tiracolo. Penso que o velho Albano [Albano Costa Lobo, já falecido ideólogo do curioso movimento fotográfico "The She Mouse Photo Event"] me diria no seu meio-sorriso qualquer coisa como isto: "Este gajo é lixado ...".

publicado às 06:27

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Ontem jantei com um grupo de amigos moçambicanos, uns cá residentes outros vindos de Maputo em trabalho. Comemos num restaurante moçambicano, o "Roda Viva". Excelente!. Melhor dizendo: Ex-ce-len-te!, que não há melhor do que silabar para se começar a salivar. Sublinho que todos os 8 comensais da nossa mesa eram profundos conhecedores e efectivos praticantes da gastronomia moçambicana e que a opinião foi unânime. 

 

Deliciosas chegaram a mathapa de camarão, a macouve e o caril de galinha. A xima foi sentenciada como estando "no ponto", e apresentou-se bem coadjuvada pelo arroz branco. As chamuças, vegetarianas e de carne, dignas de recomendação: belos recheios e, mais do que tudo, crocantíssimas, como mandam as regras tão esquecidas por cá. Bebeu-se 2M, cerveja moçambicana sempre de louvar. E também, para meu espanto, nipa, aguardente nacional, daquelas que escorrega tão perigosamente.

 

O serviço é jovem e simpático, sem o stress façanhudo nem os ademanes interesseiros tão correntes na capital. E os preços não são especulativos. O cabecilha do estabelecimento é Octávio Chamba, jovem quase antropólogo e também timbileiro, que muito bem avançou para este projecto, um tipo que merece todo o sucesso.

 

A casa é pequena, uns 16 lugares acolhedores, e situa-se perto "do museu", como se diria em Maputo. Ou seja, está pertíssimo do Museu do Fado, em Alfama, no Beco do Mexias, mesmo junto ao Largo do Chafariz de Dentro (aqui a sua página no Facebook).. 

 

Fica a minha recomendação, apressem-se. Corram e comam.

publicado às 09:36

Tolerância é esperança

por jpt, em 25.10.15

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A tolerância, base da democracia, é a forma nada exaltante e ainda menos exaltada da esperança. Depois de meses de furibundismo, alheio e próprio, deparo-me com este novo governo anunciado. Então é momento de tolerância, feita dessa tal esperança e até de crença, as de que o PS se ultrapasse a si mesmo (como, de certa forma, o PSD se ultrapassou nos últimos anos) e que governe o melhor possível para bem do país (o "aggiornamento" decente do tétrico "A bem da nação").

 

Isto é uma mudança de atitude, até no quotidiano. Pois se vamos ter o BE (a desde sempre "besta negra") no bloco de poder e o aceito até com desvelo, não há mais razões para radicalismos. Como tal decidi sinalizar/ festejar esta nova era de tolerância da forma mais radical possível: acabo de subscrever a Benfica TV, assim refutando os falsos hiatos que nos apartam sem verdadeiro sentido.

 

E hoje verei o United-City e depois a segunda parte do Benfica-Sporting (e no meio, noutra estação, a imperdível meia-final do mundial de râguebi, Argentina-Austrália). E que ganhem os melhores, se possível sem azares alheios (no râguebi) e sem aldrabices (no futebol). Para um bom domingo. E uma melhor segunda-feira.

 

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publicado às 11:20

As coisas a entrarem nos eixos

por jpt, em 23.10.15

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As coisas estão a entrar nos eixos, a recuperar-se a normalidade pós-eleitoral, para além dos normais desacordos em vida democrática. Símbolo disso é a eleição acontecida hoje do presidente da assembleia da república, a segunda figura do Estado. Eduardo Ferro Rodrigues, político de boa fama, de dignidade. Que decerto fará melhor, mais honrará o país, do que o seu antecessor socialista no cargo, que andou oficialmente a pedir investimentos no país às redes índicas de tráfico de heroína e de armas, sabendo muito bem a quem se dirigia.

 

Este agora homem digno, político sério e de princípios, verdadeiro símbolo do PS. Como o confirma aqui neste discurso em Outubro último (ouvir entre 1.40 e 2.45 minutos). O futuro será este, não outro.

 

 

(Daniel Carrapa, autor do excelente blog A Barriga do Arquitecto, avisou no meu mural do facebook que aqui no ma-schamba temos "ódio" e "espumamos pela boca" por razões da política portuguesa. Assumo para mim a crítica, dado que sou eu que aqui mais escrevo quantitativamente. Se calhar é verdade. Não gosto, nunca gostei, de traficantes de heroína. Nem de traficantes ilegais de armas. Nem de primeiros-ministros que enriquecem às custas do seu povo com o conhecimento dos seus camaradas dirigentes de partido. É defeito meu, pelos vistos.)

publicado às 20:28

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Vivemos momentos escaldantes, a indecisão grassa sobre quais as melhores opções. Que fazer?, a pergunta que se impõe.

 

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Argentina-Austrália, meias-finais do Mundial, domingo às 16 h.

 

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Benfica-Sporting, campeonato nacional, domingo às 17 h.

publicado às 17:30

A hipocrisia

por jpt, em 21.10.15

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 (Montepuez 1994) 

 

Em 1994-5 vivi 5 meses numa aldeia a 40 kms de Montepuez, a velha Namwenda, renomeada N'ropa após a independência, o meu primeiro trabalho em Moçambique, chegado da África do Sul. Foi uma experiência abissal para este burguesote, mesmo que já viajado. Não tanto as histórias camponesas ouvidas, que faziam parte do trabalho, sobre o ainda quase recente tempo colonial, o trabalho forçado, o imposto, a cultura forçada, a repressão, a chambucada, a prisão e a morte, narradas até já entre-sorrisos, que foram e ainda são um escarro pejado de muco na merda do lusotropicalismo que os socialistas soaristas chamaram lusofonia e que tantos patrícios ainda agitam (há hoje mais um artigo no Público sobre isso, mesmo que nesse requebro da aparência crítica do turismo universitário). E que também sempre me originam um encolher de ombros, compreensivo, nos arreigados negacionismos dos velhos colonos, saudosistas esmagados pelo drama histórico de que quase sempre foram meros peões. Nem tanto também as histórias sobre a guerra da Renamo, então ainda tão recente, aquilo dos raptados, refugiados (e tantos), de toda a desgraça acontecida. E não tanto por causa desse historial porque já lera, e bastante, sobre aquilo tudo, ainda que assim narrado de viva-voz, e só porque eu perguntava, tivesse tão mais efeito. Abissal porque rude, rudíssimo, não só no meu corpo, lesado em 28 quilos sem qualquer doença, abissal porque a partilha da morte, da doença, da pobreza radical, uma coisa inimaginável. Abissal porque nisso tudo também a partilha de tantas mais coisas, aquilo do sentir, da infinita capacidade de sermos felizes ainda assim, daquele modo.

 

Não fiquei "macua", nunca disse "a minha aldeia", não fiz "ritos de iniciação" nem me filiei como curandeiro ou chefe de tradição, não procriei por lá, não aderi às causas então ali vigentes, não me me transformei "num deles" (nem digo "eles", já agora), nunca entrei nessa pantomina folclórica tão usual entre antropólogos (e também nos missionários do desenvolvimento). Pura e simplesmente, nunca mais fui o mesmo. E sei que o meu melhor, por parco que seja, aconteceu ali entre Balama e Montepuez, o resto foi só o futuro, todo degenerativo à excepção da paternidade. Só voltei uma vez, uma década depois, como contei aqui, para perceber que não poderia voltar a voltar, não aguentaria, o tempo passara. Em suma, não fiquei "de lá". Mas, e para sempre, fiquei lá, algo de mim por lá ficou. Por  isso já pedi a amigos próximos, se eu rebentar de repente não quero isso do velório nem funeral. Dois deles que levem os restos à cremação, e que se faça um pequeno bar aberto. Depois, se ainda for necessário, apoiem a minha filha e, se houver dinheiro para isso, mandem os restos para alguém de Maputo ir ao charco de N'ropa largá-los, sem mais nada do que isso.

 

Nos finais de 2000 houve manifestação em Montepuez, congregando população do distrito. A polícia prendeu participantes, encerrando-os na cadeia da pequena cidade - edifício que conheço, pois tinha-o visitado. Nessa noite morreram 120 pessoas, asfixiadas numa cela onde tinham sido inenarravelmente confinadas. Eu sei que não foram ordens presidenciais nem do governador da província, foi um monumental sinal da insensibilidade da administração civil e policial local e também um sintoma da crispação dos tempos (que por vezes regressa). Foi um dia horroroso, que senti como amputação, desesperante. Não chorei a "minha gente" (que não o era) nem "aquela gente" (que não o era). Chorei-me, chorei-os.

 

Nesses mesmos dias em Maputo reunia-se a Internacional Socialista, então presidida por António Guterres. Sobre o assunto nem uma palavra proferiram. Joaquim Chissano foi então eleito vice-presidente da IS, coisa que a gente sabe protocolar (havia para aí 70 vice-presidentes) mas que teve efeito propagandístico interno. Estou à vontade nestas coisas: acima disse que sei que Chissano não ordenou aquilo (nem nunca o faria); e se eu fosse moçambicano seria um frelimista crítico e, mais ainda, como aqui escrevi, um chissanista. Mas naquela altura o silêncio de Guterres, ainda para mais nosso primeiro-ministro, e de todos os outros, e o sufragar do responsável político daquela catástrofe avassalou-me. Nem na altura nem depois, no circo constante de visitas governamentais e privadas (negócios) dos inúmeros políticos socialistas que cruzavam Maputo, alguém referiu o assunto. Já agora nem António Costa, também ministro, por lá em visitas ministeriais para afinal passar férias no Bazaruto, em agressão ao papel institucional que lhe cabia. Uma coisa execrável.

 

Quinze anos depois são os mesmos políticos que andam por aqui. E vejo os opinadores de esquerda, e até políticos (agora a Mariana Mortágua), muito ofendidos porque o actual governo não actua, qual Norton de Matos, com os prisioneiros em Luanda, não afronta a cleptocracia angolana, se subordina a vis interesses diplomáticos e económicos. Depois, esgotado o quinhão de solidariedade com os crioulos luso-angolanos presos de consciência (e que não se duvide: liberdade para eles, já!), toca de escrever e batalhar para meter estes socialistas (os velhos silenciosos sobre Montepuez) no poder, os gajos dos negócios austrais. Enquanto se lamenta que Guterres, esse bom estadista, não se tenha candidatado a Belém. Porque isso dos camponeses, ainda por cima mesmo pretos, que se fodam.

 

E nós também, com este lixo de gente. De "esquerda", dizem-se. Chama-se a isto hipocrisia. Imunda.

 

 

publicado às 17:05

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Os jornais anunciam o acordo para o novo governo. Uma inesperada coligação à esquerda a evocar a quase mítica "Frente Popular" francesa, até porque também brotou de uma surpreendente inflexão do partido comunista. Tenho a pior das opiniões deste partido socialista, da sua liderança, morgados do anterior guterro-socratismo e acreditei/desejei que pelo menos mais uma legislatura de oposição, ainda por cima em austeridade (estrafegando-lhe a tradicional volúpia autárquica), pudesse expurgá-lo do estatismo omnívoro que por lá medra. Mas como já botei aqui há dez dias esse governo "será totalmente legítimo e, como tal, democraticamente bem-vindo" pois "a gente vota e os partidos cujos candidatos foram eleitos negoceiam para acordar maiorias governamentais". E quem nunca o percebera que o tivesse percebido. Ponto final parágrafo. Haverá votantes no PS que não o seriam se antecipassem isto, como se brame por aí? Decerto, mas é isto a democracia representativa, a gente vota, elege representantes e eles representam até uma nova votação, nos moldes que a constituição configura. Ponto final parágrafo. Ou vamos nós aderir agora à "democracia participativa" tão cara aos radicais de esquerda, sempre lestos a presumir a vontade global (ou seja, a dos outros), depois defendendo que esta habita nas arruadas (dantes ditas manifestações) que organizam? As acções (da banca e não só) e as notas das "agências de rating" baixam, os juros sobem? Pois, mas a nossa soberania não habita nos investidores na bolsa e nos tecnocratas da burocracia financeira. Temos que nos cuidar com eles, mas isso é outra coisa. Ponto final parágrafo. 

 

O próximo futuro não  será terrível, e há muito exagero escatológico na contestação. O PCP não vai reclamar a administração das Berlengas, Selvagens e até do Corvo, para lá instalar campos de concentração para oposicionistas, bloguistas ou outros, ninguém comerá o alazão de João Núncio, e os Espírito Santo não partirão para o estrangeiro (terão, aliás, o amigo na Presidência). O BE não vai mandar massacrar o Arsenal do Alfeite nem o seu presidenciável Fazenda advogar a "reeducação" ou até o extermínio dos professores ou mesmo de qualquer alfabetizado. Os ícones e as referências teóricas desta gente fizeram isso em passados que eles continuam a glorificar, em vergonhosos revisionismos históricos negacionistas das desgraças de XX. Isso é verdade, e deve manter-nos alerta, acalentar o temor sempre necessário diante dos adeptos dos comunismos, porque tudo isso demonstra que a liberdade não lhes está no âmago. Ou seja, merecem desprezo mas não desatenção. Mas o projecto deles, agora, não é o sociocídio que os seus antepassados tanto promoveram. Os tempos mudaram imenso. Agora o projecto é apenas o apoio parlamentar a um governo virado para políticas mais estatizantes e directamente redistributivas. Isso não é dramático, poderá ser mais ou menos (socialmente) eficiente mas o país está habituado a elas, e é algo que pertence ao nosso modelo civilizacional - dantes chamava-se social-democracia e Estado-Providência, agora em tempos de twitter e poucos caracteres fundiu-se em Estado social.

 

Sobre tudo isto tem-se escrito muita coisa e pouca é interessante. O mais relevante que encontrei está num blog, este "Os nossos caça-fantasmas" no A Terceira Noite. Nele o autor - Rui Bebiano, académico que apoiou a candidatura do "Livre", partido que antecipou esta conjuntura política e que, de certa forma, por ela foi ultrapassado - aponta "a ala neoliberal e clientelar do PS", criticando-a por ser oposição a esta coligação. O interesse do texto é porque anuncia o que aí vem, a forma como se entende o PS, esse que será o governo, e como as esquerdas se relacionarão com ele. O evidente patrimonialismo que é a sua constante prática política, desgraçadamente para o país (e para as esquerdas e suas causas, note-se), é confinado num qualquer núcleo "neoliberal" (o que antes se dizia "ala direita"). O argumento é este: a malvadez clientelista está na "direita neoliberal do PS" o que conclui que os "patronos" e os "clientes" do PS (e tantos o são) são os "ala direita", um raciocínio circular que não vai a lado nenhum. E por isso não é substantivado no texto.

 

Na prática trata-se da velha reclamação da superioridade ética das esquerdas: o clientelismo (a irracionalidade económica, a injustiça social) é a "direita" (agora sloganizada "neoliberal"), assim imoral(izada). A(s) esquerda(s) - e a do PS também - nada "neoliberais" não são patrimonialistas, são éticas (com racionalidade económica e justeza social). É uma pura ficção. E anuncia o que aí vem no próximo governo. Nada de surpreendente ou terrível. Apenas mais do mesmo, que tanto conhecemos, agora com apoio mais alargado.

 

De diferente? Apenas que nos primeiros tempos a "voz popular" andará mais sossegada, surgirão menos manifestações adversas, a comunicação social apoiará ainda mais e os académicos não escreverão tanto contra o governo (pois a FCT apoiará mais projectos). Os blogs "neoliberais" ("fascistas" começar-se-á a dizer) aumentarão as suas audiências. Depois, daqui a uns anos, a gente vota outra vez. E entretanto teremos envelhecido mais um bocadito. 

 

E os gajos do PS continuarão a ser os gajos do PS. Sem alas, entenda-se. Mas a gente já os conhece. Há, até, quem neles vote.

 

 

 

publicado às 08:29

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Hoje, enquanto jantando de tabuleiro sobre os joelhos, vejo na televisão duas entrevistas políticas absolutamente decisivas, ainda que lamentavelmente coincidentes, eu no velho zapping para as acompanhar.

 

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Sobre o futuro governo uma entrevista a Paulo Portas onde devastou, até com crueldade pouco cristã, o deputado António Costa - na sequência (rescaldo, melhor dizendo) das entrevistas a Maria Luís Albuquerque e Assunção Cristas que, quais valquírias, canibalizaram o referido proto-ex-secretário-geral do ainda partido socialista. O abjecto cadáver do antigo nº 2 do "Senhor Engenheiro" (como diz o patrono da cátedra Eduardo Lourenço de quem os Varoufakos tanto gostam) José Sócrates já fede depois de tanta bordoada.

 

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E a propósito das presidenciais uma excelente "prestação" (como agora se diz a velha "performance") de Marisa Matias, a nova candidata à presidência da república. Firmeza, humildade, objectivos definidos, e também um je ne sais quoi ... Muitas das suas ideias não serão as minhas. Mas ainda assim cativou a minha adesão, ganhou, desde já, o meu voto. E não só por considerar eu que se o "eleitorado", essa molécula abstrusa, votar no prof. Sousa comprova a sua total ... moleculice. Como tal ... Marisa 2015 é já o meu lema.

publicado às 23:51

A Vera no "Público"

por jpt, em 19.10.15

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 A primeira fotografia, na praia da Amoreira, que deu origem ao projecto de Vera Azevedo

 

E assim de repente a "nossa" VA (Vera Azevedo) aparece no "Público", um bonito artigo de Marisa Soares dedicado ao projecto que a Vera está a realizar, o "Sal e Filhos - Gerações do surf na Caparica", coisa assim tipo etnohistória, deliciosa. E tem direito a duas páginas de jornal, com belas ilustrações e tudo. A gente aqui do ma-schamba ficou toda ufana, claro. Aqui transcrevo parte do artigo (o resto não tem acesso livre):

 

Vera fotografa as gerações que se cruzam nas ondas da Caparica

"Sal e Filhos - Gerações do surf na Caparica" é o projecto de uma apaixonada pela modalidade que quer retratar surfistas anónimos e os seus filhos, com quem partilham a prancha e a paixão pelo mar.

 

Um dia de sol à beira-mar na praia da Amoreira, na costa vicentina. Um grupo de amigos surfistas, pais e filhos, em calções de banho, cada um agarrado à sua prancha pousada na vertical. Uma fotografia "à havaiana", a preto e branco, tirada com a máquina analógica que Vera Azevedo herdou do pai. Nesta "brincadeira" de Verão, a actriz de formação, mestre em antropologia e apaixonada pelo surf, encontrou o mote para um projecto que visa retratar as várias gerações de surfistas da Costa da Caparica, em Almada.

Foi quando revelou o filme que percebeu o que tinha em mãos. Vera, 49 anos, vive a poucos passos da praia onde todos os dias dezenas de homens e mulheres de todas as idades tentam apanhar a melhor onda e ficar em pé na prancha enquanto deslizam sobre a água salgada. "Pensei: era giro fazer isto na Caparica pois há tantos pais e filhos que surfam juntos e tão poucos registos sobre isso." Nascia assim o projecto Sal e Filhos - Gerações do surf na Caparica, primeiro no Facebook, mas já com direito a site próprio, ainda em desenvolvimento.

 

A ligação de Vera à antropologia levou-a a querer ir além dos simples retratos, que tira sem grandes preocupações estéticas (até porque não tem qualquer formação em fotografia e ainda está a descobrir-lhe os segredos), tentando registar a história pessoal daqueles "anónimos à procura da onda perfeita". O objectivo é também "divulgar uma forma de ser e de estar muito peculiar, que alia o desporto e o meio natural", antes promovida por um "pequeno grupo de entusiastas" que "se iniciaram nesta 'coisa' das ondas nos anos 80 do século XX", mas já partilhada com a segunda geração de surfistas, os filhos, que tomaram o gosto à "imensidão de beleza que é o oceano".

Vera também se apaixonou pelas ondas. Aos 40 anos, uma amiga desafiou-a a inscrever-se num curso de surf. Praticou durante um ano até torcer o pé numtake off (o movimento rápido em que o praticante se levanta na prancha) mas nem isso a demoveu. "Passei a fazer bodyboard, todos os dias antes de ir trabalhar [faz produção técnica no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, há 20 anos] ou ao fim do dia.".

 

Desde que decidiu arrancar com o projecto, a autora fotografou seis duplas, sem contar com os amigos na praia da Amoreira. Por duplas entenda-se pais e filhos ou filhas. Segundo Vera Azevedo, não há muitas mães a surfar com as filhas, comprovando em parte o perfil-tipo do surfista português: sexo masculino, idade média de 28 anos, formação superior e profissionalmente activo. A Associação Nacional de Surfistas estima que existam cerca de 200 mil praticantes, 99% amadores.

Os alvos da máquina analógica de Vera são pessoas que conhece - "quando surfamos muitos anos num local conhecemo-nos nem que seja por partilharmos o mesmo 'pico'" - ou desconhecidos que ela aborda na praia. Ao princípio, admite, "ficam desconfiados mas depois acham a ideia gira e acedem em tirar fotos". Outros são amigos que apoiam a ideia "incondicionalmente" e até sugerem outras famílias. "Há quem me contacte através do Facebook a dizer que a ideia é genial e que gostava de ser fotografado. É bonito."

 

Enquanto revela fotografias, colecciona histórias. Sabe "episódios curiosos" de surfistas da Caparica que, na década de 1990, "se atreviam na praia do Norte na Nazaré sem logística absolutamente nenhuma e apanhavam valentes sustos". Voltavam lá mesmo assim. Conhece outros que "iam de carro pessoal para França depois de saírem do trabalho para entrarem num heat [uma fase da competição] do circuito europeu". Alguns deles, acrescenta, correram os circuitos de surf nacionais e europeus quando eram jovens e agora os filhos seguem-lhes os passos.

 

Com o Sal e Filhos, Vera Azevedo espera perceber as dinâmicas da comunidade de surfistas da Caparica, cumprindo em parte o objectivo da candidatura que fez a uma bolsa (não atribuída) da Fundação para a Ciência e Tecnologia sobre o impacto do surf nas comunidades piscatórias da Caparica, Ericeira, Peniche e Nazaré. Destas quatro, é a primeira que parece mais votada ao esquecimento, apesar de ser "surfável" durante o ano inteiro, mesmo com tempestade no mar. "A Costa da Caparica parece esquecida junto dos media e parece-me que a questão passa pelo pouco apoio autárquico mas também pela falta de divulgação das boas condições para a prática da modalidade", considera.

 

(continuação)

publicado às 12:44

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Enquanto o ziguezagueante António Costa depois do miserável resultado eleitoral da semana passada e para o  disfarçar, anda a bater a todas as portas tentando evitar o naufrágio socialista eminente do qual é o principal responsável ou, pelo menos, safar-se muito naturalmente do seu afogamento nas ondas revoltosas do lodaçal político nacional, vem uma das putativas tábuas de salvação, nem mais nem menos a excitada Exma Senhora D. Catarina Martins, líder de Bloco de Esquerda, no final de uma reunião com secretário-geral do PS, decretar que hoje acabou o governo de Passos e Portas. Minutos antes Costa tinha dito que a reunião havia sido interessante, que havia muito trabalho pela frente, mas que algum entendimento tinha sido conseguido. A D. Catarina do alto do seu metro e meio mal medido e dos seus 10% de votos recém conseguidos vai ser o reboque do desnorteado Costa e definir os destinos de Portugal?

As ossadas de Salazar na sua campa rasa do cemitério do Vimieiro ( Santa Comba Dão) agitaram-se e pensaram com as tábuas do seu caixão: Fosga-se, assim até eu...

publicado às 13:28


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